Autor: J. A. M. ( /80)
22.3.17
Alguém passeia-se porque lhe deu para tal
Alguém passeia-se algures
por caminhos e paisagens onde há pedras pelo chão e acontece-lhe curvar-se de
repente, por algo que o chama sem dar-bem-por-isso e há um diamante entre as
suas mãos, o olhar turva-se pelo brilho demasiado naquele instante mediático que
também o sol, atento a tudo onde há vida, lhe oferece e depois?
Há quem logo veja ali um presente, há quem não dê conta do
vislumbre que lhe aconteceu e continue apegado aos seus hábitos, atirando o
pequeno calhau para as águas do rio que desliza por ali no seu ocaso indiferente
a tudo isto.
Os hábitos escravizam tornam-nos cegos.
Todos os dias acontecem coisas assim, parecem banais porque são diárias, mas não o são, não.
Nada é banal nesta vida que nos está acontecendo.
Todos os dias acontecem coisas assim, parecem banais porque são diárias, mas não o são, não.
Nada é banal nesta vida que nos está acontecendo.
E por aqui os diamantes
não têm quaisquer preços, são iluminadas fontes metafóricas, criados pela infindável sede que também vive nos profundos lençóis da Terra:
Quanto demora uma
árvore a ser luz?
(J.A.M. - Bhutan. Agosto-2010. Alterado.2016.Alerado.2017)
21.3.17
Tríptico às Imagens Nuas.
1.º
Por vezes,
alguém põe um dedo na ferida. Quero dizer: alguém acorda a sombra geral dos
seus nomes e os nomes mergulham nos ritmos do sangue e logo as mãos crescem
para os lugares e os lugares crescem com elas e tudo fica mais alto. Há quem
passe, olhe de lado e continue a sua vida. Outros há que passam e se detêm por
um pormenor mais chamativo.
2.º
Claro que
todos os lados, todos os nomes são pretextos. E os lugares também. Nascemos e
morremos por uma graça indomável perdida no tempo. Andamos às voltas disto tudo
enquanto por dentro acordam e adormecem as sementes povoadas pelos estranhos
frutos de uma sede sem fim.
3.º
Vozes e
imagens que cantam a vida e o exemplo dos milhares de sóis mesmo sabendo-se que
para outros olhares, há um abismo memorial nas cabeças uma outra idade outra
boca menos cercada pelos dons dos dias, na transformação dos corpos.
18.3.17
la solitude
J.A.M. ( foto)
"Now that my house has
burned down I have a better view of the sky"
~
"Agora que a minha casa ardeu eu tenho uma visão
melhor do céu"
Imagens Afundadas na Memória (15ª)
Como um navio deixa nos olhos uma sombra em
movimento o mundo é um cais iluminado só por
um lado crescem as raízes das estrelas que os
dedos sonham apesar das palavras agora falo-te
assim como um navio vai de imagem em imagem,
lentissimamente, atravessando um instante sempre
atrás de outro o tempo é uma água calada que não
pára de navegar.
J.A.M.
(Retrospecivas. in, "A Primeira Imagem",1998)
17.3.17
16.3.17
Msg a Garcia
J.A.M. ( Foto trabalhada)
“A criação de mil
florestas está numa bolota”.
(Ralph Waldo Emerson)
~~~~~
"The creation of a thousand forests is in one acorn”.
série: diásporas.
JÁ FUI AO PARAÍSO
Há coisas do
diabo. Já fui ao Paraíso.
E voltei.
Estava já quase acordado na cama do meu quarto no Hotel Europa, quando a Ana e
a Joyce abriram a porte em leque cheias de sorrisos floridos e me convidaram
para darmos um passeio pelas franjas de Gaibu. Lá me levantei um tanto ou
quanto aturdido pelas caipirinhas da noitada anterior, mas depois de beber o
coco fresco que me atiraram de chofre, vesti a t-shirt e os calções de sempre e
lá fomos, que nem 1 trio harmonia pelo dia adiante
Passámos pela
linda praia de Calhetas, onde vi ondas debruçadas sobre a própria espuma,
depois de serem verde-esmeralda e azul-turquesa e também vi uma foto do jovem
Eusébio no recatado bar lá do sítio, ao lado de N ilustres que por ali tinham
po(u)sado algures, ao longo dos seus destinos. Depois, continuámos a caminhar
por entre árvores, plantas e flores de muitas cores e aromas, Tudo era enorme,
até que a certa altura, num morro inesperado e cheio de azul muito azul do céu,
vi uma tabuleta tosca de madeira com a palavra: “PARAÍSO”. As minhas
companheiras apanharam o meu ar aparvalhado e eu apanhei-as a sorrirem apenas cúmplices.
O que é que
havia a dizer?
Lá descemos entretidos com os pés de cada um,
a saltarem de pedra em pedra, até que desembocamos numa espécie de praia com a
água muitomasmuito transparente e a areia era prateada pelo pôr-do-sol que se
diluía pelas águas até ao esquecimento. Sentámo-nos a olhar e a escutar o mundo
à volta através daquele ponto de vista, dentro do ponto de vista de cada um e
os três sentados juntos com as 6 vistas desarmadas, despidas, deliradas. Já não
sei e pouco me rala, o tempo (o tempo? J ) que poisámos ali, a
respirar aquele lugar tão belo e simples irrealmente em tudo. Lembro-me
vagamente que as palavras eram coisas a mais e a ninguém lhe passou pala cabeça
falar de tal coisa.
Quando
regressámos a Gaibu, numa camioneta que ainda circulava, já lá estava instalada
uma festa claramente aberta á nossa espera.
J.A.M.
(Brasil. Pernambuco.Gaibu.2004. Alterada.2006;
2015; 2016;2017)
13.3.17
Msg a Garcia
lá por haver cegos, não quer dizer
que a luz não exista
(J.A.M.-1435)
J.A.M. ( série: pequenas sabedorias)
Estrelas Apagadas
já a noite tinha sido iniciada, os pescadores juntos sentados calados curvados olhavam presos por um fio emaranhado de leves& ondulantes pensamentos o horizonte, como quem lia 1 texto antigo.
Entretanto as nuvens de um lado para o outro, fragmentariamente orquestradas pelo seu próprio destino, lá iam impavidamente diferentes. Nada se cruzava & tudo estava unido. Os barcos continuavam a balançar o cais. O mar sempre estivera ali como se fosse eterno. Como um eco longínquo que ainda perdura pelo poder dos olhares de muitas gerações.
E os pescadores aguardavam como quem espera e também não, a hora da partida. Em casa os filhotes mais novatos choramingavam por comidas diferentes e as mães afagavam-lhes os cabelos, com um sorriso junto ao aconchego do útero.
Entretanto as nuvens de um lado para o outro, fragmentariamente orquestradas pelo seu próprio destino, lá iam impavidamente diferentes. Nada se cruzava & tudo estava unido. Os barcos continuavam a balançar o cais. O mar sempre estivera ali como se fosse eterno. Como um eco longínquo que ainda perdura pelo poder dos olhares de muitas gerações.
E os pescadores aguardavam como quem espera e também não, a hora da partida. Em casa os filhotes mais novatos choramingavam por comidas diferentes e as mães afagavam-lhes os cabelos, com um sorriso junto ao aconchego do útero.
Os pescadores, disse-me um dia um amigo vagabundo nas viagens, viraram estátuas fixas e ali estancaram para o gáudio dos turistas que acudiam aos magotes e as crianças agora pediam moedinhas com uma vida inteira moribunda nos olhares.
José Alberto Mar
(Out.2010.Modificado.Março.2016. Publicado no f.b. Março.2017))
12.3.17
10.3.17
HÁ GENTE QUE MANDA NA GENTE PARA SE SENTIR GENTE
J.A.M.- O Grito (imagem trabalhada.)
Há "gente" que manda na gente, só para se
sentir gente. Eu, cá para mim, não gosto
nada dessa "gente". Prefiro, de longe, a gente que gosta da
gente, sem lhe apetecer mandar na gente. Pois, essa "gente", que só
gosta de mandar em toda a outra gente para se julgar gente, cá para mim, não
são gente, mesmo. Porque se essa "gente" fosse realmente gente,
entendia claramente, que não é necessário haver gente-por-cima &
gente-por-baixo, dado que toda a gente nasce despida e toda a gente vai desta
para melhor, vestida por outra gente.
Mas, porque é que o raio que os parta, dessa
"gente" que continua a mandar em toda a outra gente, não começa por
saber mandar neles próprios, para se tornarem verdadeiramente gente?
Essa
"gente" é mentecapta, muito inteligentes sem dúvida mas com a
inteligência ao serviço da estupidez, têm a lucidez do tamanho da astúcia, são inequivocadamente infelizes,
intranquilos, sem paz por dentro, escuros, desalmados até, mas
nós a gente, que culpa temos disso? Embora essa
"gente" nos castigue
continuadamente por isso.
Gente deste & daquele ramo dessa árvore putrefacta,
crentes disto & daquilo, governantes Grandes & governantezinhos
pequenininhos, lá vê a gente aquela outra “gente” a continuar a mandar para nos
ludibriar, escravizar, espezinhar, ignorar
& roubar a toda a minha nossa gente
(…)
Claro que também há gente que se deixa levar assim, por essa "gente" seguem-nos cegamente e então só
é gente assim-assim entre os muitos
lados das gentes.
Nesta coisa de haver gentes, "ser ou não ser é“ mesmo a questão, pois
cá para mim não há
meias-gentes, propriamente dito.
(...)
(Texto-esboço-inacabado-quiçá-
Agosto.2007. Modificado.2009.Modifica.2017.)
A Lei e a Liberdade
Não entendo essa ausência de rigor
dissipando a morte
no fundo insípido dos dias
Seja o que fôr que haja pelo menos uma vez
um olhar grandioso
sobre o grandioso mundo
que uma mão se liberte libertando a imagem
e seja pássaro, ideia ou nuvem
ou um íntimo segredo abraçado á vida.
(in, "s Mãos e as Margens". Ed. Limiar.1991.)
9.3.17
Msg a Garcia
Tudo está á mão de semear.
Nós só apanhamos o que está á nossa altura.
( J.A.M. - séc. 21)
6.3.17
O Barco Noturno
Foto: J.A.M.
o barco, no alto mar
acesa é a noite que o desenha
acesa é a noite que o desenha
contra o fundo estrelado
enfim
o barco com a sua âncora
abismada
as cores dos
peixes estremecem
o silêncio fundo do que é sagrado
o silêncio fundo do que é sagrado
o barco como metáfora de
alguém
que olha o horizonte alongado dentro.
que olha o horizonte alongado dentro.
(Maio.2010. Alterado.2016. Alterado.2017)
5.3.17
1.3.17
estrelas apagadas
já a noite tinha sido iniciada, os pescadores
juntos sentados calados curvados olhavam presos por um fio emaranhado de leves
& ondulantes pensamentos o horizonte, como quem lia 1 texto antigo.
Entretanto as nuvens de um lado para o outro,
fragmentariamente orquestradas pelo seu próprio destino, lá iam impavidamente
diferentes. Nada se cruzava & tudo estava unido. Os barcos continuavam a
balançar o cais. O mar sempre estivera ali como se fosse eterno. Como um eco
longínquo que ainda perdura pelo poder dos olhares de muitas gerações.
E os pescadores aguardavam como quem espera e
também não, a hora da partida. Em casa os filhotes mais novatos choramingavam
por comidas diferentes e as mães afagavam-lhes os cabelos, com um sorriso junto ao
aconchego do útero.
Os pescadores, disse-me um dia um amigo
vagabundo nas viagens, viraram estátuas fixas e ali estancaram para o gáudio
dos turistas que acudiam aos magotes e as crianças agora pediam moedinhas com
uma vida inteira moribunda nos olhares.
(Out-.2010. Modificado.Março-2016)
Nº 14 ( Ressureição)
" Eis que o Pai, coberto de suor por causa do Filho,
rogou do fundo do coração ao Senhor,
a quem, de fato, tudo é possível,
pois que cria todas as coisas. E pede-lhe para fazer sair de seu Corpo seu Filho,
Que o ressuscite.
O Senhor não deixa de escutar sua prece,
e ordena ao Pai que durma.
Enquanto repousa na paz do sono,
faz cair do alto uma chuva
através da clara abóbada constelada,
Uma fecunda chuva de prata pura e verdadeira,
que rega e enternece o coração paterno.
Ó Deus, ajude-nos também a obter Sua Graça! "
27.2.17
o silêncio serpenteia-se nas ondas
O
silêncio serpenteia-se nas ondas do ar a boca da noite abre as flores do
coração curva os sons que tem sempre à mão e o tempo habita-nos mais ao
sabermos nos olhos as sombras que se despedem das árvores onde os pássaros
acolhem os primeiros tons do dia sob o lençol verde às tantas da manhã pelas
cinco e tal ou quase assim começam a
sinfonar uma visão acesa para quem esmorece ainda é cedo ainda há o segredo de
haver um mundo contudo sagrado.
21.2.17
Plateau
~ Dedicado ao meu amigo Victor Mendes ~
Uma
mulher negra coberta de panos amarelos sentada num banco de madeira pintado de
verde, no jardim. Ao lado um Sr. de camisa & calças vermelhas, também
sentado num banco verde à sombra de uma árvore com folhas tenramente ainda.
O
sino do relógio dá 6 badaladas bem compassadas ao ritmo do calor hoje abafado,
será que vai chover?
Passam
mulheres e mulherzinhas agrupadas, com as bundas arrebitadas todas janotas em
direção à igreja já apinhada de crentes para a missa domingueira. Espreito
discretamente e parece-me haver ali um fervor amornecido, uma entrega
naturalmente física à devoção, neste caso católica, mas esta fé lá no fundo
terá algum nº de porta?
No
jardim, um casalinho namora espreguiçadamente num outro banco de cimento que já
não tem cor. Ela deitada sobre o colo ali à mão de semear e ele com as mãos
dedilhadas no corpo da paixão. No chão quente do dia as suas sombras estremecem
quase sem darmos por isso, evolam-se no ar em formas de carne & paixão e
até encantam as flores sonolentas à volta.
Volto
a dar 1 longo passeio. No mercado tudo são cores que se mexem. E volto ao
lugar. A meu lado está alguém com ar de quem já não espera nada e também não se
rala com isso. Talvez esteja em plena divagação do seu ser, talvez seja o seu
modo de estar, talvez a luz do seu olhar esteja toda estancada no pequeno sol
de dentro, e o que é que eu terei haver com isto?
Passam
mais meia-dúzia de moços coloridos, todos alegres, entretidos com eles
próprios, em direção aos finais da missa. Ouço o barulho de uma moto bastante
na estrada ao lado, e leva atrás um gajo de patins a deslizar por ali como gente
grande, lá vai ele a espalhar o seu imenso sorriso branco pela cidade adiante,
adiante que é sempre cedo para se ser feliz.
José Alberto Mar
José Alberto Mar
Cabo Verde. Ilha de Santiago. Praia – 2008 (alterado a Fev.-2017)
COISAS COMUNS
há pessoas assim, chegam-nos sei lá de onde, instalam-se num lugar qualquer mais substantivo do nosso corpo onde ciclicamente amanhecemos & morremos e parece-me que as levamos connosco para todo os lados, sem darmos conta da leveza que nos dão.
E com o tempo, prolongam-nos entre palavras anónimas nas conversas mais íntimas, sem nada sabermos do que acontece e que importa?
Atravessado pelo zen
e... meus amigos: o ar dentro das gaiolas está engaiolado?
eu conto-vos: para meu espanto, algo realmente aconteceu e fiquei perplexo :
várias vezes o ar se tornou mais leve e aí as palavras que escrevia eram sombras estranhas & quando o silêncio pesava 1 poukíssimo mais, inventava à sorte outros sons: kaziar, ooom, latuuda, maçala, tarugui,lubeduma, mucussueje.... etecetera
no próprio ato da busca retornava ao silêncio vivo onde as mãos lembravam somente algo que se eleva
e levanta o ar
e levanta o ar
soprando nas gaiolas risos criativos.
A bem dizer eu só estava ali, para aprender a estar.
17.2.17
16.2.17
14.2.17
Sei lá
Estremece a estrela que vive naturalmente aberta
à escuridão & nos 2 olhos cintila
o véu do instante, a aparência maior
do que é superfície e aí se afoga
na multidão dos dias
há tanta vida mecânica
Vejo nos gestos o silêncio amparado
pelo silêncio que aspiro
o lugar onde qualquer semente pensa
sonhando com tudo
pois nada do que é fruto
acontece sozinho.
Set.
- 2009
13.1.17
porque nos cai o azul sobre as cabeças
(...) e agora, o barco já acordado no dia seguinte, descia preguiçadamente entre as duas margens de florestas e tudo eram verdesviajantes até à sua foz em Caburé, onde soube de um milagre: alguém aparecia à noite cavalgando um cavalo branco e esbelto sobre as águas do rio e era mulher diziam alguns outros, não sei mas gostaria de saber, pensei eu e então fiquei por ali para ver a história e tudo aconteceu assim. Em silêncio:
De rompante, numa incerteza da escuridão, apareceu a imagem em fuga mesmo ali à frente dos nossos narizes e deixou uma brisa de espanto calado sobre quem olhava e depois, realmente maisnada. Todo o mundo se olhou, estranhadamente. Ninguém falou.(...)
José Alberto Mar
(Maranhão.Brasil)
(Maranhão.Brasil)
1.1.17
6.12.16
Imagens Afundadas na Memória
1º
Um rosto visitado pelo sol
por onde é fácil
estar no Mundo
afastar as margens dos sentidos
olhar para a Terra e dizer: - é este
o meu destino.
Com uma mão cheia de pensamentos se fabricam
as casas das idades humanas.
Com outra mão cheia de sentimentos
se põe em cada lado o lado mais vivo
de uma vida.
Respiramos por intervalos
entre os desejos desalinhados das nossas luzes
mais solitárias & mais íntimas.
E, quando os dias se afastam
há um canto absoluto abandonado em cada rosto
e no lado mais fechado do nosso corpo
deus pergunta-nos o seu lugar.
( José Alberto Mar.in, A Primeira Imagem, Ed. Sol XXI. Lisboa.1998)
25.11.16
Série: Msg a Garcia.
"I don’t
know how to be silent when my heart is speaking."
( Eu não sei ficar em
silêncio quando o meu coração está a falar)23.11.16
22.11.16
eixos & volantes
pobres seixos ambulantes
aos ziguezagues tantos tontos
perantre as luzes ke não enxergam
mas, lá no fundo de si próprios
há uma vela acordada assistindo
insistindo
aos desalmados ventos ke inventam
onde respiram, circulam & carambolam.
(Set. 2010)
30.10.16
19.10.16
A Poesia
Entre o alimento vermelho da carne sorumbática
uma veia de ouro única. Poesia.
É preciso encarnar o corpo anónimo
saber estar atento
para quando o excesso do ouro
cega as flores á superfície.
Aliciadas pelo perfume as mãos impacientes
recolhem sob a cegueira o brilho primeiro
e expõem á vida a escura transparência de uma voz
transbordada pelas imensuráveis dimensões evocativas
o corpo o mundo os universos
e os restos de poeira sobre a epiderme das coisas.
( in, " O Triângulo de Ouro , Ed. Justiça e Paz, 1988)
Prémio Revelação de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores-
1997.
29.8.16
1.8.16
A Bula
~
É com muito gosto que coloco como introdução , um link de - A Bula -, secção do jornal on-line "Correio do Porto" (http://www.correiodoporto.pt/) dirigido por Paulo Moreira Lopes, onde participo com 6 poemas e um texto-poético, a convite deste.
Os poemas têm uma bela ilustração da minha colega de artes Fernanda Santos.
~ Obrigado Paulo M. Lopes e equipe do Correio do Porto ~
31.7.16
por uma unha negra
Foi um tempo obscuro, escuro, mesmo negro. Atravessei-o
com a juventude espalhada pela idade e todos os mundos que podia a encherem-me
a alma até às marcas afloradas na pele. Por vezes, pensava que enlouquecia e
então abrigava-me nas casas do silêncio á espera de escutar o fio tremeluzente
da minha voz mais íntima. Outras vezes, saía pelo mundo fora, á procura de mais
dias & mais noites umas a seguir ás outras como primaveras que se devoram
com muitas flores vivas a saltarem pela boca, pelos olhos, pelo corpo inteiro e
esburacado. Conheci gente, pessoas, corpos habitados por alguém, outros nem por
isso, cheguei a conhecer os mortos que continuam por aí, de um lado para o
outro, como imagens atrapalhadas adiarem sei lá o quê. Também, confesso,
cheguei a ser tocado por alguns seres humanos que me deram minúsculas estrelas
duradoiras, muitas vezes sem eu dar por isso. Ainda hoje as guardo, como pedras
preciosas, soltas entre os seixos das minhas margens.
Foi um tempo de
procuras, em que passei por pontes & pontes e nem sequer as via nem os rios
dedicados aos seus mares, nem os lugares de um lado e do outro, por onde
gastava o meu destino possuído pela dourada cegueira da juventude e por todos
os copos de veneno que encontrava. Vi alguns amigos caírem para o interior de
uma luz que nunca mais os largou, foram assim sozinhos para longe e nuncanunca
mais.
Após muitas
paisagens, comecei a ver que tudo à minha volta eram imagens que se soltavam de
dentro de mim, onde eu não era chamado para o caso, nem propriamente ninguém,
mas no fim de contas todos estávamos lá: pessoas, animais, plantas, pedras,
mundo, vida e todos os universos conhecidos e por conhecer.
Comecei a olhar mais
a luz, a luz claramente acesa, a primeira que vem de dentro das pessoas e das
coisas e descobri um centro que não é centro nenhum, apenas me desloco, despido e nu, de centro em centro, no mapa circular da minha idade.
Sempre, com 1 deus
presente em tudo e o amor íntimo e distante pelo que passa por mim.
(2006)
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