Foi um tempo obscuro, escuro, mesmo negro. Atravessei-o com a juventude alarmada pelo corpo e todos os mundos que podia a encherem-me a alma até às flores da pele pintadas com muitas cores.
Saía das casas para fora, á procura de mais dias e mais noites umas a seguir às outras, como primaveras vivas devoradas com muitas flores a saltarem pela boca, pelos olhos, pelo corpo inteiro e esburacado.
Por vezes, pensava que estava à beira da loucura, e então abrigava-me nos cantos do silêncio, à espera de escutar o fio tremeluzente da minha voz mais íntima. Escutava-o, aprumava-me, desenhava meia-dúzia de âncoras e depois voltava a soltar-me.
Conheci, gente, pessoas, corpos habitados por alguém, outros nem por isso, cheguei a conhecer os mortos que continuam por aí, de um lado para o outro, como imagens atrapalhadas adiarem sei lá o quê. Também, confesso, cheguei a ser tocado por alguns seres humanos, que me deram minúsculas estrelas duradoiras, muitas vezes sem eu dar por isso. Ainda hoje as guardo, como pedras preciosas soltas entre os seixos das minhas praias.
Foi um tempo de procuras, em que atravessei pontes e pontes e nem sequer as via, nem os rios que iam felizmente suicidas para os seus mares, nem os lugares de um lado e do outro, por onde cumpria o meu destino possuído pela dourada cegueira da juventude e por todos os copos de veneno que encontrava.
Vi assim, alguns amigos caírem para dentro de uma luz que nunca mais os largou, foram, sem se despedirem de ninguém, sozinhos para muito longe e nuncanunca mais.
Após, muitas paisagens, comecei a ver que tudo á minha volta era uma imagem que se soltava de dentro de mim, onde eu não era chamado para o caso, nem propriamente ninguém, mas, no fim de contas, todos estávamos lá: pessoas, mundo, vida, animais, plantas, pedras e todos os universos que existem.
Comecei a olhar para ver a luz, a luz claramente acesa, a primeira que vem de dentro das pessoas e das coisas.
Descobri um centro que não é centro nenhum, apenas me desloco despido e nu por dentro, de centro em centro na mapa circular da minha idade.
Sempre, com o deus presente de tudo á minha volta e o amor íntimo e distante por tudo o que acontece em mim.
Estou eu numa cidade qualquer e nem sei o seu nome. Os primeiros dados têm haver com a Europa. A norte ou sul, a este ou oeste, não faltarão ocasiões para aprender tudo isso. Incluindo o seu nome, claro, que nada existe ao acaso. Mas, como disse, nada de referências à priori. Já há muito tempo que acalentava esta ideia que se tornou tão fixa que se fez 1 nó a desunhar. Um dia. Parti para a solução. Comprei um bilhete qualquer, dentro do meu orçamento da ocasião, e ainda estou a ver o rosto espantado de coisa nenhuma do sr. que tinha por missão, dar pequenos-papéis em troca de muito-dinheiro. "Como?" perguntou-me num suspiro de quem pouco mais ar tem para dar ao momento. Olhei-nos fixo nos olhos, para que a conversa não deambulasse demais, e disse-lhe: "é Isso, amigo, dê-me esse bilhete que tem mais à mão. O sr., como bom funcionário público deste país, acatou de imediato a indicação. E, lá ficou aviar o seu ofício de escravo mecanizado enquanto eu desandava a chamar pelo meu boby . Mais umas frases adiante, onde se inclui a viajem de avião os pormenores antes e depois - cá estou eu num aeroporto qualquer de uma cidade também qualquer, a esvaziar-me de mim e a tentar deixar-me tocar por tudo à- minha-volta . Como uma flor se abre à luz, a cada dia.
(boby, é o nome do meu malão de viagens, com 4 rodas e uma trela)
paisagens e mais paisagens e eu entro e saio com a cabeça iluminada pela leveza por onde muito vivo. Altura, largura e comprimento, eis as 3 linhas, onde me puseram a respirar.
Mas - eu sonho. E os sonhos são estrelas domesticadas pelas almas de quem é pouco. Tudo se passa em silêncio, porque os Homens são demasiado barulhentos e afugentam o que é grande.
Estava eu bem sossegado, afundado no meu cadeirão anti-stress, quando a minha vizinha me acordou para fora deste delicioso enlevo criativo, com um frenético toque de campaiiiiinha que, enfim.
+ umas frases adiante,
fiquei desarmado com uma revista nas mãos que se tinha perdido por entre as caixas de correio.
Bom, agradeci o favor, que obviamente não foi favor nenhum mas um grandessíssimo "corte" e por hábito, educação ou qualquer outra razão de que já não me lembro, abri a dita revista, que não tinha muitas folhas mas parecia Grande devido à generosa espessura das folhas, e, e, caí logo na pág. 16. O 16? Como sou um adepto fervoroso até incerto ponto, das numerologias, fiz automaticamente as contas e Zás ali estava o tal 7, o número mágico por excelência nesta civilização onde deus me faz andar, e vai daí pus-me logo a pensar onde poderia encontrar a tal magia. Então
comecei pelo título da pág:"desporto, saúde & bem-estar". Quando cheguei ao "bem-estar", fiquei bem aberto a tal assunto, mas ao correr as palavrasfiquei simultaneamente intrigado, pois havia Muita matéria junta que transbordava um-não-sei-quê de excesso para encher as medidas de quem tem a intenção subreptícia de convencer alguém de algo que só tem haver consigo-próprio, no intuito para mim claríssimo de um lucro sorrateiro qualquer. Mas pronto. Estou habituado a estas circunstâncias.
Vim por ali abaixo, ultrapassei os obstáculos que surgiram, e, o pior era o tipo de letra, para não falar da horripilante mancha gráfica, até que
me deparei com a palavra "Aviso". E aí, estanquei mesmo definitivamente, com todas as minhas forças possíveis e impossíveis quase, fiz um momento de inclinação corporal a obrigar-me a uma maior concentração no assunto e pus-me a ler o dito Aviso para poder continuar a escrever este artigo de momento, sem qualquer futuro à vista desarmada, pois a vida de um cidadão neste país é um eterno desarmamento de tudo o que é Vida-Mesmo.
A coisa começou a complicar-se, tudo aquilo eram "artigoss" a maiss,os "dispostoss" "decretoss-lei" e as "deliberaçõess" com datass & tudo, maiss os "capítuloss" & os "subcapítuloss",,, Ó minha nossa Sr.ª de kualquer Coisa, comecei a ficar farto, farto, enfardado de todo, pois considero-me uma pessoa mini-ma-mente culta, mini-ma-mente inteligente, minimamente capaz de ler e entender um mero artigo de uma Revista de Informação Camarária, mas efectivamente não entendia patavina daquilo.
Adiante. Trocado por miúdos, e muito bem espremido o fruto (podre, tá-se a ver) , tratava-se de quê?
De um Aviso para Avisar o Povo destas bandas de que foram Avisados de que há um prazo de 30 dias "úteis" ( ainda estou para descortinar o que é isso de dias "inúteis”), para se realizar uma "Discussão Pública" acerca de mais uma alteração ao não-sei-quê, que logicamente tem o seu quê de mudança relevante só para alguns e o pessoal até tem de ser informado pelas leis em vigor e essas lérias ditas democráticas, d&les.
Agora a questão aqui complicou-se ainda mais, porque na parte final diziam ao povo que 1º: tinham de ir a uma determinada morada para consultarem o tal assunto fundeado no enigmático número 7, e depois quem quisesse Até Podia! enviar reclamação ou sugestão, nas "horas normais de expediente". Só estas palavras do final da frase, atiraram-me abruptamente para profundíssimos momentos de reflexão acerca deste lado da questão: o que são horas "normais" para eles? Onde param as horas anormais, que nunca as vislumbrei na minha vida? E qual será o expediente lá do sítio? E no expediente de lá, está lá alguém ou será a habitual es-pe-ra-desespera e o culto matricial português do como-e-cala-te?
Mas
o que mais me deixou desanimado de todo, confrangedoramente deprimido mesmo, comigo próprio e com o mundo e até ouso dizer,com a Humanidade, foi o facto de perceber - creio bem - que numa declaração tipo preto no branco acerca de uma DISCUSSÃO PÚBLICA, o pessoal era Afinal convidado, nestes modos enviesadamente anacrónicos e absurdamente obscuros, a ENVIAR CARTAS, se quisesse. E. Pronto.
Continuo a não entender a ponta de um corno acerca do modo de pensar e agir dos Srs. que nos governam democraticamente eleitos & tudo
e para ver se alguém me poderá ajudar neste momento mui difícil da minha vida, vou surripiar uma garrafa de vinho da parte mais nobre da minha modesta garrafeirazinha, e vou ter com a vizinha que me arrancou dos meus criativos enlevos
e vou tocar à campainha, muitíssimo ao de leve, só um toquezinho de quem está ali, desamparado como a noite, apenas com um pretexto entre as duas mãos e um sorriso naturalmente aparvalhado de quem espreita uma suave e doce vingança.
"(...)La agencia de calificación crediticia Fitch rebajó el rating de Portugal y eso bastó para causar una pequeña convulsión en las Bolsas y una sacudida de mayor escala en el mercado de divisas(...)
La ya casi habitual sobreactuación de los mercados llegó ayer minutos después de las once de la mañana, en el momento en que Fitch hizo público su informe sobre Portugal. "En las últimas semanas parecía que perdía relevancia la crisis fiscal griega y su potencial contagio, pero los mercados demuestran que siguen siendo muy sensibles a cualquier mala noticia", afirmó Juan Luis García Alejo, de Inversis. "Las declaraciones de los políticos alemanes recalentando la próxima cumbre también perjudican al euro", señaló. Lo curioso es que un país, por encima de todos, se beneficia de esa depreciación del euro, que abarata las exportaciones. ¿Su nombre? Alemania."
O meu-irmão-gémeo-que-até-Professor-coitado-neste-país, pediu-me insistentemente que eu dissesse algo sobre o dramático caso da criança Leandro. Entre muitas dúvidas(emocionais & racionais), fui protelando. Mas. Entretanto, eis que leio 1 artigo suficientemente inteligente e acutilante, para me encostar preguiçosa & conscientemente a ele, agradecendo obviamente ao seu autor.
p.s. 1 dos problemas, penso eu, agora, é que "tudo isto" anda em circuito fechado. E as elites mentecaptas & corruptas: até dizer chega! & mui espertas deste país continuam a voar impunemente, por cima de todos os imbecis & tontinhos que lhes acenam.
"(...)Porém, há uma ideia de nação que deixou, vagarosamente, de o ser: exclusão, egoísmo, ganância, desemprego, corrupção, precariedade, indefinição de identidade. A violência do PEC mais não traduz do que a violência da nossa sociedade, cujas prostrações assumem a feição de um sintoma neurótico. Estamos doentes de resignação e de astenia moral.(...)"
(...)O fato é que no terreno, onde muitos de nós vivem e trabalham, o paradigma do "desenvolvimento" morreu. Isto pode ser constatado a cada dia na prática e nas acções das pessoas comuns. Mas a "máquina desenvolvimentista" continua viva, pagando generosamente a especialistas, intermediários e consultores, gastando copiosas indemnizações aos seus clientes locais, seus auxiliares e agentes. A "máquina desenvolvimentista" continua funcionando em vão, o que é ainda mais preocupante já que este vácuo produz esbanjamentos consideráveis(...)
[...] Detesto a ideia que faz da vida em África um simples desapego: o de um estômago vazio e um corpo nu à espera de ser alimentado, vestido, curado ou alojado. É um conceito arraigado na ideologia e na prática do "desenvolvimento" e que vai totalmente ao encontro da experiência pessoal quotidiana das pessoas com o mundo imaterial do espírito, especialmente quando se manifesta em condições de precariedade extrema e de uma insegurança radical. Este tipo de violência metafísica e ontológica tem sido durante muito tempo um aspecto fundamental da ficção do desenvolvimento que o Ocidente tenta impor àqueles que colonizou. Devemos nos opor e resistir a formas tão hipócritas e desumanizadas(...)
-Mata da Costa: Presidente dos CTT, 200.200 euros; -Carlos Tavares: CMVM, 245.552 Euros; -António Oliveira Fonseca: Metro do Porto, 96.507 Euros; -Guilhermino Rodrigues: ANA, 133.000 Euros; -Fernanda Meneses: STCP, 58.859 Euros; -José Manuel Rodrigues: Carris 58.865 Euros; -Joaquim Reis: Metro de Lisboa, 66.536 Euros; -Vítor Constâncio: Banco de Portugal, 249.448 Euros; -Luís Pardal: Refer, 66.536 Euros; -Amado da Silva: Anacom, Autoridade Reguladora da Comunicação Social, ex-chefe de gabinete de Sócrates, 224.000 Euros; -Faria de Oliveira: CGD, 371.000 Euros; -Pedro Serra:ADP, 126.686 Euros; -José Plácido Reis: Parpública, 134.197 Euros; -Cardoso dos Reis: CP, 69.110 Euros; -Vítor Santos: ERSE, Entidade Reguladora da Energia, 233.857 Euros; -Fernando Nogueira: ISP ( Instituto dos Seguros de Portugal), 247.938 Euros; -Guilherme Costa: RTP, 250.040 Euros; -Afonso Camões: Lusa, 89.299 Euros; -Fernando Pinto: A TAP, 420.000 Euros; -Henrique Granadeiro: PT, 365.000 Euros;
(Fonte: Jornal O SOL''''de 22/1/2010 )
E ainda faltam as Estradas de Portugal, EDP, Brisa, Petrogal, todas as outras Observatórios e Reguladoras ... ISTO É SÓ UMA PONTA DO ICEBERGUE É no mínimo imoral e no máximo corrupção à sombra da lei ... Até porque estes cargos são de nomeação política ..
É TODO O NOSSA SUOR E SILÊNCIO QUE ALIMENTAM ESTE BANQUETE!