José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

30.6.09

"SILÊNCIO INSURRECTO"

- Desenho. Rotring s/ papel. j.a.m. -


O silêncio serpenteia-se nas ondas do ar a boca da noite
abre as flores do coração curva os sons que tem sempre à
mão e o tempo habita-nos mais ao sabermos nos olhos as
sombras que se despedem das árvores onde os pássaros
acolhem os primeiros tons do dia sob o lençol verde às tantas
da manhã pelas cinco e tal ou quase assim começam
a sinfonar uma visão acesa para quem esmorece ainda é cedo
ainda é o segredo de haver um mundo contudo sagrado.


- in, Recomeço Límpido, no Centenário de José Gomes Ferreira.2000 -

DA PLANTA DOS PÉS ATÉ À RAÍZ DOS CABELOS

- Pintura. Guache s/ cartolina. j.a.m. -


Escuta
como o ar brilha em silêncio nas nossas veias lavradas e
os cometas dos sonhos transportam minuciosas luzes para
dentro da nossa escuridão, é um corpo sempre com um lado
esquecido, o ouro, dizes, navega pelo sangue entra e sai
pelos poros e o olhar torna-se o lugar das aparições,
inaugura o tempo que volta escondido sob os primeiros
sinais das madrugadas.


(in, A Primeira Imagem. ed. Sol XXI.1998)

IMGENS AFUNDADAS NA MEMÓRIA

-Desenho. Rotring s/papel. j.a.m. -

IMAGENS AFUNDADAS NA MEMÓRIA (Nº6)


Entrego ao Mundo
a forma de alguns segredos
transportados pela leveza distante
do tempo, em cada palavra eu
digo: uma vida
uma estrela que devolve a luz
e estremece no centro
dos seus contornos
deslocados destas lógicas onde
os instantes da fala
só deixam falar
o que já é transparente.


(in,A Primeira Imagem. Ed. Sol XXI.1998)




23.6.09

pensamento

(Desenho. Rotring s/ papel. j.a.m.)


"Nem sempre podemos mudar as circunstâncias

mas sempre podemos mudar

as nossas atitudes em relação a elas."

11.6.09

CIDADE VELHA. Ilha de S. Tiago. Cabo Verde

- Imagem construída a partir de fotos e pinturas realizadas no local.j.a.m -

Homenagem à Cidade Velha, uma das
7 MARAVILHAS DE PORTUGAL NO MUNDO

Poema Visual

(Imagem de j.a.m.-2009)

29.5.09

A Ilusão de Um "eu" Separado

Imagem fractal construída. j.a.m.

“Um ser humano é parte de um todo chamado por nós de Universo, é uma parte limitada no tempo e no espaço. Ele experiencia-se a si mesmo, aos seus pensamentos e sentimentos, como alguma coisa separada do resto - uma espécie de ilusão de óptica da sua consciência. Essa ilusão é uma forma de prisão para nós. A nossa missão é libertarmo-nos dessa prisão, alargando os nossos círculos, para envolver todas as criaturas vivas e o todo da natureza na sua beleza.”



- Albert Einstein, “Ideas and Opinions”. 1954. (Tradução livre) -

Jethro Tull (Aqualung )

27.5.09

Série: O(s) Grito(s) . A Escola Pública em Portugal

(Imagem construída. j.a.m. )


"Este governo desfigurou a escola pública. O modelo de avaliação docente que tentou implementar é uma fraude que só prejudica alunos, pais e professores. Partir a carreira docente em duas, de uma forma arbitrária e injusta, só teve uma motivação economicista, e promove o individualismo em vez do trabalho em equipa. A imposição dos directores burocratiza o ensino e diminui a democracia. Em nome da pacificação das escolas e de um ensino de qualidade, é urgente revogar estas medidas."


- in, blogue PROAVALIAÇÃO -

23.5.09

Brasil. Maranhão. Rio Preguiças. Foto de j.a.m.


ENCONTRO

Um barco desliza nas águas ao de leve sonoras.
Enquanto a noite desce como um lençol suavemente escuro
apagando o rio, que era azul
e agora já é um espelho prateado deitado sobre o mundo.
Alongado pela vastidão que se recolhe nos olhos de quem só olha.

Há em tudo uma paz impossível, e eu vejo o teu rosto e tu pareces não ser.
Olho-te de novo, e tu olhas-me assim:
tão perto e tão longe, no fundo de mim, que me deixas mais nu.
Eu sei:
és aquela que me ama do fundo das águas
que agora nos unem.
Eu sou aquele que procura
e te dá o silêncio inteiro das minhas duas mãos nas tuas.
Pois, no fim desta escuridão
somos sempre sozinhos.
A partir de agora, entre nós
não haverá mais segredos.


- In, Colectânea "Os Dias do Amor".Editora Ministério dos Livros.2009

22.5.09

ELIPSE PARA OS OLHOS

(Imagem transformada. j.a.m.)

Em cada gesto
um ofício sem idade
dizendo os corpos em sobressaltos
entre as coisas circulares do tempo.

E quem já esteve em muitos lugares
principia e acaba olhando o Mundo
pelas suas formas
e aí morre qualquer hábito
e a vastidão da Terra com sementes
há memória da Vida
e das coisas que acontecem.



- In, O Triângulo de Ouro.Ed. Justiça e Paz.1988
-
Prémio Revelação de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores.1987



UMA ROSA SEM TEMPO

(Turquia. Istambul. Foto de j.a.m.)

Há porém um estado de absoluta nostalgia
um coração selado sobre a emigração dos dias
com um rosto partilhado pelos segredos do Mundo.

Não é a voz, não é essa desordem da luz
nem a matéria ou a memória das palavras
é outra a sedução despojada de qualquer brilho
outra a distância abandonada lá no fundo vivo dos olhos.


- In, As Mãos e as Margens. Ed. Limiar. 1991 -



IMAGENS AFUNDADAS NA MEMÓRIA

Brasil. São Luís do Maranhão.2006 (foto de j.a.m.)


Os dedos sensíveis escutam as vozes
do sangue. Vibram, morrem devagar
nos gestos. Memórias e Mundos
na ilusão de um tempo e de um lugar.
Enquanto as luzes mais violentas
apagam os contornos
quando as asas do poema
chegam ao fim.



(Imagens afundadas na Memória.11ª.)
- In, A Primeira Imagem.1998 -

14.5.09

Às de Copas

- Pintura de Miguel D Alte -

SENSAÇÃO A VELUDO NAS MÃOS


Primeiro foi uma sensação a veludo nas mãos, a carne à flor da pele era macia de um modo tão suave a pedir só mansidão e elas, as mãos, transcorriam bêbedas com todos os seus 10 dedos nas polpas sensíveis e eu lá ao fundo, no final da sensação, navegava com toda a preguiça esboçada do mundo, por aquele mar de novidades que o teu corpo me emprestava no silêncio ofegante da noite.

Estavas ali deitada, absorta no teu sonho inteiro de ser escultura para as minhas mãos, e eu sentia-te a crescer nas ondas da respiração e de um lado e do outro, ambos éramos mais próximos, como se houvesse uma indeterminada luz pelo meio, que tínhamos de possuir exactamente ao mesmo tempo.

Tudo ilusão. E, no entanto não era. Eu estava ali, tu também, éramos dois corpos com as portas abertas de todo. A aragem das mãos esvoaçando sobre a tua pele de veludo, era o que sobrava do silêncio de chumbo, que os nossos corpos mortais no fundo faziam. Havia entre nós um nó inteiramente aceso por dentro, onde as línguas mais aprumadas já não soltam palavras.

E os gestos criavam outros mundos, onde só nós cabíamos, onde só nós éramos quase perfeitos, à espera de o sermos.



Brasil. Maranhão.2007

11.5.09

Brasil Maranhão.Pequenos- Lençóis. (Foto de j.a.m.)

9.5.09

Mauro, O POETA DA ILHA


Arrastava mais um pé do que o outro mas eu reparei no seu ar luminoso abrir airosamente a noite. Ia a passar perto do meu lugar e eu senti que podíamos trocar algumas luzes. Convidei-o a sentar-se ali, por baixo da grande árvore nocturna. Vi o seu olhar a inclinar-se para o meu copo cheio de
sol* e perguntei-lhe o que bebia. Não tardou a abrirem-se as nossas portas, uma de cada vez e cada uma no seu lugar mais claro e mais íntimo. Era um poeta e eu disse-lhe que também era um aprendiz de poeta.(Ele lembrou-se deste pormenor com um leve sorriso passado uns dias, quando à sombra de outra árvore mais diurna, voltámos a trocar meia-dúzia de luzes pessoais).
Mauro arrastava uma perna quando andava mas falava sem arrastar nenhuma das suas asas. Aí, crescia em voos cheios de altura e distância e às vezes, descia um pouco, para recitar um poema seu, que parecia ler no meu rosto. Eram sempre feitos de simplicidade e lonjura e eu ficava mais pequeno a escutá-lo e a olhá-lo com todo o orgulho do mundo, pois já éramos amigos.
Hoje, aqui noutro continente da Terra, vejo-o a erguer a noite da sua ilha, livre como sempre a cantar alegremente toda a escuridão que há na sua vida de poeta.



* marca de cerveja existente no Brasil.



Brasil. São Luis do Maranhão.2006

7.5.09

(Cachimbo da Paz)Gabriel O Pensador

(Meiri)


Os lençóis negros da noite desciam, tombavam, adormeciam colados uns aos outros, como folhas que se voltam a juntar.

Depois de várias voltas por N ruas obscuras da cidade pareceu-me que era por ali que a festa começava a fervilhar. No passeio de uma rua desamparada, encontrei um banco á minha espera e pedi mesmo ali á Sr.ª da rolote uma cerveja bem gelada. Recostei-me, costas com parede e vice-versa, e pus-me a pastar vacarosamente o olhar à volta. Havia de tudo o que era gente, jovens em grupos soltos e felizmente assim, pessoas solitárias, alguns com ar de quem procura desespiradamente libertarem-se daquilo, outros já mais ancorados nas suas derradeiras sortes, havia casais apaixonados que nem pássaros azurumbados, havia também mulheres de todas as cores, e as mais belas prendiam-me o olhar por mais tempo e depois, desapareciam pelas portas dos vários bares de onde se soltavam canções às molhadas e, de quando em quando tudo aquilo fundia-se no fundo mais fundo de mim próprio e dava-me sede para mais uma cerveja.

Por cima, a grande escuridão universal salpicada de estrelas e uma clara sensação de vastidão completamente alheada.

A incerta altura, uma menina sozinha, por dentro e por fora, aproximou-se de mim, de cerveja na mão e sentou-se a meu lado. Depois continuou calada, ancorada e eu também não de cerveja na mão. Encostou a sua tristeza desarmada no meu ombro abrigada e eu comecei a falar. As minhas palavras eram peixes criados ali, para o seu mar. Sem darmos por isso, pusemos os olhos nos olhos e começámo-nos a beijar. O seu fundo sereno tinha outro olhar. E uma paixão qualquer apareceu naquele lugar. Claro que o dia nasceu sem nos avisar.


(Brasil. Fortaleza.2003)