às vezes, de um modo inesperado, levanta-se um lençol qualquer
da memória e aparece-nos um lugar com luz e alguém lá dentro, como se tudo
acontecesse de novo.
Aconteceu-me hoje, com algo que foi a primeira vez há dois anos,
num local deste planeta agora distante, estava eu a olhar um pôr-do-sol e a
pensar na redondez do mundo e ao mesmo tempo, na sua vastidão sem medida e
todas as circunferências e espirais de tudo isto estavam a levar-me para longe.
Entretanto, alguém apareceu por ali, com os pés descalços e
apenas o manso som surdo de uma presença e eu demorei a desviar o olhar.(Estava
por lá, de onde é difícil, os regressos repentinos. Tinha que deslocar-me até
ao centro, voltar ao núcleo aceso do que eu julgo ser eu, e depois repetir-me
nos gestos, por aí…).
Mas, quando já estava em mim, deparei-me com alguém muito
sereno, distante até, com o olhar atirado ao deus-dará e pensei como há seres
humanos a sentirem as coisas mais simples e essenciais da vida. E no entanto,
são silenciosos ao largo dos seus horizontes, não são notícia nas T.V.s deste
mundo ruidoso demais, nem escurecem os dias dos outros.
Depois, acho que trocámos meia-dúzia de palavras, nem tanto, com
os 2 pares de olhos em pontes abertas entre si.
Despedimo-nos como dois bons amigos, e cada um foi para o seu
mundo continuar a cumprir o seu destino.
2-Out-2007