(...) a despropósito, digo há anos entre os amigos do peito, quando me apetece falar: "a beleza derrota-me". Na escala dos exemplos, eles sabem, tanto falo de uma flor como de uma bela mulher. Na realidade é a única coisa na Vida, que me pode tornar escravo por pura e consciente vontade própria. No inicio destas circunstancias, andei desalmadamente a ler resmas de livros, à procura de uma resposta, filosofias, psicologias, escritas esotéricas, poetas - Mas... Os mais fora e dentro do assunto faziam perguntas como eu. Não há respostas. Há morais, religiões, e os outros eteceteras que amparam os desassossegos humanos. O caminho de cada é criado por cada um (....)
(Gaia-17/18-08-2010)
24.7.10
"Minhas palavras não são ditas, na realidade, para expressar algo, mas para indicar o inexprimível."
(Osho)
- "acho que entrei numa flor". Imagem Construída.J.A.M. -
o dia de amanhã é o que está mais perto de tudo. O agora ,estanca, parte-se, abre-se como um fruto a seu tempo, para que o tempo seja outro e haja uma viajem à-volta. Regressarei. Entretanto: vi tribos e tribos, muitos nomes e culturas, deixei-me atravessar por N mundos diferentes, vi o geral e o particular nos pormenores e em nenhum lugar fui estrangeiro. - Há em tudo algo de nós.
mais uma vez: a imagem de um barco a deslizar sobre as águas de um rio que continua pousado no seu sono vivo entranhado por dentro. E eu sou o barco e aquele que o vislumbra sentado numa varanda na margem do rio, a fumar um cachimbo que se prolonga em sinais, e com o olhar inteiramente debruçado sob a aparência de um esquecimento. É neste nó ou laço que vacilo, quando há tempestades de vozes no meio dos dias e tudo é alvoroçado a começar por dentro. Outras vezes, lembro a infância, as pequenas histórias já afundadas nos confins da memória e algo se ergue diante mim e diz-me em silêncio o que não serve a ninguém. Para cada um há 1 só caminho. Porque, cada um de nós é o seu rio e o seu barco e alguém que os olha.
(...)Outra mulher deitada com um ar de sofá cómodo e a olhar abertamente para quem a vê. Nada tem a perder. Mas, para quem a olha demorosamente, há no seu olhar algo de enigma que não é criado para o momento e é o que fica. Ligando-a realmente à vida. Repousa ali inteira no seu corpo, mas o seu ser humano é longe e é sempre mais.
(...) Esta é uma outra mulher, mais madura que exalta o seu corpo com um propósito evidente. Por detrás dela, há um pano de tenda com formas e cores aliciantes e escuras. - Serão as suas memórias? O seu espírito torna-se mais branco, na evidência da luz diurna que cai sobre ela.
Uma mulher contra um muro. Encostada ao de leve, como quem ampara algo sem nome e prende à sua frente a sombra que a desafia. Olhando para o chão. Um lugar que não se vê, porque é evidente espelhado nos olhos, que este ser consente no rosto inclinado. Será o subterrâneo medo de estar viva ou o seu natural segredo de ser mulher, exposto a este mundo assim?
Entre o alimento vermelho da carne sorumbática uma veia de ouro única: poesia.
É preciso encarnar o corpo anónimo saber estar atento para quando o excesso do ouro cega as flores à superfície.
Aliciadas pelo perfume as mãos impacientes recolhem sob a cegueira o brilho primeiro e expõem à vida a escura transparência de uma voz transbordada pelas imensuráveis dimensões evocativas o corpo, o Mundo, os Universos e os restos de poeira sobre a epiderme das coisas.
(in, O Triângulo de Ouro", Ed. Justiça e Paz.1988)
"Matilde Rosa Araújo, que hoje morreu em Lisboa, aos 89 anos, será lembrada como um nome decisivo da literatura infanto-juvenil portuguesa da segunda metade do século XX. Mas essa foi apenas uma das dimensões de uma vida da qual se pode dizer, que foi inteiramente dedicada às crianças. Enquanto escritora, mas também como professora, pedagoga e activista militante de instituições como a Unicef ou Instituto de Apoio à Criança."
Era Verão.Estávamos no mês não-sei-quê do ano de 1988, salvo erro.Desci a Lisboa ( com um bom grupo de amigos)para receber da Associação Portuguesa de Escritores o Prémio Revelação de Poesia,-1987, pelo conjunto de poemas intitulados" O Triângulo de Ouro".
Dos elementos do júri, salientaram o Poeta/Escritor António Ramos Rosa. O J.O. Travanca-Rego fez o discurso que caiu bem naquelas circunstâncias. Eu estava ali, entalado entre o orgulho ( simulado) de ter sido o "eleito" e a premente necessidade de ter 1 cheque nas mãos para pagar as despesas à cambada que tinha trazido comigo.
No fim daquilo, houve uma Sr.a, bem sénior, que se dirigiu a mim, em passos lentos medidos pela idade e me estendeu a mão direita dizendo apenas: "parabéns!"
Eu agradeci, claro, e lembro-me de ver nos olhos daquele ser humano, uma sinceridade e uma generosidade, muito muito raras.
Só muito mais tarde soube que se tratava da Escritora Matilde Rosa Araújo.
Que as rosas sejam brancas e leves no seu novo mundo!
P.S.(Outros vieram falar-me de editoras, negócios & outras trapalhadas, mas eu não estava preparado para aquilo).
Um dia destes restarão os prodígios a maturidade do destino aberto em flor branca, branca será a demonstração e eu falo como alguém sem provas caminhando ao longo da sua intuição e dos seus silêncio acordados.
A vossa vida está cheia de dores e de milagres por cumprir e no entanto, o vosso sono não me espanta pois já dormi convicto do contrário. Mas, agora há novas luzes por aqui que sacodem as manhãs agitadas dos vossos corações impacientes.
Há em tudo isto, um espanto ou pelo menos, um indício de estranheza algo que é duplo em vós, embora longe algo já ressoa no vosso fundo desatento e, no entanto - digo eu - o que dizer? se só escuto o sentir uníssono deste universo onde me transformo.
" PORTUGAL GANHOU ? " 600 MOVOS MILIONÁRIOS EM ANO DE CRISE, pois
" A crise em que mergulhou o País durante o ano passado não impediu que a lista de portugueses com uma fortuna avaliada em mais de um milhão de dólares (815 mil euros) ganhasse 600 novos nomes. De acordo com o estudo World Wealth Report 2009, elaborado em conjunto pela Capgemini e Merrill Lynch, no final de 2009 havia em Portugal um total de 11 mil milionários, um número que representa um crescimento de 5,5% face aos 10 400 milionários registados no relatório de 2008."
"Nós estamos num estado comparável somente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento de caracteres, mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá ...vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par , a Grécia e Portugal".
Enquanto todos os instantes de uma vida desenham a superfície do rosto e o olhar aprende a ser uma porta para a eternidade cada dia é uma entrada uma saída e no fundo do corpo fica um halo de imagens cercadas pela surpresa calada do Mundo.
(in, A Primeira Imagem. José Alberto Mar. Editora Sol XXI.1998)