José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

21.3.17

Tríptico às Imagens Nuas.

 
1.º
 
Por vezes, alguém põe um dedo na ferida. Quero dizer: alguém acorda a sombra geral dos seus nomes e os nomes mergulham nos ritmos do sangue e logo as mãos crescem para os lugares e os lugares crescem com elas e tudo fica mais alto. Há quem passe, olhe de lado e continue a sua vida. Outros há que passam e se detêm por um pormenor mais chamativo.
 
2.º
 
Claro que todos os lados, todos os nomes são pretextos. E os lugares também. Nascemos e morremos por uma graça indomável perdida no tempo. Andamos às voltas disto tudo enquanto por dentro acordam e adormecem as sementes povoadas pelos estranhos frutos de uma sede sem fim.
 
3.º
 
Vozes e imagens que cantam a vida e o exemplo dos milhares de sóis mesmo sabendo-se que para outros olhares, há um abismo memorial nas cabeças uma outra idade outra boca menos cercada pelos dons dos dias, na transformação dos corpos.

 
( in, A Primeira Imagem, 1998)

 

 

Tribal Tribute (Beat Blasters)


18.3.17

la solitude


 
J.A.M. ( foto)
 
"Now that my house has burned down I have a better view of the sky"
~
"Agora que a minha casa ardeu eu tenho uma visão melhor do céu"

Imagens Afundadas na Memória (15ª)

 
 
Como um navio deixa nos olhos uma sombra em
movimento o mundo é um cais iluminado só por
um lado crescem as raízes das estrelas que os
dedos sonham apesar das palavras agora falo-te
assim como um navio vai de imagem em imagem,
lentissimamente, atravessando um instante sempre
atrás de outro o tempo é uma água calada que não
pára de navegar.
 
 
J.A.M.
 
(Retrospecivas. in, "A Primeira Imagem",1998)

16.3.17

Msg a Garcia

J.A.M. ( Foto trabalhada)
 
 
A criação de mil florestas está numa bolota”.
 
(Ralph Waldo Emerson)
~~~~~
"The creation of a thousand forests is in one acorn”.
 
(Ralph Waldo Emerson)

 
 
 
 

 
 


Barco Negro ( Amália Rodrigues) ~ English Subtitles


a viagem

série: diásporas.

 
JÁ  FUI  AO  PARAÍSO
 
Há coisas do diabo. Já fui ao Paraíso.
E voltei. Estava já quase acordado na cama do meu quarto no Hotel Europa, quando a Ana e a Joyce abriram a porte em leque cheias de sorrisos floridos e me convidaram para darmos um passeio pelas franjas de Gaibu. Lá me levantei um tanto ou quanto aturdido pelas caipirinhas da noitada anterior, mas depois de beber o coco fresco que me atiraram de chofre, vesti a t-shirt e os calções de sempre e lá fomos, que nem 1 trio harmonia pelo dia adiante
Passámos pela linda praia de Calhetas, onde vi ondas debruçadas sobre a própria espuma, depois de serem verde-esmeralda e azul-turquesa e também vi uma foto do jovem Eusébio no recatado bar lá do sítio, ao lado de N ilustres que por ali tinham po(u)sado algures, ao longo dos seus destinos. Depois, continuámos a caminhar por entre árvores, plantas e flores de muitas cores e aromas, Tudo era enorme, até que a certa altura, num morro inesperado e cheio de azul muito azul do céu, vi uma tabuleta tosca de madeira com a palavra: “PARAÍSO”. As minhas companheiras apanharam o meu ar aparvalhado e eu apanhei-as a sorrirem apenas cúmplices.
O que é que havia a dizer?
Lá descemos entretidos com os pés de cada um, a saltarem de pedra em pedra, até que desembocamos numa espécie de praia com a água muitomasmuito transparente e a areia era prateada pelo pôr-do-sol que se diluía pelas águas até ao esquecimento. Sentámo-nos a olhar e a escutar o mundo à volta através daquele ponto de vista, dentro do ponto de vista de cada um e os três sentados juntos com as 6 vistas desarmadas, despidas, deliradas. Já não sei e pouco me rala, o tempo (o tempo? J ) que poisámos ali, a respirar aquele lugar tão belo e simples irrealmente em tudo. Lembro-me vagamente que as palavras eram coisas a mais e a ninguém lhe passou pala cabeça falar de tal coisa.
Quando regressámos a Gaibu, numa camioneta que ainda circulava, já lá estava instalada uma festa claramente aberta á nossa espera.
 

J.A.M.
(Brasil. Pernambuco.Gaibu.2004. Alterada.2006; 2015; 2016;2017)

13.3.17

há anjos na noite & para eles o meu azul é pouco



















( J.A.M. ~ foto trabalhada)

(series: allucinations)

Msg a Garcia


lá por haver cegos, não quer dizer
que a luz não exista

(J.A.M.-1435)
J.A.M. ( série: pequenas sabedorias)
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


OCULTO REVELADO. - Mecânica Quântica -


Estrelas Apagadas



já a noite tinha sido iniciada, os pescadores juntos sentados calados curvados olhavam presos por um fio emaranhado de leves& ondulantes pensamentos o horizonte, como quem lia 1 texto antigo.
Entretanto as nuvens de um lado para o outro, fragmentariamente orquestradas pelo seu próprio destino, lá iam impavidamente diferentes. Nada se cruzava & tudo estava unido. Os barcos continuavam a balançar o cais. O mar sempre estivera ali como se fosse eterno. Como um eco longínquo que ainda perdura pelo poder dos olhares de muitas gerações.
E os pescadores aguardavam como quem espera e também não, a hora da partida. Em casa os filhotes mais novatos choramingavam por comidas diferentes e as mães afagavam-lhes os cabelos, com um sorriso junto ao aconchego do útero.
Os pescadores, disse-me um dia um amigo vagabundo nas viagens, viraram estátuas fixas e ali estancaram para o gáudio dos turistas que acudiam aos magotes e as crianças agora pediam moedinhas com uma vida inteira moribunda nos olhares.
 
 
José Alberto Mar

 (Out.2010.Modificado.Março.2016. Publicado no f.b. Março.2017))

10.3.17

Bom fim de semana ~ Good weekend













( Foto: J.A.M. - Galiza. España )

HÁ GENTE QUE MANDA NA GENTE PARA SE SENTIR GENTE

 

J.A.M.- O Grito (imagem trabalhada.)
 
Há "gente" que manda na gente, só para se sentir gente. Eu, cá para mim, não gosto  nada dessa "gente". Prefiro, de longe, a gente que gosta da gente, sem lhe apetecer mandar na gente. Pois, essa "gente", que só gosta de mandar em toda a outra gente para se julgar gente, cá para mim, não são gente, mesmo. Porque se essa "gente" fosse realmente gente, entendia claramente, que não é necessário haver gente-por-cima & gente-por-baixo, dado que toda a gente nasce despida e toda a gente vai desta para melhor, vestida por outra gente.
Mas, porque é que o raio que os parta, dessa "gente" que continua a mandar em toda a outra gente, não começa por saber mandar neles próprios, para se tornarem verdadeiramente gente?
 
 Essa "gente" é mentecapta, muito inteligentes sem dúvida mas com a inteligência ao serviço da estupidez, têm a lucidez do tamanho da astúcia,  são inequivocadamente infelizes, intranquilos, sem  paz por dentro, escuros, desalmados até, mas nós  a gente,  que culpa temos disso? Embora essa "gente" nos castigue  continuadamente por isso.
 
 
Gente deste & daquele ramo dessa árvore putrefacta, crentes disto & daquilo, governantes Grandes & governantezinhos pequenininhos, lá vê a gente aquela outra “gente” a continuar a mandar para nos ludibriar, escravizar, espezinhar, ignorar  & roubar a toda a minha nossa gente (…)
 
 
Claro que também há gente que se deixa levar  assim, por essa "gente" seguem-nos cegamente e então só é gente assim-assim  entre os muitos lados das gentes.
Nesta coisa de haver gentes, "ser ou não ser é“ mesmo a questão, pois cá para mim não há
meias-gentes, propriamente dito.
(...)

 

 

(Texto-esboço-inacabado-quiçá- Agosto.2007. Modificado.2009.Modifica.2017.)

Guerreiro com 2 hearts.Warrior with 2 corações

A Lei e a Liberdade



Não entendo essa ausência de rigor
dissipando a morte
no fundo insípido dos dias

Seja o que fôr que haja pelo menos uma vez
um olhar grandioso
sobre o grandioso mundo
que uma mão se liberte libertando a imagem
e seja pássaro, ideia ou nuvem
ou um íntimo segredo abraçado á vida.


(in, "s Mãos e as Margens". Ed. Limiar.1991.)

9.3.17

A Última Droga: Oxigénio.



















J.A.M. ( poster.cartaz.Imagem trabalhada)

Msg a Garcia


Tudo está á mão de semear.
Nós só apanhamos o que está á nossa altura.


( J.A.M. - séc. 21)

6.3.17

O Barco Noturno


 
Foto: J.A.M.
 
 
 
o barco, no alto mar
acesa é a noite que o desenha
contra o fundo estrelado enfim

o barco com a sua âncora abismada
as cores dos peixes estremecem
o silêncio fundo do que é sagrado

o barco como metáfora de alguém
que olha o horizonte alongado dentro.

 

 
(Maio.2010. Alterado.2016. Alterado.2017)



1.3.17

estrelas apagadas


 
 
já a noite tinha sido iniciada, os pescadores juntos sentados calados curvados olhavam presos por um fio emaranhado de leves & ondulantes pensamentos o horizonte, como quem lia 1 texto antigo.
Entretanto as nuvens de um lado para o outro, fragmentariamente orquestradas pelo seu próprio destino, lá iam impavidamente diferentes. Nada se cruzava & tudo estava unido. Os barcos continuavam a balançar o cais. O mar sempre estivera ali como se fosse eterno. Como um eco longínquo que ainda perdura pelo poder dos olhares de muitas gerações.
E os pescadores aguardavam como quem espera e também não, a hora da partida. Em casa os filhotes mais novatos choramingavam por comidas diferentes e as mães afagavam-lhes os cabelos, com um sorriso junto ao aconchego do útero.
 
Os pescadores, disse-me um dia um amigo vagabundo nas viagens, viraram estátuas fixas e ali estancaram para o gáudio dos turistas que acudiam aos magotes e as crianças agora pediam moedinhas com uma vida inteira moribunda nos olhares.




José Alberto Mar

(Out-.2010. Modificado.Março-2016)
 



 

 

a grandiosa dança ~ the great dance











J.A.M. (2000)

Nº 14 ( Ressureição)



" Eis que o Pai, coberto de suor por causa do Filho,
rogou do fundo do coração ao Senhor,
a quem, de fato, tudo é possível,
pois que cria todas as coisas. E pede-lhe para fazer sair de seu Corpo seu Filho,
Que o ressuscite.


O Senhor não deixa de escutar sua prece,

 e ordena ao Pai que durma.

Enquanto repousa na paz do sono,
faz cair do alto uma chuva
através da clara abóbada constelada,
Uma fecunda chuva de prata pura e verdadeira
,

que rega e enternece o coração paterno.

Ó Deus, ajude-nos também a obter Sua Graça! "

Ain't Got No, I Got Life ( Nina Simone )


27.2.17

o silêncio serpenteia-se nas ondas


 
O silêncio serpenteia-se nas ondas do ar a boca da noite abre as flores do coração curva os sons que tem sempre à mão e o tempo habita-nos mais ao sabermos nos olhos as sombras que se despedem das árvores onde os pássaros acolhem os primeiros tons do dia sob o lençol verde às tantas da manhã pelas cinco e tal ou quase assim começam a sinfonar uma visão acesa para quem esmorece ainda é cedo ainda há o segredo de haver um mundo contudo sagrado.
 

 ( José Alberto Mar.Cabo Verde. 2009. Transformado em Jan.2017)


 

21.2.17

Plateau

 
~ Dedicado ao meu amigo Victor Mendes ~
 
Uma mulher negra coberta de panos amarelos sentada num banco de madeira pintado de verde, no jardim. Ao lado um Sr. de camisa & calças vermelhas, também sentado num banco verde à sombra de uma árvore com folhas tenramente ainda.
O sino do relógio dá 6 badaladas bem compassadas ao ritmo do calor hoje abafado, será que vai chover?
Passam mulheres e mulherzinhas agrupadas, com as bundas arrebitadas todas janotas em direção à igreja já apinhada de crentes para a missa domingueira. Espreito discretamente e parece-me haver ali um fervor amornecido, uma entrega naturalmente física à devoção, neste caso católica, mas esta fé lá no fundo terá algum nº de porta?
No jardim, um casalinho namora espreguiçadamente num outro banco de cimento que já não tem cor. Ela deitada sobre o colo ali à mão de semear e ele com as mãos dedilhadas no corpo da paixão. No chão quente do dia as suas sombras estremecem quase sem darmos por isso, evolam-se no ar em formas de carne & paixão e até encantam as flores sonolentas à volta.
Volto a dar 1 longo passeio. No mercado tudo são cores que se mexem. E volto ao lugar. A meu lado está alguém com ar de quem já não espera nada e também não se rala com isso. Talvez esteja em plena divagação do seu ser, talvez seja o seu modo de estar, talvez a luz do seu olhar esteja toda estancada no pequeno sol de dentro, e o que é que eu terei haver com isto?
Passam mais meia-dúzia de moços coloridos, todos alegres, entretidos com eles próprios, em direção aos finais da missa. Ouço o barulho de uma moto bastante na estrada ao lado, e leva atrás um gajo de patins a deslizar por ali como gente grande, lá vai ele a espalhar o seu imenso sorriso branco pela cidade adiante, adiante que é sempre cedo para se ser feliz.


José Alberto Mar

Cabo Verde. Ilha de Santiago. Praia – 2008 (alterado a Fev.-2017)

 

 

 

 

O pássaro solar ~ The solar bird

 
Autor: J.A.M.
TRABALHOS DE 1 JARDINEIRO, Cadeira de Van Gogh – Porto.2012. 

COISAS COMUNS

 
 
há pessoas assim, chegam-nos sei lá de onde, instalam-se num lugar qualquer mais substantivo do nosso corpo onde ciclicamente amanhecemos & morremos e parece-me que as levamos connosco para todo os lados, sem darmos conta da leveza que nos dão.
 
E com o tempo, prolongam-nos entre palavras anónimas nas conversas mais íntimas, sem nada sabermos do que acontece e que importa?
 
 (Junho.2007)

Tempos de Sinais ~ Signal Times

Atravessado pelo zen


 
e... meus amigos:  o ar dentro das gaiolas está engaiolado?

eu conto-vos: para meu espanto, algo realmente aconteceu e fiquei perplexo :
várias vezes  o ar se tornou mais leve e aí as palavras que escrevia  eram sombras estranhas & quando o silêncio pesava 1 poukíssimo mais,  inventava à sorte outros sons: kaziar, ooom, latuuda, maçala, tarugui,lubeduma, mucussueje.... etecetera

no próprio ato da busca retornava ao silêncio vivo onde as mãos lembravam somente algo que se eleva
e levanta o ar
soprando nas gaiolas  risos criativos.


A bem dizer eu só estava ali, para aprender a estar.




(14-Agosto-2009. Transformado em Abril-2012)

14.2.17

Sei lá



Estremece a estrela que vive naturalmente aberta
à escuridão & nos 2 olhos cintila
o véu do instante, a aparência maior
do que é superfície e aí se afoga
na multidão dos dias

há tanta vida  mecânica


Vejo nos gestos o silêncio amparado
pelo silêncio que aspiro
o lugar onde qualquer semente pensa
sonhando com tudo
pois nada do que é fruto
acontece sozinho.


 

Set. - 2009

não entres tão depressa por essa noite tão clara.( Natalie Merchand)


13.1.17

porque nos cai o azul sobre as cabeças




(...) e agora, o barco já acordado no dia seguinte, descia preguiçadamente entre as duas margens de florestas e tudo eram verdesviajantes até à sua foz em Caburé, onde soube de um milagre: alguém aparecia à noite cavalgando um cavalo branco e esbelto sobre as águas do rio e era mulher diziam alguns outros, não sei mas gostaria de saber, pensei eu  e então fiquei por ali para ver a história e tudo aconteceu assim. Em silêncio:
De rompante, numa incerteza da escuridão, apareceu a imagem em fuga mesmo ali à frente dos nossos narizes e deixou uma brisa de espanto calado sobre quem olhava e depois, realmente maisnada. Todo o mundo se olhou, estranhadamente. Ninguém falou.(...)
 
 
José Alberto Mar
(Maranhão.Brasil)

6.12.16

Imagens Afundadas na Memória





Um rosto visitado pelo sol
por onde é fácil
estar no Mundo
afastar as margens dos  sentidos
olhar para a Terra e dizer: - é este
o meu destino.

Com uma mão cheia de pensamentos se fabricam
as casas das idades humanas.
Com outra mão cheia de sentimentos
se põe em cada lado o lado mais vivo
de uma vida.
Respiramos por intervalos
entre os desejos desalinhados das nossas luzes
mais solitárias & mais íntimas.
E, quando os dias se afastam
há um canto absoluto abandonado em cada rosto
e no lado mais fechado do nosso corpo
deus pergunta-nos o seu lugar.



( José Alberto Mar.in, A Primeira Imagem, Ed. Sol XXI. Lisboa.1998)

25.11.16

a real preguiça ~ the real laziness

 
 
( foto . J. A. M.)
~ . ~ . ~

"For every thing that lives is Holy."
( William Blake)

Série: Msg a Garcia.


"I don’t know how to be silent when my heart is speaking."
( Eu não sei  ficar em silêncio quando o meu coração está a falar)


(Fyodor Dostoyevsky, "White Nights and Other Stories", 1848)
 

 

22.11.16

eixos & volantes



pobres seixos ambulantes
aos ziguezagues tantos tontos
perantre as luzes ke não enxergam

mas, lá no fundo de si próprios
há uma vela acordada assistindo
insistindo
aos desalmados ventos ke inventam
onde respiram, circulam & carambolam.




(Set. 2010)

19.10.16

A Poesia



Entre o alimento vermelho da carne sorumbática
uma veia de ouro única. Poesia.

É preciso encarnar o corpo anónimo
saber estar atento
para quando o excesso do ouro
cega as flores á superfície.

Aliciadas pelo perfume as mãos impacientes
recolhem sob a cegueira o brilho primeiro
e expõem á vida a escura transparência de uma voz
transbordada pelas imensuráveis dimensões evocativas
o corpo o mundo os universos
e os restos de poeira sobre a epiderme das coisas.



( in, " O Triângulo de Ouro , Ed. Justiça e Paz, 1988)
Prémio Revelação de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores-
1997.

1.8.16

A Bula

 
 
~
É com muito gosto que coloco como introdução , um link de  - A Bula -, secção do jornal on-line "Correio do Porto" (http://www.correiodoporto.pt/) dirigido por Paulo Moreira Lopes, onde participo com 6 poemas e um texto-poético, a convite deste.
Os poemas têm uma bela ilustração da minha colega de artes Fernanda Santos.


~ Obrigado Paulo  M. Lopes e equipe do Correio do Porto ~


31.7.16

por uma unha negra

 
 
Foi um tempo obscuro, escuro, mesmo negro. Atravessei-o com a juventude espalhada pela idade e todos os mundos que podia a encherem-me a alma até às marcas afloradas na pele. Por vezes, pensava que enlouquecia e então abrigava-me nas casas do silêncio á espera de escutar o fio tremeluzente da minha voz mais íntima. Outras vezes, saía pelo mundo fora, á procura de mais dias & mais noites umas a seguir ás outras como primaveras que se devoram com muitas flores vivas a saltarem pela boca, pelos olhos, pelo corpo inteiro e esburacado. Conheci gente, pessoas, corpos habitados por alguém, outros nem por isso, cheguei a conhecer os mortos que continuam por aí, de um lado para o outro, como imagens atrapalhadas adiarem sei lá o quê. Também, confesso, cheguei a ser tocado por alguns seres humanos que me deram minúsculas estrelas duradoiras, muitas vezes sem eu dar por isso. Ainda hoje as guardo, como pedras preciosas, soltas entre os seixos das minhas margens.
Foi um tempo de procuras, em que passei por pontes & pontes e nem sequer as via nem os rios dedicados aos seus mares, nem os lugares de um lado e do outro, por onde gastava o meu destino possuído pela dourada cegueira da juventude e por todos os copos de veneno que encontrava. Vi alguns amigos caírem para o interior de uma luz que nunca mais os largou, foram assim sozinhos para longe e nuncanunca mais.
Após muitas paisagens, comecei a ver que tudo à minha volta eram imagens que se soltavam de dentro de mim, onde eu não era chamado para o caso, nem propriamente ninguém, mas no fim de contas todos estávamos lá: pessoas, animais, plantas, pedras, mundo, vida e todos os universos conhecidos e por conhecer.
Comecei a olhar mais a luz, a luz claramente acesa, a primeira que vem de dentro das pessoas e das coisas e descobri um centro que não é centro nenhum, apenas me desloco, despido e nu, de centro em centro, no mapa circular da minha idade.
Sempre, com 1 deus presente em tudo e o amor íntimo e distante pelo que passa por mim.
 
(2006)
 
 


26.7.16

Onde o Sol é mais Perto



Às vezes pego no bloco. Pego na caneta. Fico assim horas a fio a olhar

Depois
desço o olhar
1 pirilampo aqui outro acolá na espessura da noite deste jardim
por detrás da sebe da casa há um sobreiro com ramos rugosos onde a cortiça respira & cresce sem darmos por isso e as folhas todas juntas formam  uma cabeleira que estremece e dança, muito espaçadamente, com a aragem que sopra dos lados do mar.

De repente, os repuxos calaram-se. Gotas de água escorrem de folha em folha e depois apagam-se no chão onde as raízes das plantas absortas se abrem ao desejo da sede. E as folhas cintilam sob o peso da luz que desce dos candeeiros. E são belas assim, nos seus verdes flamejantes contra as obscuridades à volta. Na superfície azulada da piscina, estranhamente ondulada, está a lua estampadamente enorme.

 
(Algarve. 2009)

Série: pequenas sabedorias ~ Series small wisdoms

    - J. A. M. -

25.7.16

Signals Times ~ Tempos de Sinais

 
 - J.A.M.-

O MEDO DA ROSA


 
Eu sei a rosa da cor da luz ao amanhecer o mundo, a primeira imagem antes de qualquer palavra, antes do verbo, era deus e a sua solidão era deus a sonhar a minha vaidade de o imaginar assim, na soberba imensidão vazia, que nunca foi.
- Sei como a rosa se levantou, pétala a pétala, no seu fulgor de luz errante, hilariante e como o seu esforço vai adiante.
Sei e claro que não sei, a cor da rosa, nem a imagem da própria rosa, nem esse deus nada assim, de que vos falo só para me libertar de mim e assim pressentir nas palavras que semeio, esta assustadora liberdade de ser humano.
 
(2007)