José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

18.9.22

SOMETHING is CALLING

 

DAYS ARE
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“Mais uma vez, se nos afigura que o cunho inconfundível da arte de José Alberto Mar flui naturalmente da matriz existencial do poeta, pintor – e visionário - e de uma radical liberdade do ser e do estar como assumida celebração da vida. (…)”

(Sofia Moraes)


9.9.22

um céu para ti

Pintura: J. A. M.


as aves esburacam o espaço, não propriamente ao sabor das suas asas, mas por uma vontade uníssona levadas pelo ímpeto do grande mistério da vida.

Em bando, têm 1 só espírito. Vê-se. 

Quando solitárias,
sobem
descem,
sabem, 
saboreiam, 
satisfazem o olhar de quem as contempla.

 


 

31.8.22

Conheci uma mulher num país distante

Pintura: J. A. M.

Conheci uma mulher num país distante, era bela e serena e atravessava os dias, os meses e os anos com uma candura sábia de quem sabe que 1 dia também iria morrer, como tudo o que está vivo.

No jardim, seu lugar preferido, sentada num banco de madeira, cuja cor já não se sabia. Ocupava-se a olhar as flores à volta com um vagar e o inverso de uma aparente displicência especial, para mim inteiramente incógnita, até hoje. Às vezes olhava o horizonte, às vezes levantava um pouco o rosto para o céu e aqui, era à noite que se demorava mais.

Ao lado quase sempre um livro que a brisa desfolhava quando calhava. Ela parecia ler no as palavas no ar que se evolavam das folhas. Parecia nunca usar as mãos e em vez dos braços talvez tivesse asas.

Nunca lhe perguntei nada acerca das artes destes gestos tão silenciosos como as pedras que rodeavam os canteiros. Houve alturas em que me viu olhá-la de longe estava sempre distante, no entanto eu sentia uma levíssima sensação fresca e inquietante, do lado agradável das novidades. Retrocedia para as minhas tarefas, o pincel, o papel, as telas, as cores do meu mundo.

De vez em quando, amávamo-nos através dos corpos e parcas palavras. Adivinhávamo-nos através de olhares demorados que continham tudo o que os nossos seres confirmavam.

Um dia fui ao jardim, onde era o seu lugar e não a vi. Procurei-a por todos os cantos, mas apenas vislumbrei as flores, todas as flores debruçadas sobre si próprias exalando aromas mais intensos e os frutos maduros das poucas árvores a caírem um a um.

J. A. M.


 

29.8.22

"não corras atrás das borboletas, cuida antes das tuas flores"

Pintura: J. A. M.













Alguém disse já não me recordo, pois foi num campo de batalha e o ribombar das bombas e dos seus ecos na altura, faziam-nos surdos. A outros, faziam-nos cegos. A outros ainda, faziam-nos mortos.
Mas a frase em questão, no meio daquele inferno encantou-me o lugar e por momentos caí num silêncio sem tempo, que me trouxe a casa de meus pais, longe muito longe, onde havia um jardim.
E a frase era assim: não corras atrás das borboletas, cuida antes das tuas flores que elas virão até ti (1).

Ainda hoje passados anos, por vezes em dias ou noites em que tudo parece estranhamente desolador, me acontecem imagens bem nítidas que esta frase levanta à frente do meu olhar.
E então, algo em mim se transforma e tudo à minha volta também. E um sorriso leve e doce aflora por dentro.


(1) frase atribuída, a D. Elhers, em tradução livre.

26.8.22

Exposição de Pintura: REFLEXOS da FONTE.

“Mais uma vez, se nos afigura que o cunho inconfundível da arte de José Alberto Mar flui naturalmente da matriz existencial do poeta, pintor – e visionário - e de uma radical liberdade do ser e do estar como assumida celebração da vida. (…)”

( Sofia Moraes)


( "Clube Prova D´Arte". Evento promovidado pelo Espaço QuadaSoltas )




 

19.8.22

Universos Paralelos

Pintura: J. A. M.

Escuta o silêncio. Como se fosse o mar.
Onda a onda cada pensamento é nuvem.

Voltemos ao centro. Onde gravitas como
alguém que procura
mas apenas poderás encontrar.

(2022)

10.8.22

olhos nos olhos


Obra: J. A. M. . Mulher.














tu cresces e eu cresço quando

algo cresce de novo entre nós.


Olhos nos olhos

uma desconhecida  Luz dialoga.


15.7.22

( ao artista Vadú)

 Noite. J. A. M. . 1987

 














ainda recordo algumas imagens como pétalas caídas no meu regaço estava no restaurante “Quintal da Música” com o meu amigo acontecido há pouco por ali, entre strelas (1) douradas pela luz oblíqua da porta semiaberta da entrada e saída e os dengosos funanás no palco onde a Mayra (2) se espraiava deleitosamente.
E ele entrou, fino, esbelto como um lírio estremecido pela sua íntima alegria de estar naturalmente vivo no seu gingar dançante e o meu amigo inesperadamente levantou-se assaltou-o na dança e apresentou-me: este é o não-sei-quê.
Levantei-me a pesar a repentina gravidade do momento e a que existe em todo este mundo de deus, mas a leveza que me acompanhou logo me surpreendeu e quando olhos nos olhos enlaçámos as mãos eu vi ali um ser raro mesmo à minha frente daqueles que já ganhei o dia embora neste agora quase já fosse noite.

 “Lá Fora” (3) no surpreendente mundo das pessoas tudo parecia continuar a ser igual.

Quando a altas horas consegui descer de tudo aquilo, pois nestas farras a fraternidade por estas bandas é imensa e onda a onda neste mar tudo se demorna já os meus amigos no veículo estavam à espera numa achada (4) próxima.
Levantei as asas possíveis com tais companhias é sempre fácil e logo estávamos a viajar entre tantas estrelas à mão de semear que nem vos conto.

 

1. cerveja caboverdiana.

2. Mayra Andrade. Cantora.

3. título de canção de Vadú.

4. planalto de origem vulcânica.


 Nota: texto alusivo ao cantor Vadú(1977-2010)

 

(in, Livro de contos “O OURO BREVE DOS DIAS”, 2021)

~ J. A. M. ~


9.7.22

Declamação de poema

J. A. M. - "EspaçoQ/ quadraSoltas". Porto ( 7-7-22)














VOZES COMUNICANTES


Às pessoas nómadas, nos corpos e nas almas
um beijo indelével no rosto ausente
intervalo onde tocamos juntos
a íntima unidade no coração das coisas.

Sobre as infindáveis ciências dos homens
pousamos a luz urgente de outros olhos
desce sobre nós
a lucidez dos universos vivos.



inO Triângulo de Ouro - Editora Justiça e Paz.1988.
(Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores.1987)


P.S. Dedicado a António Ramos Rosa e a todos os Amigos ausentes e presentes.


 

3.7.22

enquanto as palavras são sombras na frescura do Verão

self

 

Enquanto as palavras são sombras na frescura do Verão e as flores parecem sempre adormecidas pelos prados e as nuvens altas viajam em formas só delas, como te dizer os muitos nomes deste espanto?
Como te dizer que tudo isto é, um outro Todo já incluído em ti?

A nossa vida, o incógnito milagre sempre longe sempre em nós, onde há demónios e deuses, montanhas e vales, dores e alegrias, por dentro e por fora, e o nosso olhar se apaga no final dos dias.
De um lado continuamos a dormir lençóis de sonos, por outros lados e cheios de vida colhemos visões em outros mundos que são nossos parceiros, enquanto Deus agita os seus 1001 braços nas suas mãos imensas alongadas em dedos luminosos por toda a ilusória escuridão sem fim.

( J. A. M. )

27.6.22

há outras distâncias outras disciplinas

Pintura: J. A. M.


(…)depois, também há outras distâncias outras disciplinas: a respiração ritmada no peito ao som dos longínquos tambores celestes não são perto nem longínquas as estrelas como agora as gotas de chuva hipnotizadas nos vidros das janelas.
Ainda que todas as luzes respirem só por dentro, acontece ás vezes a dor de ser humano alisada como um lençol sobre os joelhos, com o olhar preso à vastidão das pequenas ondas visíveis.
Ao olharmos para o mar sentimos como tudo isto é uma parte de nós mesmos.

 

21.6.22

( a um amigo pintor)

Pintura. "O Centro". J. A. M. 

 

É alguém que procura. Vinte e tal anos, uma água no corpo agitada em marés, a enorme quantidade de animais lá dentro uns em matilha outros solitários e secretos, outros ferozes outros mansos, com 4 patas a correrem solenes pelas paredes interiores e a desaguarem nas pinturas.

No meio de tantas ilhas uma súbita inspiração: haverá um desígnio para mim? Qual o voo que por vezes acorda uma espécie de suspeita muito íntima que me anuncia sem nomes? Qual a fonte destas inquietas descobertas?

Entretanto os dias atropelam-se, as noites longas possibilitadas pelos corpos que recusam o sono, os amigos que se aproximam e se afastam, a indefinível energia que dá movimento a tudo.

Se houvesse uma voz bem clara que gritasse no meio da noite, podia acontecer um tremendo pavor ou uma paz impossível. Com vinte e tal anos tais milagres são passíveis, e fugazes: demasiadas vozes descem juntas porque há sempre um vaso de luz aberto às novidades. É este vaso que transportamos pela vida a fora.

E, é assim a caminhada até 1 dia: é preciso construir um tema que nasça do fundo, uma linha que se prolonga ao mesmo ritmo, repetir o hábito que vem de si próprio e esquecê-lo para haver um outro, escutar o rumor do seu rio só seu, caminhar em companhia com os sonhos que nos acordam ao longo da idade.


R. T. - 7-07-2020

 

15.6.22

Ilhas ligadas

Pintura: J. A. M.

 

Às pessoas nómadas nos corpos e nas almas
um beijo indelével no rosto ausente
intervalo onde tocamos juntos
a íntima unidade no coração das coisas.

Sobre as infindáveis ciências dos homens
pousamos a luz urgente de outros olhos
desce sobre nós
a lucidez dos universos vivos.



inO Triângulo de Ouro - Editora Justiça e Paz.1988.
Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores.1987)

 


5.6.22

bastou um sorriso

Pintura. ÁRVORE de SÓIS: J. A.M.

 
















No meio dos dias, por vezes, a surpresa de um coração desprotegido
cercado por uma luz sem nomes.
Um rosto caído em cascata no olhar desnudado como se uma estrela
longínqua estivesse a falar.
 
Bastou um sorriso.
 
Por vezes, a inesperada vida deslumbrada por um encontro ao acaso
numa rua qualquer, onde arde a fulgurante e permanente chama do Mundo.


23.5.22

Obras em Exposição: “ SMILE & WAVE ”. Porto ( Portugal)


 OBRAS:

ABRAÇO;
As grades da "Liberdade";
A Nova Dança ( iniciada em 2020);
Escadas de Jacob;
"PORTAL";
O nascer do Sol e o por do Sol.


Realização do vídeo: X._ico (https://www.instagram.com/x._ico/)


16.5.22

Dentro e Fora tudo é igual



Imagem Digital. J. A. M. 










Sona Jobarteh está a entrar pelos lados onde as portas são mais negras. Para que as estrelas resplandeçam mais, nesta infindável noite.

Há na vocação das vozes um halo universal redondo é este planeta onde agora vivemos.

Como no mar: altas ondas outras nem tanto, a 7ª onda é sempre ouro nos sons alongados e por tal sortilégio algo em nós se expande mais. Tenho agora os pés nus onde elas esmorecem e eu cresço.  Falo do amor. Falo sempre do amor.

Entretanto no mar alto e no seu fundo, tudo parece sereno, adormecido, indiferente. Mergulhei por aqui em noites de imprudentes êxtases. Cheguei a morrer: de encantamento. Regressei sempre 1 outro que demorava a reconhecer. Enquanto peixes translúcidos me trespassavam. Enquanto o sal da água resplandecia como minúsculos cometas afogados pelo brilho. E tudo era a mesma matéria, tudo estava sempre ligado a uma luz que de longe clamava.

Os sons, as raízes dos sons de Sona Jobarteh, aproximam tal mistério. É uma outra colheita para a alma, outra voz incógnita cujos sons chegam a ter cores. Pleno de tudo, regresso á minha cabana onde acendo uma vela. Vivo numa ilha, desconhecida pelos mapas.

E tudo se torna claro como um anel de sol virado do avesso. Dentro e fora tudo é igual.