José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

2.11.08

cresce a mão para a palavra


mas porque é que cresce a mão para a palavra?
Há o sol, as matérias primas
dentro do sangue
e há a noite recolhida, submersa
e ainda há as pessoas
e a vastidão da respiração
no coração
seio de idades invadidas por tantos rostos
e há pontos imprecisos em que somos quase
inteiros
e há o útero de tudo onde as vozes se instalam
mas só às portas rondam os sons
as palavras,que agora escrevo
O olho do mundo dança-me na cabeça
ao sabor das luzes que giram
na alta nudez sem nome.

(Nov.2008)

1.11.08

para alguém será


e tu que vieste da escuridão dos meus sonhos

entre o corpo e o sal adormecido
agora na violência deste silêncio apenas
desenhas
um só nome: vento.

Entre os arquipélagos do tempo
eis a sombra da minha espera
enquanto as minhas âncoras acendem
as raízes do mar por onde indago
o céu & a terra
e este sentimento obscuro e fundo
que me entrelaça a ti.


(1.Nov.2008)

15.10.08

11.10.08

Sobrevoando ninhos de cucos

imagem construída. j.a.m. - 2008

de manhã



de manhã, quando ainda as aves são sonhos

e já as claridades esvoaçam
abrindo as portas & as janelas
dencontro aos olhos de quem acorda

e os rios de ouro abrem as vozes
à procura dos mastros humanos
onde há gente viajada em nascentes

e a Beleza do mundo é 1 presente simples

e tudo se ampara nos muitos eus
que devagar se unem
enlaçando a infância, o futuro e o agora

de manhã quando algo estala o
silêncio instaurado e já ouço
o cantarolar aceso dos pássaros
Felizmente vivo
mais um dia.


(11-10-08)

I've been loving you (Otis Redding)

7.10.08

Praia amarela quase dourada


foto trabalhada. j.a.m. /2008

COM UMA BEBEDEIRA DE LUZ



eu ká voo caminhando dencontro ao sol negro
onde mergulho de corpo inteiro
para que toda a escuridão que trago de tãolonge
vá sumindo em todos os instantes
um pouco +

(...)


E, quando é preciso subo a um terraço

qual xamã de mim e a Vida,

nós próprios em evocação aliados

aos destinos que dEUS nos emprestou
para que tudo se desenlace & volte a enlaçar
cumprindo-se a 1ª vontade do Infinito
que sempre Foi e sempre Estará
aqui & agora, para quem apenas já

sabe Ser
à sua altura


"os Sons, a Palavra é o Verbo"
E então que o meu nome conquiste inteira-

mente a sua sombra, esse "óleo derramado"

que já ouço escorrer em mim.


(9-10.Set.2008)

4.10.08

reflexos

Tunísia. Foto de j.a.m.

"São as coisas que vão montadas e cavalgam sobre a humanidade"


(Sábio de Concord)

Mestres do Nada



Há rostos que tornam as coisas mais simples

São como pedras vivas
mergulhadas a prumo
no sábio esquecimento
das suas formas
onde a sós
só os olhos dizem
o ouro breve
das imagens.


(in, A Primeira Imagem, Ed. Sol XXI, 1998)

Postal


técnica-mista. j.a.m. Out. 2008

Série : O(s) GRITO(s)


Adaptação do Livro "O Deus em quem não creio", de Juan Arias

1.10.08

tudo se expande por ondas, para onde

arte digital. j.a.m. (01.Out.2008)

Folha de 1 diário perdido (Nº4)


5 horas da tarde + ou -, 5 pombas à minha volta procuram comida, no chão quente destas pedras bem escuras.


Às vezes encontram, descem as suas cabecinhas só delas, os bicos alongam-se e debicam algo,,, depois, seguem afirmadas & apressadas, mais uns passinhos ........


voltam a fazer unânimes vénias para sobreviverem neste chão duro do mundo.


(C.V. Sidády Vêlha. Agosto.2008)

30.9.08

Tudo O.K?

(Menina Muito pobre & Bem Feliz só a comer uma manga.Cabo Verde. Praia.2008)



"A felicidade não consiste em adquirir nem em gozar.
Consiste em Ser Livre"

-Epicteto-

29.9.08


(técnica-mista. j.a.m.)

e a grande teta universal ?



A noite acesa e "há quem diga
que o peito da mulher é a pedra mais dura
que Deus pôs sobre a terra dos homens.
Que terra? que homens?"

Mas
digo eu: e a via Láctea
& a grande teta universal
mãe ou pai ou ambos
como Leonardo se sonhou e pintou
em plena ausência do seu 1º amor
a mãe: - para onde partiste?
pedra dura-
mente aconchegada às minhas sombras
quando desamparadas esperamos
o pressentimento da asa que ampara
e,,, a mãe já não está lá
mesmo quando agora é noite incendiada
no verbo, no clamor da voz cheia de vivos silêncios
Alguém, Quem? grita no meio das montanhas
transmutadas em visões, Oh! Marões!
e no fim do poema ou dilema somente os ecos
ecoam, e/co/am os brancos lençóis metafóricos
onde a criança renasce para (se) deslumbrar.



(referência inicial, versos do Poeta Corsino Fortes. Cabo Verde)



- 28.Set.2008-




No Woman No Cry (Bob Marley)

28.9.08

folha de 1 diário perdido (Nº3)


É preciso escoar a coisa:


Uma mulher negra coberta de panos amarelos sentada num banco de madeira pintado de verde,
no jardim.
No banco ao lado um sr. de camisa e calças vermelhas, sentado num banco verde à sombra de uma árvore com folhas tenramente ainda, no mesmo jardim.

O sino do relógio a dar 6 badaladas bem compassadas ao ritmo do calor hoje abafado, será que vai chover? O céu faz-me recordar Mindelo e depois o “monte cara” e com ele fiquei pensativo mas, já regressei.


Passam mulheres & mulherzinhas agrupadas, com a bunda arrebitada todas janotas em direção à igreja que já está apinhada de gente para a missa de domingo. Espreito de longe e parece-me haver ali um fervor amornecido, uma entrega naturalmente física à devoção, neste caso católica, mas acham que a fé lá no fundo tem algum nº na porta?

No jardim, um casalinho namora espreguiçadamente num outro banco de cimento. Ela deitada sobre o colo ali à mão de semear e ele com as mãos dedicadas ao corpo da paixão. Por ali devagarosamente há sombras que estremecem quase sem se dar por isso. Evolam-se pelo ar formas de carne & paixão, cores vermelhas vivas & cores azuladasperfumadas de laranjas que até encantam as flores sonolentas à-volta.

Por perto, há jovens absortos de computadores escancarados em cima dos joelhos, a fazerem o que lhes apetece (soube que alguém da nova Câmara, instalou ali precisamente um sistema eficaz de acesso à internete.- Já agora um exemplo a ser copiado por estes Ex.mos Sr.s Presidentes das Câmaras de Portugal, que só se expõem em tudo o que é propaganda (bem-mal paga pelos eternos contribuintes cada vez + pedintes) e nem perdem tempo a cogitar estes pormenores “minimamente” úteis às vidas do seu “povo”.

Volto a dar 1 passeio. E volto ao lugar.
A meu lado está alguém com um ar de quem já não espera nada e também não se rala com isso. Talvez esteja em plena divagação do seu ser talvez seja o seu modo de estar ,talvez a luz do seu olhar esteja toda estancada no (seu) pequeno sol de dentro, e que me importa?


Passam mais meia-dúzia de moços todos coloridos, alegres, entretidos com eles próprios. Ouço o barulho de uma moto bastante, e leva atrás um gajo de patins a deslizar por ali como gente grande……
lá vai ele a espalhar o seu imenso sorriso branco pela cidade adiante…


Adiante, a diante, que é sempre cedo para se ser feliz.



(Cabo Verde. Praia.Plateau.Agosto.2008)
Tunísia.2007

onde estão as luzes que ficam?


no meio de tanta barulheira & escuridão

fabricada por "makakóides" completa-
Mente avariados de todo
Onde estão as luzes que ficam?
meu dEUS, Onde achar as portas douradas
por onde estas asas brancas brancas
iluminem o fogo primordial que as criou
Onde? Saltar da cruz deste mundozinho assim
e ficar, no entanto ainda, de corpo inteiro
para transportar felizmente o meu destino
amando quem me
vê mesmo, acordado
sempre inteiramente lúcido em cada
momento, até não mais.


?.Set.2008

VAMOS CELEBRAR! (Oswwaldo Montenegro)







série: msgs ( Nº 8)


Encontrar-se-á uma Floresta nas Índias,
Onde estão unidos 2 Pássaros:
Um Branco, outro Vermelho.
Bicam-se até a morte,
Um devora totalmente o outro.
Serão transformados, então, numa pomba branca
Da qual nascerá uma Fênix
Que terá perdido o seu negrume e ganho a imortalidade,
Assumindo, assim, uma nova vida.
Deus concedeu-lhe uma força e um poder tais
Que doravante viverá liberta da morte.
E trazer-nos-á riqueza e saúde
a fim de que com ela façamos surgir grandes maravilhas
Que os Sábios nos descrevem em profundidade.


Yulunga (Dead Can Dance)

o Sol a bater batendo nas rochas negras



o sol batendo nas rochas
negras
e é do mar que me vem esta cegueira
que cai mui tranquila lá no fim do olhar
onde as ondas se afundam em luz
+ branca que a brancura do sol
e então ainda vejo tantas portas fechadas
por onde os mortos deambulam
solenes, sonâmbulos, sôfregos
por algo que já nem me importa
porque tudo está a chegar ao fim
de mais 1 ciclo, mas a espiral
prossegue clara-
Mente nada ficará de lado

não estou triste nem feliz
agora é outra a minha Alegria
ao atravessar os dias, porque me-
afasto de vez dos makakóides
deixo-os nas suas fogueiras de salamandras
e que ardam até os seus venenos
se tornarem carvão e pesada poeira
e que essas nuvens escuras lhes inundem
os dias
& as noites de infernos
e que também esses lugares se transmutem,
a seu tempo


E 1 dia mereçam as graças de dEUS

enquanto eu agora só sei das galáxias a voarem
e danço bem louco no meio de tudo.


27.Setembro.2008

Misguided Angel (Cowboy Junkies)







p.s. para Ti & para ti, também.

folha de 1 diário perdido



hoje parece-me que até choveu e conheci o meu amigo Luís, de São Tomé e Príncipe, Há 18 anos em Cabo verde devidovivido fascínio pelas mulheres e cá poisou & ficou mesmo - pelos vistos - e a incerta parte do seu voo poético, disse-me:

A mulher é uma casa sem portas.
Depois, talvez perante o meu ar insatisfeito ou demasiado pensativo para a leveza da Altura onde nos encontrávamos, acrescentou
:
A mulher é a chave da porta.
Fiquei satisfeito.

A conversa alongou-se, desviou-se por várias ramificações, voltou à
casa, mas ele já era noutras distâncias. Não fiz "cortes", claro.E até quase deixei de falar, pois lembrei-me de que tenho só uma boca, mas 2 ouvidos e duas orelhas e também já sei que é assim que uma amizade pode germinar.


(Ilha de Santiago. Cabo Verde. agosto.2008)

Sol di Manha (Maria de Barros)






(à falta da versão de Paulino Vieira, aqui à mão de semear, que me desculpe maria de barros que também está o.k.!

27.9.08

Dedicatória.Foto transformada. j.a.m. -27.Set.2008

25.9.08

Sanvean (Dead Can dance)

Tropeçando na minha luz/Eu Cá Voo Caminhando




acordo cantando agora nesta morada a minha canção:

"tropeçando na minha luz/eu cá voo caminhando"
e canto alto já na varanda sem ninguém incomodar
eu só com as minhas árvores e plantas e flores
para saudar este novo dia que dEUS me está a dar.

E mais uma vez, o canto me chama lágrimas à tona dos olhos
e os olhos ficam cheios de água, onde o sal
tem tarefa de alegria
por eu ser aquilo que sou e estar assim feliz
& felizmente mais eu
sem "eu" algum.

Já ainda na varanda, com o mar ali por detrás
dos finíssimos coqueiros, onde vejo o meu corpo igual
até na minha própria dignidade de ser humano livre

&.......o marulho atravessa as folhas penteadas pelo ar fresco

atravessa outras folhas de árvores minhas amigas
e chega até aqui para me saudar num natural:
BOM-DIA!
que aceito com todo o meu coração
e retribuo, cantando a mesma canção:
"tropeçando na minha luz
eu cá voo caminhando"



(C.V. 07-08-2008)

24.9.08

série: recadinhos

Imagem construída por j.a.m. - 2008


Se olharmos para a escuridão, veremos escuridão.

Se olharmos para a luz, veremos luz.
É, por isto & aquilo, que Albert Einstein dizia:

“Somente os imbecis não conseguem maravilhar-se”.



coisas & loisas de Cabo Verde



Está um dia quente e quanto ao resto é indefinito. Talvez vá chover, talvez não, quem sabe?

Estou sentado a pastar o olhar.
Uma negrinha aí pelos 3 anos, brinca na Praça Alexandre de Albuquerque com uma boneca, enquanto a mãe sentada por detrás de uma tendinha, olha à-volta como se nem esperasse cliente; tem à venda mangas, bananas, rebuçados, tabaco, fósforos, coisas claramente várias e agrupadas aos poucos numa ordem evidentemente colorida.

A sua filha continua toda entretida a pentear com os seus próprios dedos, os longos cabelos louros da barby, comprada concerteza numa das muitas lojas dos chineses por aqui.


(Cabo Verde.Praia.Plateau.agosto.2008)

Sabe Dimas

Estou de Tanga


hoje levantei-me bem comigo & a vida, comi manga, papaia e cana de açúcar que o meu quintal me ofereceu com uma claridade de sol já esclarecido nas coisas do mundo. Também bebi água logo nas aberturas do dia e é água fresca e leve que vem dos lados do convento de São Francisco, do séc. 17, eles lá sabiam as melhores fontes das coisas essenciais na vida.
Nesta varanda virada para a Sidády Vêlha, com o mar ao fundo de onde me acolhem imagens & imagens sem fim e um barulho de ondas fortemente contra as pedras negras da praia, onde todos os dias me banho ao fim da tarde até ver o círculo solar cheio de luz e cores e vice-versos e tudo à-volta a tombar docement até + não , porque já é demasiado para um ser humano só e já são horas de ir jantar.

Acabei agora de regar as minhas plantas, saudar as flores que me ajudam tacitamente a ser feliz, tocar ao de leve as folhas da palmeira aqui ao lado, são pequenos gestos aparentemente distraídos entre pessoas que já são amigas.
A minha amiga borboleta, que me visitou logo no 1º dia, volta todos os santos dias, enquanto estou acordar-me nestas pequenas tarefas. Um dia destes, veio poisar na minha mão mas só ao fim do coração da manga bem chupada, pois para quem nunca esteve nestas bandas africanas, talvez ainda não saiba que as mangas não se "comem" propriamente,,,depois das primeiras dentadas na casca amarelaesverdeada, chupam-se demoradamente até à última gota de sumo cor da respectiva manga, ao nível paciente de quem está na situação .


Ah! eu e a minha amiga borboleta, 2 pétalas brancas, uma de cada lado, onde pontuam vários círculos negros distribuídos à toa, falámos abertamente dentro dos nossos silêncios amadurecidos. Depois disse-me que ia vadiar pela mata partilhar alegria e liberdade com outros e foi-se, feliz desclaradamente, remando as suas muitas asas frágeis ao sabor das curvas da aragem e, pronto,,,,,,,

Voltei ajustar a tanga à cintura (um dia destes tenho que arranjar uma tanga a sério, talvez de pano de terra, logo se vê), incendiei 1 cigarro, pernas desleixadamente entregues à varanda que até é azul, costas contra o mundo dos "makakóides" e quejantes...
mar e mar,

há ir
&
regressar.


(Sidáde Vêlha. Casa do Sr. Embaixador de São Tomé e Príncipe.Bem-Hajas, Almeida!. Cabo Verde. Agosto.2008)