" Monte Cara ". Mindelo. Cabo Verde. Foto: J. A. M. - 2005
Algures no Brasil cheguei a estar no Paraíso. E regressei. Agora encontrei outro Paraíso. Não sei se volto a voltar.
Começo por um dos lados: o mar sem fundo, no compasso di roncu di mar [1] a chegar claraMente até mim. Depois há coqueiros esguios, altaneiros nas suas tranquilas danças com a aragem muito ao de leve, afinal quem sopra por lá? E há as tamarineiras com os fortes braços erguidos para os céus & os seus frutos tombados doados à espera de quem lá chegue. Palmeiras com as suas folhas dobradas em devoção às 7 portas que iniciam as noites. Balançam-se também aos sons do mar, da lua que começa a ser maior no céu indefinito do meu olhar.
Estou nu, sentado com os pés apoiados na varanda azulzíssima e tomara eu estar assim tão nu por dentro. Agora vou colher uma cana de açúcar aqui do meu quintal e depois talvez vá soprá-la numa flauta vazia por aí adiante.
O pássaro que me visita todos os dias, merece agora toda a minha atenção. E ele já está ali, na sua árvore de eleição, misturado com as flores vivas cor-de-laranjas-acesas, pelo meio da folhagem verde escura porque efetivamente já é noite e tudo está demasiado claro para mim.
raskunho Nº217.
(Sidády Vêlha. Ilha de Santiago. Cabo Verde . 2013)
[1] “nos sons compassados das ondas do mar”. (crioulo do Sotavento).
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