Pintura. J. A. M. |
às vezes à noite, pego no bloco pego na caneta. Fico assim,
horas a fio a olhar para o céu, depois a incerta altura, desço o
olhar
agora:
1 pirilampo aqui outro acolá na espessura da noite por
detrás da sebe deste jardim há 3 sobreiros unidos com troncos
rugosos onde a cortiça respira e cresce sem darmos por isso
e as folhas todas juntas formam uma cabeleira que estremece
e dança, muito espaçadamente, com a aragem que sopra dos
lados do mar enquanto pedaços de algodão dos álamos
esvoaçam e uma sisão * algures espalha as pautas.
De repente, a chuva parou.
Gotas de água escorrem de folha em folha e depois apagam-se no chão onde as raízes das plantas absortas se abrem aos
desejos da sede. E as folhas cintilam sob o peso da luz que cai
dos candeeiros. E são belas assim, nos seus verdes flamejantes
contra as obscuridades à volta. Na superfície azulada de um
pequeno lago provisório, estranhamente ondulado, está a lua
estampadamente enorme.
* Ave considerada Vulnerável, pela organização BirdLife International.
(Cabo de São Vicente. Algarve. Portugal)
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