Pintura: J. A. M. |
24.2.23
1.2.23
Uma flor no asfalto
Pintura: J. A. M. |
agora
a minúscula flor encantada só em si e amparada pelas significantes folhas verdes onde o sol tranquilamente se desfaz em prata.
20.1.23
Pedaços do céu
Pintura. J. A. M. |
de manhã, quando as aves ainda parecem sonhos
e já as claridades esvoaçam
abrindo as portas e as janelas
de encontro aos olhos de quem acorda
e os rios de ouro abrem as vozes
à procura dos mastros humanos
onde há gente viajada em nascentes
e a Beleza do mundo é 1 presente simples
e tudo se ampara nos muitos eus
que devagar se unem
enlaçando a infância, o futuro e o agora
de manhã quando algo estala o silêncio
o cantarolar aceso dos pássaros
Felizmente vivo
mais um dia.
(J. A. M.)
13.1.23
Onde o Sol é mais perto
Pintura. J. A. M. |
* Ave considerada Vulnerável, pela organização BirdLife International.
(Cabo de São Vicente. Algarve. Portugal)
7.1.23
Pintura. J. A. M. |
2.1.23
2023
(Pintura): Novo Ano. Novo Mundo |
todos os anos
um sino pendular nas cavernas do corpo
e então escrevê-lo é abrir as potências
do sangue, dos pés até à raiz
dos cabelos, deixar crescer
a vida circular dos dias
pelo silêncio poderoso
se fundamenta um olhar
um sonho uma estátua invisível
dentro da memória
ordena-se o esquecimento
mantendo sempre a respiração do Mundo
entre muitos e muitos horizontes.
23.12.22
alianças
Pintura. J. A.M. |
Sei
como os universos estão cheios de estrelas
de
ouro breve nas suas viagens
e
um coração de ouro nunca tem preço
(eu
sei) como o teu sol também é o meu
também
sei que por onde caminhas
é
o (mesmo) lado só teu
do
lado que também é o meu.
17.12.22
O Farol
( Farol. J.A.M.) |
Mas a frase em questão, no meio daquele inferno encantou-me o lugar e por momentos caí num silêncio sem tempo, que me trouxe a casa de meus pais, longe muito longe, onde havia um jardim. E a frase era assim: não corras atrás das borboletas, cuida antes das tuas flores que elas virão até ti (1).
E então, algo em mim se transforma e tudo à minha volta também.
E um pequeno e incógnito farol aflora por dentro.
(1) frase atribuída,
a D. Elhers, em tradução livre.
( J. A. M. )
26.11.22
13.11.22
Estremece a estrela que em mim vive
Pintura: J. A. M. |
e nos 2 olhos cintila
o véu do instante, a aparência maior
do que é superfície e aí se afoga
pois na multidão dos dias a vida
tornou-se mecânica.
Vejo em todos os gestos um silêncio amparado
pelo silêncio que aspiro
o lugar onde qualquer semente pensa
sonhando com tudo
pois nada do que é fruto
acontece sozinho.
31.10.22
Na boca das manhãs
Pintura: J. A. M. |
O silêncio serpenteia-se nas ondas do ar a
boca da noite
abre as flores do coração curva os sons
que tem sempre
à mão e o tempo habita-nos mais ao
sabermos nos olhos
as sombras que se despedem das árvores
onde os pássaros
acolhem os primeiros tons do dia sob o
lençol verde
às tantas da manhã pelas cinco e tal ou
quase assim começam
a sinfonar uma visão acesa para quem ainda
dorme ainda
é cedo ainda há o segredo
de haver um mundo, com tudo sagrado.
(J.A.M.)
21.10.22
E, no entanto, há uma luz por aqui
Pintura: J. A. M. |
e, no
entanto
há uma luz
poisada no centro
do seu sereno silêncio de ser
só uma luz
Aberta
para fora
de si
- como se um pássaro esquecesse no voo
o peso das suas asas.
- como se a memória fosse uma trave esmorecida
na casa estagnado dos hábitos.
- como se, algo te chamasse e fosse uma voz cúmplice
no cálice mais translúcido do teu corpo
onde o som maduro do silêncio
te chama - em chamas - alumiadas na cor
e tu estás longe ou perto nos olhos
divagados em ti
E então, nem o ouro
nem a prata
- por onde há-de uma Vida luzir ?
10.10.22
um adeus de sombras a voarem
Pintura: J. A. M. |
7.10.22
Reflexos da Fonte ~ Fountain`s Reflections
5.10.22
o meu problema pessoal com as galinhas
Tive uma amiga artesã, das américas do sul salvo erro, que alimentava uma galinha com o intuito assumido de lhe arrancar apenas uma pena de vez em quando, para os seus colares & aquelas obras de arte que lhe davam o pão para a boca. É verdade! Também havia por lá 1 macaco pendurado nas traves da casa, que eram ramos grossos de uma acácia que lhe entrava por ali dentro para lhe oxigenar gratuitamente o ambiente. Uma vez estávamos eu e ela esparramados lá no seu jardim sem cercas que se prolongava por uma floresta a sério cheia de borboletas estonteadas e belos pássaros a esvoaçarem com as suas cores, Tudo junto era bom respirar ali, e então estávamos nós a fazer o nada e aparece o seu filho por aí nove anos se tanto, e deu-me uma lata de coca-cola transformada em cinzeiro para as cinzas do meu fogo no cigarro que ardia alheado disto tudo. O meu preconceito em relação à coca-cola é assumidamente enorme, mas a Brigite sentiu logo a coisa e explicou-me que era a maneira do menino me dizer que gostava de mim e como não tinha mais nada para brincar, costumava apanhar latas no lixo dos Sr.s lá em baixo na cidade e depois transformava-as no que lhe vinha à cabeça e ao coração e, sinceramente, aquilo era uma piquena obra de arte. Olhei para a criança como quem olha para um Deus e os seus olhos eram luminosos e felizes e eu,,,eu também fiquei feliz e com a voz embarcada num nó cego até às lágrimas que contive. A mãe sentiu tudo como só as mulheres sabem e ofereceu-me um chá que dividimos pelos 3.
São precisamente 5 h. e tal da noite e ainda estou pr’aqui com as minhas irmãs galinhas, que são muitas no meu quintal, sem medos dado que eu não as papo pois adotei a moda saudável de ser vegetariano já faz um tempo que estou sentado à sombra de 1 pinheiro que também habita comigo ali no canto onde lhe deu para estar e dá-me pinhas às vezes pinhões que eu amontoo numa tigela azul e branca da dinastia Ming que tenho na cozinha, foi uma namorada chinesa mesmo da China que m´a deu, o pai era podre de rico, segundo ela, mas fiquei sempre na dúvida se a peça era realmente verdadeira ou não, mas como não ligo a tais valores, o que me agradou foi a sua beleza singular. À superfície, na epiderme colorida, o branco e os azuis entrelaçados como fios de cabelos ondulados parecem dançar uma música que julgo escutar às vezes, quando o silêncio à volta se fecha e estou muito dentro. Quando acumulo forças suficientes, pego nos tais pinhões às mãos cheias e quebro-lhes as couraças, um a um atentamente, com uma pedra de estimação que tenho sempre à mão de semear para ocasiões mais determinantes.
Depois desta ocasional divagação, retorno à cabeça da pescadinha de rabo na boca que agora com o tempo já é uma serpente a morder a cauda que dá veneno, que também pode ser remédio, tantas vezes se dá este caso há esotéricos que o dizem, e o que eu nesta realidade pretendia dizer é que elas, as minhas amigas galinhas, têm uma relação íntima visceral com o Sol(1) que eu naturalmente também mantenho com todo o apreço deste mundo e dos outros, mas também gosto das estrelas e da lua e dos silêncios azuladamente brilhantes quando o são outras vezes nem por isso acontecem estas circunstâncias de 1 gajo estar ~ graças a Deus ~ a respirar mesmo vivo no meio destas montanhas onde o meu patrão sou eu não.
(Foz-Côa. Douro. Portugal)
(1) As galinhas a que me refiro, são umas
felizardas parolas nas aldeias pois em relação às suas irmãs macambúzias &
amordaçadas de todo (como os irmãos humanos) fechadas em infernos imaginados
por desalmados, onde claramente desconhecem o que é a noite. Foi através do
genuíno comportamento das 1ªs que surgiu o ditado popular: “fulano ou
sicrano deita-se com as galinhas”. Isto é, esse alguém mal se põe o sol já
está deitado a dormir, caso não sofra de insónias. Interessante! (ocorreu-me
agora). Nos meus tempos de intelectual puro & duro, deu-me para estudar com
muito afinco e múltiplas pesquisas no terreno, o pano de fundo ontológico
destes animais, digamos assim, e nunca apanhei uma só galinha acordada, com
insónias, ao lado da fileira em que se costumam organizar, mui meticulosamente,
para meu espanto na altura.
~ in, O Ouro Breve dos Dias. Livro
de contos.2021. J. A. M. ~
26.9.22
A Porta das Imagens
"Portal". Exposição SOMETHING is CALLING |
Por vezes, alguém põe um dedo na ferida. Quero dizer: alguém acorda a sombra geral dos seus nomes e os nomes mergulham nos ritmos do sangue e logo as mãos crescem para os lugares e os lugares crescem com elas e tudo fica mais Alto. Há quem passe, olhe de lado e continue a sua vida. Outros há que passam e se detêm por um pormenor mais chamativo.
Claro que todos os lados, todos os nomes são pretextos. E os lugares também. Nascemos e morremos por uma graça indomável perdida no tempo. Andamos às voltas disto tudo enquanto por dentro acordam e adormecem as sementes povoadas pelos estranhos frutos de uma sede sem fim.
Vozes e imagens que cantam a Vida e o exemplo dos milhares de sóis mesmo sabendo-se que para outros olhares, há um abismo memorial nas cabeças uma outra idade outra boca menos cercada pelos dons dos dias, na transformação dos corpos.
(in, “A Primeira Imagem “ , J. A. M.)
21.9.22
A propósito da Exposição de Artes Visuais: "SOMETHING is CALLING". (Inauguração a 24-09-22)
alguém passeia-se algures por caminhos e paisagens onde há pedras pelo chão e acontece-lhe curvar-se de repente, por algo que o chama sem dar-bem-por-isso e há um diamante entre as suas mãos, o olhar turva-se pelo brilho que o sOl, atento a tudo onde há vida, lhe oferece no mesmo instante e depois
há quem veja logo ali um presente, há quem não dê conta do vislumbre que lhe aconteceu e continue apegado aos seus hábitos, atirando o pequeno seixo para as águas de 1 rio que desliza por ali no seu natural ocaso indiferente a tudo isto.
Os hábitos escravizam, tornam-nos cegos.
Todos os dias acontecem coisas assim, parecem banais porque são diárias, mas não o são, não. Nada é banal nesta vida que nos está acontecendo.
( J.A.M.)