José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

9.5.23

SOMBRAS DE UM FAROL ~ SHADOWS OF A LIGHTHOUSE


Galeria " Espaço QuadaSoltas ". Rua de Tânger, Nº 1281 - PORTO
E-mail: quadasoltas@gmail.com. Tel. 965 637 472
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COMENTÁRIOS CRÍTICOS (Resumos):


 “(…)Assim,  na obra plástica de José Alberto Mar ,harmonizamo-nos perante arquétipos universais de raiz formal geométrica, surgidos da metamorfose dos signos num processo de morfogénese que progressivamente se tem vindo a acentuar no percurso ontológico da obra do artista, onde busca e revelação surgem indissociáveis.(…)
Mas, mais uma vez, também se nos afigura que o cunho inconfundível da arte de José Alberto Mar flui naturalmente da matriz existencial do poeta, pintor – e visionário - e de uma radical liberdade do ser e do estar como assumida celebração da vida.

 (Poetisa Sofia Moraes)

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“Arte Futura, no seu melhor. A sua arte é tão única e futurística. A arte do futuro vive hoje.”

“Future Art, at it's finest .Your art is so unique and futuristic. Future art lives today.”

(Michael Iva - Chicago, U.S.A.)

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“(…) Na obra plástica e literária de José Alberto Mar - pintor e poeta, de motivações filosóficas, percorre-se num tempo de sensações, durante a energia vital das coisas do Homem, e das marcas que este vai deixando no seu labor (…) Na sua proposta encontramos com alguma facilidade laços de estreitamento que cruzam ou juntam civilizações do oriente com latino americanas, africanas e europeias. (…) São registos que a sua obra espalha, e nalguns casos com profunda evidência, sendo até comparáveis com as formas de padrões matemáticos e geométricos, desenvolvidos de há muito na China, na Mesopotâmia (…)  A obra na relação com o espectador cria um espaço orgânico cujo arquétipo é biológico, celular e vital (…)”


(Doutor Rui Baptista)

 


3.5.23

Enquanto há os mortos verticais em meu redor

Pintura. J. A. M.

 

Enquanto há os mortos verticais em meu redor
Enquanto também há seres acordados, outros iluminados
Enquanto há uma luz do Sol que vem das trevas
Enquanto me sinto a respirar o halo silencioso das árvores
o entrelaçado canto enlevado dos pássaros que não vejo
nesta viagem pela noite escura
Sinto-me presente e feliz!


(J.A.M. - Abril-23 )

 

28.4.23

Exposição de Pintura

 


SEM MARGENS


por vezes, abrem-se outras luzes, outras cores
outros sons dentro
como acontece na boca das fontes
e é por aqui que algo em mim é mais humano
entre esta sagrada Terra e as estrelas á mão de semear
entre tantas margens os tambores celestes batem e
rebatem no meu coração.
 

 
Outras vezes vem um outro sol, outro sal, outra luz
da cintura dos astros ou do fundo da Terra
descendo, subindo, entrando, aclarando
a cabeça que já não pensa
pois já é outra a resposta que cintila
no esquecimento do olhar
onde caio em mim, como uma gota de água
no mar dentro dos dias todo o tempo é redondo
e reparo nas duas mãos como se fossem
10 os novos caminhos
e no entanto, são tantos e tantos
que me volto a calar.


( J. A. M.)


 
 


25.4.23

Poema em saldo

Made in Portugal. (Pintura. J. A. M.)

 
uma data que regressa sempre
transparente à cabeça
um sino pendular nas cavernas do corpo
e então escrevê-lo é abrir as potências
do sangue, dos pés até à raiz
dos cabelos, deixar renascer a vida
circular dos dias
pelo silêncio poderoso
se fundamenta um olhar
um sonho uma estátua invisível
dentro da memória
ordena-se o esquecimento
mantendo todos os dias
a respiração deste poVo
entre muitos e muitos horizontes.



José Alberto Mar


22.4.23

RIO SEM MARGENS ( Exposição de Pintura)




Tríptico ás Imagens

 

Por vezes, alguém põe um dedo na ferida. Quero dizer: alguém acorda a sombra geral dos seus nomes e os nomes mergulham nos ritmos do sangue e logo as mãos crescem para os lugares e os lugares crescem com elas e tudo fica mais Alto. Há quem passe, olhe de lado e continue a sua vida. Outros há que passam e se detêm por um pormenor mais chamativo.

Claro que todos os lados, todos os nomes são pretextos. E os lugares também. Nascemos e morremos por uma graça indomável perdida no tempo. Andamos às voltas disto tudo enquanto por dentro acordam e adormecem as sementes povoadas pelos estranhos frutos de uma sede sem fim.

Vozes e imagens que cantam a Vida e o exemplo dos milhares de sóis mesmo sabendo-se que para outros olhares, há um abismo memorial nas cabeças uma outra idade outra boca menos cercada pelos dons dos dias, na transformação dos corpos.

 

(in, “A Primeira Imagem “, J. A. M.)

16.4.23

É PRECISO ESCOAR O DIA

 

Uma mulher negra, com um olhar divagante, coberta de panos amarelos sentada num banco de madeira pintado de verde, no jardim da Praça. No banco ao lado um Sr. de camisa e calças vermelhas, estirado num banco também verde à sombra de outra acácia ainda mais verde.
O sino do relógio vai dando badaladas bem compassadas ao ritmo do calor hoje mais abafado, será que vai haver tchuva?
Passam mulheres e mulherzinhas agrupadas, com as bundas arrebitadas todas janotas em direção à igreja já apinhada de crentes para a missa domingueira. Espreito discretamente e parece-me haver ali um fervor amornecido, uma entrega naturalmente física à devoção, neste caso católica, mas a fé lá no fundo terá algum nº de porta?
No jardim, um casalinho namora espreguiçadamente num outro banco de cimento já sem cor. Ela deitada sobre o colo ali à mão de semear e ele com as mãos dedilhadas no corpo da paixão. No chão quente do dia as suas sombras estremecem sem eles darem por isso. Evolam-se pelo ar formas de tesão e paixão, cores encarnadas vivas que até acordam as flores sonolentas à-volta.
 
Volto a dar 1 longo passeio pelo Plateau(1), sem deixar de passar pelo mercado onde as cores e os aromas levantam os sorrisos das vendedoras. E volto ao lugar. A meu lado, encostado à fonte central com uns barulhinhos de cascata, está um homem com o cachimbo adormecido na mão e um ar de quem já não espera nada e também não se rala com isso. Talvez esteja em plena divagação do seu ser, talvez seja mesmo o seu modo de estar, talvez a luz do seu olhar esteja toda estancada no pequeno sol de dentro, mas o que sei eu?
Passam mais meia-dúzia de moços todos coloridos e alegres, entretidos com eles próprios em direção aos finais da missa, na igreja matriz de traça colonial há dois séculos ali plantada. É a hora das moças saírem e acontecerem luzinhas entre os olhares.
 
Ouço o barulho de uma moto bastante na Avª Amílcar Cabral e leva atrás, de reboque, um gajo de patins a deslizar por ali como gente grande, lá vai ele a espalhar o seu imenso sorriso branco pela cidade adiante

Adiante, adiante que é sempre tempo para se ser feliz.

 
 
(1) Zona histórica central da cidade da Praia.

 
-  Ilha de Santiago. Cabo Verde -

 
(in, Livro de contos.: O Ouro Breve dos Dias.2021.
Escrito em vários locais de Portugal, Cabo Verde e Brasil.)
 

7.4.23

Bastou um sorriso

Caminhos da Vida. J. A. M.
 

No meio das ruas da cidade, por vezes
a surpresa de um coração desprotegido
cercado por uma luz sem nomes.

E um  rosto caído em cascata
no olhar desnudado como se
uma estrela longínqua
quisesse falar
 
Bastou um sorriso de alguém que passou.

 
Por vezes, a inesperada vida deslumbrada
por um encontro ao acaso, num dia qualquer
onde arde a fulgurante e permanente
chama do Mundo.



( J.A.M.)
 

4.4.23

O Olho de Agamotto

Pintura: J. A. M. 

Há o sol e as matérias primas
dentro do sangue nos corpos
há os dias e as noites recolhidas,
submersas até aos dedos
e ainda há o Mundo e as pessoas
os animais, as árvores, a Natureza
e a vastidão da respiração
que vem do coração da vida
seio de idades invadidas por tantos rostos

e há instantes imprecisos em que somos quase
inteiros
no útero de tudo onde as vozes se instalam
mas só às portas soltam as suas âncoras:
as palavras, as sombras que agora vos entrego.
 
 
O olho do mundo dança-me na cabeça
ao sabor das luzes que giram
na alta nudez sem nome.



( J. A. M. )

 

 

31.3.23

Quanto demora uma idade a ser luz?

 

Pintura. J. A. M.


Alguém passeia-se algures por caminhos e paisagens onde há pedras pelo chão e acontece-lhe curvar-se de repente, por algo que o chama sem dar-bem-por-isso e há um diamante entre as suas mãos, o olhar turva-se pelo brilho que o sOl, atento a tudo onde há vida, lhe oferece no mesmo instante e depois há quem veja logo ali um presente, ou há quem não dê conta do vislumbre que lhe aconteceu e continue apegado aos seus hábitos, atirando o pequeno seixo para as águas de rio que desliza por perto no seu ocaso indiferente a tudo isto.

 Os hábitos escravizam, tornam-nos cegos.

Todos os dias acontecem coisas assim, parecem banais porque são diárias, mas não o são, não.
Nada é banal nesta vida que nos está acontecendo. E por aqui os diamantes não têm quaisquer preços, são iluminadas fontes metafóricas, criadas pela infindável sede que habita os profundos lençóis da Terra. E das pessoas, também.

 
 - Quanto demora uma idade a ser luz?

 

 

(Ourique. Alentejo. Portugal)

 

-in, livro de contos, escritos em Portugal, Cabo Verde e Brasil: O OURO BREVE DOS DIAS.2021


23.3.23

Estremece a estrela que em mim vive

Foto digital. J. A. M.

 

Estremece a estrela que em mim vive
naturalmente aberta
á escuridão
e nos 2 olhos cintila
o véu do instante, a aparência maior
do que é superfície e aí se afoga
pois na multidão dos dias a vida
tornou-se mecânica.

Vejo em todos os gestos um silêncio amparado
pelo silêncio que aspiro
o lugar onde qualquer semente pensa
sonhando com tudo
pois nada do que é fruto
acontece sozinho.


( J. A. M.)

21.3.23

DIA MUNDIAL da POESIA

Foto digital. J. A. M.

 

Felizmente vivo

 
de manhã, quando as aves lá fora
ainda estão entranhadas nos sonhos
e já várias claridades esvoaçam
abrindo as portas e as janelas
de encontro aos olhos de quem acorda

e os rios de ouro abrem as vozes
à procura dos mastros humanos
onde há gente viajada em nascentes

e a Beleza do Mundo é 1 presente simples
e tudo se ampara nos muitos eus
que devagar se unem
enlaçando a infância, o futuro e o agora

de manhã, quando algo estala
o silêncio instaurado e já ouço
o cantarolar aceso dos pássaros
Felizmente vivo
mais um dia.

 

( J.A.M.)

 

19.3.23

The Power of the Heart ~ Os Poderes do Coração.

Ainda demos as mãos, como quem uma constrói uma ponte

Pintura. J. A. M.

 

(…)As gaivotas vinham açoitadas pelo mar sem pescadores e abriam lá fora os espaços altos à procura. Eram sombras nos intervalos apanhadas pelos acasos, quando olhava de soslaio pelas vidraças húmidas do café.
Enquanto ambos estávamos num fogo adormecido apesar de não darmos por ele.
 
À-volta havia os outros, longínquas sombras, e em poucos minutos nem sombras já aconteciam. Por dentro senti metafóricos desejos de serem mais, algo que só na altura sabia: cresciam para cima e para baixo como nas árvores a seiva, nas galáxias a luz.

Ainda demos as mãos, como quem uma constrói uma ponte que agora vejo ter ficado perfeita, apenas no ar leve daquele momento.

(J.A.M.)

 

3.3.23

Paisagens abertas

Paisagem Árabe (198?). J. A. M.

 

Estamos numa viagem aparentemente  longa, “ um homem com pressa é um homem morto “ , eis um ditado destas gentes apaziguadas entre si no centro dos desertos (1) por aqui há tempo para tudo pois tudo é tudo, o silêncio cheio de ecos, o céu amplo e vasto e os horizontes eternamente demorados no presente, o tal tempo que foi expulso dos dias e das noites daquelas bandas Ocidentais por onde desandam  tantos desalmados a correrem sozinhos cada um com a sua meta e o descalabro dos seus desígnios impostos & aceites como únicos.

 – Mas, quem os convenceu de que sozinhos vão a algum lado?



(1) Deserto do Sáara. الصحراء الكبرى


( J. A. M.)