"Nem sempre podemos mudar as circunstâncias
mas sempre podemos mudar
as nossas atitudes em relação a elas."
textos poéticos e imagens & etc ~ José Alberto Mar ~
"Nem sempre podemos mudar as circunstâncias
mas sempre podemos mudar
as nossas atitudes em relação a elas."
“Um ser humano é parte de um todo chamado por nós de Universo, é uma parte limitada no tempo e no espaço. Ele experiencia-se a si mesmo, aos seus pensamentos e sentimentos, como alguma coisa separada do resto - uma espécie de ilusão de óptica da sua consciência. Essa ilusão é uma forma de prisão para nós. A nossa missão é libertarmo-nos dessa prisão, alargando os nossos círculos, para envolver todas as criaturas vivas e o todo da natureza na sua beleza.”
- Albert Einstein, “Ideas and Opinions”. 1954. (Tradução livre) -
Primeiro foi uma sensação a veludo nas mãos, a carne à flor da pele era macia de um modo tão suave a pedir só mansidão e elas, as mãos, transcorriam bêbedas com todos os seus 10 dedos nas polpas sensíveis e eu lá ao fundo, no final da sensação, navegava com toda a preguiça esboçada do mundo, por aquele mar de novidades que o teu corpo me emprestava no silêncio ofegante da noite.
Estavas ali deitada, absorta no teu sonho inteiro de ser escultura para as minhas mãos, e eu sentia-te a crescer nas ondas da respiração e de um lado e do outro, ambos éramos mais próximos, como se houvesse uma indeterminada luz pelo meio, que tínhamos de possuir exactamente ao mesmo tempo.
Tudo ilusão. E, no entanto não era. Eu estava ali, tu também, éramos dois corpos com as portas abertas de todo. A aragem das mãos esvoaçando sobre a tua pele de veludo, era o que sobrava do silêncio de chumbo, que os nossos corpos mortais no fundo faziam. Havia entre nós um nó inteiramente aceso por dentro, onde as línguas mais aprumadas já não soltam palavras.
E os gestos criavam outros mundos, onde só nós cabíamos, onde só nós éramos quase perfeitos, à espera de o sermos.
Brasil. Maranhão.2007
Os lençóis negros da noite desciam, tombavam, adormeciam colados uns aos outros, como folhas que se voltam a juntar.
Depois de várias voltas por N ruas obscuras da cidade pareceu-me que era por ali que a festa começava a fervilhar. No passeio de uma rua desamparada, encontrei um banco á minha espera e pedi mesmo ali á Sr.ª da rolote uma cerveja bem gelada. Recostei-me, costas com parede e vice-versa, e pus-me a pastar vacarosamente o olhar à volta. Havia de tudo o que era gente, jovens em grupos soltos e felizmente assim, pessoas solitárias, alguns com ar de quem procura desespiradamente libertarem-se daquilo, outros já mais ancorados nas suas derradeiras sortes, havia casais apaixonados que nem pássaros azurumbados, havia também mulheres de todas as cores, e as mais belas prendiam-me o olhar por mais tempo e depois, desapareciam pelas portas dos vários bares de onde se soltavam canções às molhadas e, de quando em quando tudo aquilo fundia-se no fundo mais fundo de mim próprio e dava-me sede para mais uma cerveja.
Por cima, a grande escuridão universal salpicada de estrelas e uma clara sensação de vastidão completamente alheada.
A incerta altura, uma menina sozinha, por dentro e por fora, aproximou-se de mim, de cerveja na mão e sentou-se a meu lado. Depois continuou calada, ancorada e eu também não de cerveja na mão. Encostou a sua tristeza desarmada no meu ombro abrigada e eu comecei a falar. As minhas palavras eram peixes criados ali, para o seu mar. Sem darmos por isso, pusemos os olhos nos olhos e começámo-nos a beijar. O seu fundo sereno tinha outro olhar. E uma paixão qualquer apareceu naquele lugar. Claro que o dia nasceu sem nos avisar.
(Brasil. Fortaleza.2003)