José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

23.8.21

todos parecemos ilhas

Pintura: J. A. M. 












Todos parecemos ilhas

todos temos as mesmas raízes

entrelaçadas no fundo da Terra

e do Sol.


( J. A. M.)


 

18.8.21

~ 16ª folha de 1 diário perdido ~

Foto: J. A. M. -2021

 

Sona Jobarteh está a entrar pelos lados onde as portas são mais negras. Para que as estrelas resplandeçam mais, nesta infindável noite.


Há na vocação das vozes um halo universal redondo é este planeta onde agora vivemos.


Como no mar: altas ondas outras nem tanto, a 7ª onda é sempre ouro nos sons alongados e por tal sortilégio algo em nós se expande mais. 
Tenho evidentemente os pés nus onde elas esmorecem e eu cresço.
Falo do amor. Falo sempre do amor.
 
Entretanto no mar~alto e no seu fundo, tudo parece sereno, adormecido, indiferente.
Mergulhei por aqui em noites de vãs esperanças. Cheguei a morrer: de encantamentos.
Regressei sempre 1 outro que não conhecia. Enquanto peixes translúcidos me trespassavam. E tudo era a mesma matéria, tudo estava sempre ligado a uma luz que de longe clamava. Os sons, as raízes dos sons de Sona Jobarteh, aproximavam tal mistério.
Era uma outra colheita para a alma, oura voz desconhecida cujas cores não chegavam a ter nomes, aqui neste mundo em que respiramos?
Cheio de tantas perguntas, regressava á minha cabana onde acendia uma vela. Eu vivia numa ilha, desconhecida dos mapas.
E tudo se tornava claro como um anel de sol virado do avesso. Dentro e fora de mim.


( Rascunho Nº2)
 

29.7.21

~ 15ª folha de 1 diário perdido ~

Obra de : J. A. M. 

 

Enquanto as palavras são sombras na frescura do Verão e as flores parecem sempre adormecidas pelos prados e as nuvens altas viajam em formas só delas, como te dizer os muitos nomes do espanto?
Como te dizer que tudo isto é, um outro Todo já revelado em ti?

A nossa vida, o nosso milagre sempre longe sempre em nós, onde há demónios e deuses e o nosso olhar se apaga no final dos dias.

Continuamos a dormir lençóis de sonos, visões que são nossas herdeiras enquanto Deus agita os seus 1001 braços nas suas mãos imensas alongadas em dedos luminosos por tudo sem algum fim, à vista desarmada.

 

 

Portugal-21/02/2021

( Rascunho Nº 5)

 

14.7.21

A 15-07-2021, Fecho a Porta da Exposição " DEIXO A PORTA ENTREABERTA". Mas continuo a deixar o meu coração aberto.


( Vídeo Arte.Video Art)
Trabalho baseado em estudos científicos, no campo da neurologia e neurocardiologia. O coração possui um campo complexo de células neurológicas. " Cerca de 40.000 células neuronais ". O campo magnético deste, é muito superior ao do cérebro.

(Ilações retiradas a partir do "HeartMath Institute", U.S.A.)

~

Work based on scientific studies, in the field of neurology and neurocardiology. The heart has a complex field of neurological cells. " About 40,000 neuronal cells ". Its magnetic field is much higher, when comparing to the brain.

(Conclusions, learned from the "HeartMath Institute", U.S.A.)


Autor: J. A. M. ~ Author: J. A. M. - 2020.

8.7.21

" DEIXO A PORTA ENTREABERTA "

Série: Pequenas sabedorias.Series: small wisdoms. J.A.M.




Depois de viajar por muitos universos, as asas descem
mais cegas
mais frágeis
apenas dois olhos na luz possível.
 
Por aqui, neste mundo, á minha volta: 2 universos, apenas: o Universo do Amor e o Universo do Medo.
Cada um com inúmeras portas e janelas e nomes encobertos e descobertos por onde se entra e sai e se volta a entrar e a sair. Quase eternamente. O círculo ou a espiral, ainda a sobrevivência do macaco nas demonstrações da luz ou a luz derramada em forma de cruz.
Tudo crenças.
Tudo inscrito, tudo escrito em todos os lados, dentro das cabeças, na água oceânica do interior dos corpos, nas paredes levantadas, por fora e por dentro, nas alegrias e na dor.



( Reino do ButãoJ.A.M. )


 


ARTEINFORMADO ( Espanha):

 


 

5.7.21

Apresentação do Livro "lusófono " de Contos.


 Sinopse simplificada:

 Livro de Contos, escritos em vários locais de Portugal, Brasil e Cabo Verde.

~ ~ ~


Após um interregno de duas décadas, o autor decidiu publicar o presente livro.

1ª Edição ( Ed. LeiaLivros). São Paulo. Brasil -2020.

2ª Edição (do autor). Porto. Portugal-2021.

 

Livros anteriores do autor (poesia):
 
O Triângulo de Ouro” (Prémio Revelação de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores – 1987 ), Editora Justiça e Paz, Porto, 1988.
 
As Mãos e as Margens”, Editora Limiar, Porto, 1991.
 
A Primeira Imagem”, Editora “Sol XXI” – Lisboa, 1998.
 
- Inúmeras colaborações em Antologias, Revistas culturais, Jornais, Blogues, Sites, etc. Em Portugal e vários países.


-O-

O OURO BREVE DOS DIAS


   Em o “Ouro Breve dos Dias” encontramos uma rota sem outro rumo que o deslumbramento. Nos vários pontos de passagem – Brasil, Cabo Verde, Portugal – o autor faz-nos seguir o seu olhar e apurar os sentidos através de uma escrita fortemente imagética e também inovadora pelas incursões neologísticas e originalidade das soluções frásicas. Afirma-se, então, um estilo com um forte sabor a “língua portuguesa”, num projeto de lusofonia aliciado, sim, pela variedade (veja-se as passagens em crioulo de Cabo Verde ou as sugestões sensuais na descrição das mulheres brasileiras), mas imbuído também do reconhecimento num sentir comum
   E é aí que o livro ganha um cunho universal pelo olhar humano do escritor, fascinado e despretensioso, que subjaz à sua tríplice condição de narrador, poeta e artista visual. Ou, de outo modo, partilhar dos “saberes” e “sabores” do viajante andarilho é também celebrar a vida.


(Poeta Sofia Moraes)


f.b. :https://www.facebook.com/josealberto.mar

Instagram: https://www.instagram.com/jose.alberto.mar/

 

1.7.21

Exposição de Artes Visuais

 

" Deixo a Porta Entreaberta " ( 26 Junho ~15  Julho. Porto. Portugal)


Tríptico às Imagens Nuas


 1.º

 Por vezes, alguém põe um dedo na ferida. Quero dizer: alguém acorda a sombra geral dos seus nomes e os nomes mergulham nos ritmos do sangue e logo as mãos crescem para os lugares e os lugares crescem com elas e tudo fica mais Alto. Há quem passe, olhe de lado e continue a sua vida. Outros há que passam e se detêm por um pormenor mais chamativo.

 2.º

Claro que todos os lados, todos os nomes são pretextos. E os lugares também. Nascemos e morremos por uma graça indomável perdida no tempo. Andamos às voltas disto tudo enquanto por dentro acordam e adormecem as sementes povoadas pelos estranhos frutos de uma sede sem fim.

 3.º

Vozes e imagens que cantam a Vida e o exemplo dos milhares de sóis mesmo sabendo-se que para outros olhares, há um abismo memorial nas cabeças uma outra idade outra boca menos cercada pelos dons dos dias, na transformação dos corpos.

 

 

(in, “ A Primeira Imagem “ , J. A. M. - 1998)

 


28.6.21

(Uma Foto) Inauguração da Exposição de Artes Visuais: " DEIXO A PORTA ENTREABERTA" ~ " I LEAVE THE DOOR AJAR "

Foto: José Melim ( 26-06-2021)


“ A gente encontra o próprio estilo, quando não consegue fazer
as coisas de outra maneira ”

~

 “ We find our own style, when we can't do things any other way ”

Paul Klee )




 

22.6.21

CONVITE GERAL ~ INVITACIÓN GENERAL ~ GENETAL INVITATION


“Mais uma vez, se nos afigura que o cunho inconfundível da arte de José Alberto Mar flui naturalmente da matriz existencial do poeta, pintor – e visionário - e de uma radical liberdade do ser e do estar como assumida celebração da vida. (…)”


“ Una vez más, parece que el sello  inconfundible del arte de José Alberto Mar fluye naturalmente de la matriz existencial del poeta, pintor - y visionario - y de una libertad radical de ser y ser como celebración asumida de la vida. (...) ”


“ (…) But again, it seems to us that the unmistakable imprint of José Alberto Mar's art flows naturally from the existential matrix of the poet, painter - and visionary - and also from a radical freedom of the being and the existing as an assumed celebration of life (…) ”


( Sofia Moraes. Portugal -2018 )

~ ~ ~


"Arte do futuro, no seu melhor "


"Arte del futuro, en su máxima expresión "


“ Future Art, at it's finest “ 


( Michael Iva - Chicago, U.S.A. -2019 )


 

19.6.21

Palavras, palavras, por vezes

" O LABIRINTO DE DÉDALO "( 100X100 cm ). J.  A.  M. 

    Palavras, palavras, por vezes cansado das palavras fico completamente à escuta, vazio por dentro, parado, virado para fora. Como se o meu corpo fosse uma harpa aberta aos sons que passam. E então há um outro sol a cobrir as formas do Mundo, o grandioso coração do Universo começa a bater como um pêndulo maduro, a água no corpo a murmurar lá no fundo como nos oceanos e a beleza epidérmica das coisas à volta aparece sem nomes, a vida total continua a transformar-se sem eira nem beira.
    E então, vejo que nada em mim é o que sei e sinto, nada em mim é apenas uma ilha a desenhar horizontes de palavras, letras que se juntam para criarem um círculo um entendimento, nada disto tudo faz sentido, sem a Luz e a vastidão da Terra com sementes e as flores e as plantas e as árvores e os frutos e as aves e as pessoas, as pessoas a encherem-nos os dias e as noites.

 

 ( Ilhas Desertas. Madeira. Portugal )

 

- in, Livro de Contos:  “ O Ouro Breve dos Dias “.  J. A. M. ( 2021 )

~ . ~ . ~ . ~


P.S. Primeiro lançamento em Portugal, por Thomas Bakk,  integrado na Exposição de Artes Visuais  
 " Deixo a Porta Entreaberta ~ I Leave the Door Ajar ".
 ( dia 10 de Julho). 


 

12.6.21

Exposição de Artes Visuais: " Deixo a Porta Entreaberta " . " I Leave the Door Ajar "




COMENTÁRIOS CRÍTICOS ~ CRITICAL COMMENTS:

 

 ( Exposição de Pintura – Desenho – Instalação Poética. “IMAGENS NUAS”. Biblioteca Municipal – V. N. Gaia-2005).

 

“(…) Na obra plástica e literária de José Alberto Mar - pintor e poeta, de motivações filosóficas, percorre-se num tempo de sensações, durante a energia vital das coisas do Homem, e das marcas que este vai deixando no seu labor (…) Na sua proposta encontramos com alguma facilidade laços de estreitamento que cruzam ou juntam civilizações do oriente com latino americanas, africanas e europeias. (…) São registos que a sua obra espalha, e nalguns casos com profunda evidência, sendo até comparáveis com as formas de padrões matemáticos e geométricos, desenvolvidos de há muito na China, na Mesopotâmia (…)  A obra na relação com o espectador cria um espaço orgânico cujo arquétipo é biológico, celular e vital (…)”

 

Prof. Dr. Rui Baptista



In the plastic and literary work of José Alberto Mar - painter and poet, with philosophical motivations, he travels in a time of sensations, during the vital energy of the things of Man, and of the marks that he is leaving in his work (…) In his proposal, we are able to find, with some ease,  close ties that cross or join civilizations from the east with latin american, african and european. (…) These are records that his work spreads, and in some cases with profound evidence, being even comparable with the forms of mathematical and geometric patterns, developed long ago in China, in Mesopotamia (…) The work in the relationship with the viewer creates an organic space whose archetype is biological, cellular and vital (…)”

 

Translation by: Diana Martins.


~ ~ ~

 

“LABIRINTO DE LUZES ~ LABYRINTH OF LIGHTS”. ( Exposição dedicada ao génio de Rafael Bordado Pinheiro), CCC - Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha – 2017)

 

REVELAÇÕES:


“(…) No alfabeto, que ao longo do seu percurso tem criado, reconhecemos a natureza (signos sugestivos de sóis, luas, borboletas, flores), o humano (cruzes, cabeças, corações, olhos) e formas ancestrais ou reinventadas numa caligrafia(1) aliada à cor sobre o branco mudo do papel. Ora, quando o conjunto das formas se compõe em sistema surge o estilo, pois em cada um dos dados visuais da obra se reconhece a presença de uma “totalidade” pela qual o autor se revela de forma dinâmica, deixando uma marca inconfundível da sua arte.(…)

Em suma, é de um universo que falamos nascido da correlação plurívoca de signos, sinais, visões, onde o artista se reflete em símbolos comunicantes, representando em cada quadro a sempre nova face de um sempre eterno mundo.

 

Poeta Sofia Moraes

 

(1)    Já em 1995, o pintor e crítico Eurico Gonçalves destacava a “pintura-escrita” de José Alberto Mar (in “VII Bienal de Cerveira-Tranquila e sem sobressaltos”. Diário de Notícias, 17.08.1995)

 

 REVELATIONS

 

“(…) The alphabet, which the artist along his way has been creating, allows us to recognize Nature (suggestive signs of suns, moons, seas, flowers), humans (crosses, heads, faces, eyes) and other ancestral or reinvented forms, a kind of icalligraphy (1) united to colour on the white muteness of a paper. However, when all the gathering forms are presented as a system a style arises, because in each visual element of this work we recognize the presence of a "whole" through which the author dynamically reveals himself leaving this way, a distinctive mark on his art. (…)

In short, it is from a new visual universe, a "a unique style", born from the plurivocal correlation of symbols, signs and visions, where the artist is reflected in communicating symbols, representing in each work the ever new face of an everlasting world ".

 

 

(1)    Already in 1995, had the painter and critic Eurico Gonçalves highlighted the “painting-writing” by José Alberto Mar (in “VII Bienal de Cerveira -Tranquila e sem sobressaltos”. Diário de Notícias, 17.08.1995)

 

Translation by: Isaura Pereira.


~ ~ ~


Exposição de Pintura: “o ouro breve das imagens”, Galeria QuadraSoltas, Porto - 2018)

 

Mundos (im)possíveis?


“(…) Mas, mais uma vez, também se nos afigura que o cunho inconfundível da arte de José Alberto Mar flui naturalmente da matriz existencial do poeta, pintor – e visionário - e de uma radical liberdade do ser e do estar como assumida celebração da vida. (…)”

 

Poeta Sofia Moraes.

 

 (IM)POSSIBLE WORLDS?


“(…) But again, it seems to us that the unmistakable imprint of José Alberto Mar's art flows naturally from the existential matrix of the poet, painter - and visionary - and also from a radical freedom of the being and the existing as an assumed celebration of life (…)”

 

Translation by: Isaura Pereira.


 ~ ~ ~


 “Arte Futura, no seu melhor”

“Future Art, at it's finest “

 

(Michael Iva - Chicago, U.S.A., 4-10-2019)


11.6.21

passeio a dois


( A Escada de Jacob. J. A. M.)











Era uma paisagem feita de distâncias, sons longínquos de um mar que apenas se pressentia e o leve aroma de flores silvestres que amadureciam o luar.
Caminhávamos com as mãos dadas e os rostos fixados algures no fundo do silêncio de cada um.
De vez em quando, inesperadamente, olhávamo-nos e criavam-se pontes que pareciam surgir de outros mundos. Já não havia palavras.
Depois tudo voltava a parecer normal.
Eram as paisagens que entravam em nós, e nós propriamente dito, apenas deambulávamos como dois espelhos transparentes.

 

J.A.M. (21-02-2021)


27.5.21

( aos amigos)

( Caminhos de Santiago. Póvoa do Varzim. Foto: J. A. M.) 













os amigos são como os dedos
nas mãos estelares dos encontros
enquanto falam outros escutam
enquanto olham a gente olha
as pontes que se inventam
entre os co(r)pos e o que acontece
ao sabor dos ecos dos brindes
nos corações de cada um.


( J. A. M. -2021)


 

21.5.21

( dos Encontros)


Um barco desliza nas águas ao de leve sonoras.
Enquanto a noite desce como um lençol suavemente escuro
apagando o rio, que era azul
e agora já é um espelho prateado deitado sob a lua.
Alongado pela vastidão que se recolhe nos olhos de quem só olha.


Há em tudo uma paz impossível, e eu vejo o teu rosto e tu pareces não ser.
Olho-te de novo, e tu olhas-me assim:
tão perto e tão longe, no fundo de mim, que me deixas mais nu.
Eu sei:
és aquela que me ama do fundo das águas
que agora nos unem.
Eu sou aquele que procura
e te entrega o silêncio inteiro das minhas duas mãos nas tuas.
Pois, no fim desta escuridão
somos sempre sozinhos.
A partir de agora, entre nós
não haverá mais segredos.

 

15.5.21

~ 14ª folha de 1 diário perdido ~

Foto: J. A. M. 

 

Foi há muito tempo ou talvez não. Vinha de um labirinto de colinas por onde tudo me encantava e acabei por desembocar num rio. Eu era uma criança.
Águas mansas sem barcos nem barqueiros, apenas as duas margens amparavam o meu olhar.
Deitava-me na relva fresca e aos poucos o sangue e a seiva misturavam-se. Demorava-me a sentir a terra e a olhar o céu.
Na altura, ainda havia muitos pássaros a deslizarem as suas sombras sobre as águas que, apenas por isso, se moviam.
Imaginei um mar, que na altura desconhecia, onde todos os rios se esquecem.
Imaginei muitas visões que, mas tarde descobri e outras esqueci.


4.5.21

~ 13ª folha de 1 diário perdido ~

Pintura: J. A. M. 

O mar tinha algumas ondas bravas. Todas acabavam por adormecer desaparecer nas mansas areias da praia. Também havia rochas grandes, pequenas e as outras. Tinham os mesmos lados molhados a brilharem ao sol que descia naturalmente para o outro lado do mundo.
Por vezes, bandos de gaivotas interrompiam o horizonte.
Junto aos nossos pés nus, seixos muitos estavam mais vivos com o sabor do sal e do sol.
E a música das ondas enchia o ar de sons que ardiam sem chamas nem fulgores.
Nós eramos apenas duas sombras divagadas, que tinham entrado por uma das portas destes momentos.


( Rascunho Nº 8)


 

30.4.21

~ hoje regressei ao Restaurante da Rosa ~

 


era uma porta vermelha

( preâmbulo )

 

    fui jantar ao chinês ali ao lado. A patroa, a Rosa, continua com o mesmo rosto que tinha há uns 10 anos, quando a conheci num outro restaurante ainda era empregada, continua com o mesmo corpo, até o jeito leve de cirandar por entre as mesas e aquele sorriso tão amplo como contido, que eu nunca cheguei mesmo até lá. Fascina-me esta mulher de tão longe, a modos que frágil e sempre tão atenta aos meus saqués. E depois venho-me embora a tentar desembrulhar-me daquele sorriso que vai comigo até outra coisa qualquer se atravessar no meu caminho.

 

era a mesma porta vermelha?

 

      Já há uns bons tempos que não ia a um restaurante chinês e então hoje, sei-lá-porquê, deu-me para ir ao Restaurante da Rosa, mas afinal a Rosa andava por outros jardins…                       
   Mal entrei, fui imediatamente recebido por uma jovem chinesinha que me abriu o espaço com uma larga simpatia que me surpreendeu. “isto já teve melhores dias”, pensei. Sentei-me, retribuindo q.b. a simpatia da menina com um sorriso repentinamente até sincero lá no fundo.
    Comi algo comestível, e o melhor foi a salada, mastiguei esquecidamente os vegetais que depeniquei na travessa, com o complemento direto de um Evel branco fresco e para enlaçar a coisa no fim: café e saqué de rosas. Enquanto o laço não acontecia, olhei à volta para os altos-relevos e as pinturas com o tal brilho eclético dos plásticos, o que me seduz muitas vezes são as palavras desenhadas em mandarim, e olhando-as traço a traço, invento traduções rocambolescas, pois só cada uma dá pano para mangas.
   Ponho-me a observar, comedidamente é claro, a empregada chinesa bem acompanhada pela luz morna do local, fininha, impávida, e tentei adivinhar-lhe algo de dentro dela mesmo, para além da epidérmica empatia já demonstrada.
     Não estava a ser fácil chegar a tais portos...
     O café e o respetivo anexo chegaram, a pikena estava por aqui há 1 ano, respondeu-me, com o seu ar naturalmente aprumado, já arranha o português do cardápio e até um pouco mais e, mais uma vez, aquela incerteza de eu a olhar, olhos nos olhos, e ela a espreitar-me sei lá de onde. Disse-lhe que era um antigo cliente da casa, perguntei-lhe onde parava a Rosa e ela disse algo de “Avero” (Aveiro?), acrescentei mais umas lérias oportunamente circunstanciais tentando prepará-la psicologicamente para me oferecer, por decisão própria se possível, o 2º saqué de rosas, que ao fim e ao cabo no tempo da Rosa era trigo limpo, ai que porra.
    E eu gosto deste “bagaço”, não sei bem se é pelo saqué em si e o seu efeito em mim, se é pelas rosas, pois eu amo todas as flores, a naturalidade com que entram em nós, eu amo as suas cores, eu amo os aromas, as suas elegâncias, os silêncios, as sombras, a permanente entrega aos outros e a si próprias, Oh! como eu amo as flores. Sempre tão tranquilas sempre à mão de semear de qualquer mão amiga ou matreira, eu amo despudoradamente estas criaturas de deus, que não se cansam de me ensinar coisas acerca das artes e da vida.
    Entretanto dediquei-me ao café e ao tal néctar, que acontece em cálices pequenos, rendilhados com dragões a fumegarem linhas curvas, e eis a piada da primeira descoberta: quando a coisa está cheia, a gente ao beber o primeiro gole repara que lá no fundo está uma sr.ª toda descascada numa pose abertamente descarada e a gente olha e das duas uma, ou ficamos enlevados eternamente por caminhos lúbricos & afins ou então continuamos a bebericar, pois em princípio é este o objetivo do ato, enquanto a provocação se vai diluindo no fundo vazio do olhar, até desaparecer de todo.
 
 
    Bá-lá, entretanto a música? suave & calma, obrigava o maralhal ali presente, demasiado próximo ao meu território, a amainar a algazarra com que tinha entrado, o que eu agradeci muda e convictamente aos músicos chineses, aos deuses chineses e também portugueses e a tudo o que ocasionalmente tinha contribuído para tal. Cansado de vislumbrear, pedi a conta, que remédio, com um gesto arredondado de uma só mão (mas ainda com umas ténues esperanças do que seria provável acontecer-me) e o tal saqué de borla Lá Surgiu, meticulosamente colocado ao lado do raio da conta. Enfim, vale mais tarde do que nunca, e rejubilei saborosamente por ter reavido tal privilégio, atirando o último trago goela abaixo e sentindo-me deliciado com o fogo que se extinguiu melodiosamente pelo corpo todo.
    Com tais sortilégios acontecidos, saí para a rua bem senhor de mim mesmo e do meu destino, fogueei 1 cigarro no meio da noite e algumas estrelas permitidas pela névoa citadina deixaram-me que tal acontecesse: neste antro insano de concorrências, foi milagre!
 
 
 
 
( Porto. Portugal )


25.4.21

( 25 de Abril de 2021 )

Imagem transformada. J.A. M. -2021

 

Poema em Saldo Nº25


Uma data que regressa sempre
transparente à cabeça
um sino pendular nas cavernas do corpo
e então escrevê-lo é abrir as potências
do sangue, dos pés até à raiz
dos cabelos, deixar crescer
a vida circular dos dias
pelo silêncio poderoso
se fundamenta um olhar
um sonho, uma estátua invisível
dentro da memória
ordena-se o esquecimento
mantendo sempre a respiração do Mundo
entre muitos e muitos horizontes.

 José Alberto Mar


 

- in, Blogue ABSORTO ( Publicado por Eduardo Graça, em 1999 )

http://absorto.blogspot.com/2014/04/poema-em-saldo-n-25-25-de-abril-40-anos.html

21.4.21

(encontro)

Pintura: J. A. M.











à-volta era um lugar que, mal entrámos, se tornou ausente. Talvez houvesse um espaço, um tempo, quatro olhos duas pontes comunicantes sobre algo circular o tampo de mármore da mesa onde as palavras caiam redondas, finitas e havia miríadas de estrelas a rebentarem no desamparo das mãos quando se tocavam. Bailando, bailando os dedos finos de uma alma sensível no fim das hastes, re/parei.

As gaivotas vinham açoitadas pelo mar sem pescadores e abriam lá fora os espaços altos à procura. Eram sombras nos intervalos apanhadas pelos acasos, quando olhava de soslaio pelas vidraças húmidas do café. Enquanto ambos estávamos num fogo adormecido apesar de darmos por ele.

À-volta havia os outros, longínquas sombras, e em poucos minutos nem sombras já aconteciam. Por dentro senti metafóricos desejos de serem mais, algo que só na altura sabia, cresciam para cima & para baixo como nas árvores a seiva, nas galáxias a luz.

Agora vejo como fui vago nessa travessia.  Luz dos teus olhos bebiam a minha sede. E, era uma sede viajada para dentro, ensaiada pelas danças do silêncio. Por onde perscrutava os teus altares aguardando vislumbrar o fino ouro do teu mistério.

 

 ( J. A. M. - Rascunho Nº 17)