30.11.15
16.11.15
Estou de Tanga
hoje
levantei-me bem comigo & a vida, comi manga, papaia e cana de açúcar do meu
quintal tudo oferecido com a claridade do sol já esclarecido nas coisas do
mundo.
Também
bebi água logo nas aberturas do dia e é água leve e fresca que vem dos lados do
convento de São Francisco, do séc. XVII, eles lá sabiam as melhores fontes das
coisas essenciais à vida.
Nesta
varanda virada para a Sidády Vêlha, com o mar ao fundo de onde se colhem
imagens & imagens sem fim e um barulho de ondas fortemente contra as rochas
negras da praia, onde todos os dias me banho ao fim da tarde até ver o círculo
solar cheio de cores a partir para outros lugares.Acabei agora de regar as minhas plantas, saudar as flores que me ajudam tacitamente a ser feliz, tocar ao de leve as folhas da palmeira aqui ao lado, são pequenos gestos aparentemente distraídos entre seres que são irmãos.
A
minha amiga borboleta, que me visitou logo no 1º dia, volta todos os santos
dias, enquanto estou a acordar-me nestas pequenas tarefas. Um dia destes, veio
poisar na minha mão, mas só ao fim do coração da manga bem chupada, é que
sorveu com tal suavidade a ultima gota que me deixou derrotado por uns longos
instantes.
Ah!
eu e a minha amiga borboleta, duas pétalas brancas, uma de cada lado, onde
pontuam vários círculos negros salpicados
à toa, falámos abertamente dentro dos nossos silêncios amadurecidos,
depois foi vadiar pela mata a fora
partilhar alegria e liberdade com outros, remando agora as suas muitas
asas frágeis ao sabor das curvas da aragem e, pronto.
Votei
ajustar a tanga à cintura (um dia destes tenho que arranjar uma tanga a sério
de pano de terra, logo se vê)
incendiei 1 cigarro, pernas desleixadamente sobre a varanda azul e costas
contra o mundo.
Cabo Verde. Ilha de Santiago.
Sidády Vêlha - 2008
12.11.15
( Aliete )
Aliete foi menina algures. Falou e eu escutei e depois fizemos amor com os dois corpos ali. Lembro os seus olhos de índia distantes e negros a pele de veludo a chamar-me o tesão na lentidão de cada mão. Adormecemos tombados já o sol acendia os lençóis. Deixei-lhe o ás de copas que encontrei pelo caminho à espera do nosso destino. Ela deixou o meu coração mais dourado.
27.10.15
11.10.15
OLHANDO PARA O MONTE CARA
Os ramos das palmeiras ao sabor da leve brisa
e os sons frescos encaminham-me para o mar
onde vejo um pensativo rosto de pedra.
Feliz escurece, o olhar à procura
onde uma das luas se deita
e então eu sou, a sombra pousada
nessa luz alheada.
( Cabo Verde. Mindelo)
17.9.15
Estremece a estrela que vive
à
escuridão & nos 2 olhos cintila
o véu do instante, a aparência maior
do que é superfície e aí se afoga
na multidão dos dias há tanta vida mecânica
o véu do instante, a aparência maior
do que é superfície e aí se afoga
na multidão dos dias há tanta vida mecânica
Vejo
nos gestos o silêncio amparado
pelo silêncio que aspiro
o lugar onde qualquer semente pensa
sonhando com tudo
pois nada do que é fruto
acontece sozinho.
pelo silêncio que aspiro
o lugar onde qualquer semente pensa
sonhando com tudo
pois nada do que é fruto
acontece sozinho.
Set. - 2009
28.8.15
Atravessado pelo zen
algo realmente aconteceu e eu fiquei perplexo. várias vezes, o ar se tornou mais leve e aí as palavras eram sombras estranhas mesmo, quando o silêncio pesava inventava à sorte outros sons: kaziar, ooom, latuuda, maçala, tarugui,....etc.
no próprio acto da busca retornava ao silêncio vivo. onde as mãos lembravam somente algo que se eleva.
e o ar, ao atravessar as gaiolas, soprava risos criativos. A bem dizer eu só estava ali, para aprender a estar
...distante mas aceso, ele procura o seu silêncio vazio. depois de todos os
sons que já conhece, depois do eco desses mesmos sons, depois de qualquer
imagem de som, ele busca um silêncio que nunca aconteceu.
tudo à superfície é ruído e tumulto. insatisfeito, incompleto, ele mergulha para dentro. foge de uma parte de si, para encontrar outra, onde se veja mais real e vivo.
tudo à superfície é ruído e tumulto. insatisfeito, incompleto, ele mergulha para dentro. foge de uma parte de si, para encontrar outra, onde se veja mais real e vivo.
adiante, se lembra que a intuição é a única voz que pode ser escutada, depois do silêncio pleno instalado, ali onde nenhum sinal será referência de qualquer outro
17.7.15
o novelo da paisagem perdura
no lugar que está a cair.
13.6.15
14.5.15
OLHANDO PARA O MONTE CARA
Os ramos das palmeiras ao sabor da leve brisa
e os sons frescos encaminham-me para o mar
onde vejo um pensativo rosto de pedra.
Feliz escurece, o olhar à procura
onde uma das luas se deita
e então eu sou, a sombra pousada
nessa luz alheada.
10.5.15
Género Metáfora
A gente vai sabendo as coisas para aprender a saber outras coisas e depois esquecer.
Amparamo-nos nisto e naquilo ao sabor dos gostos e desgostos que a vida nos dá, ao deixarmos bater o coração contra o peito do mundo.
Alguém passeia-se algures por caminhos e paisagens, onde há pedras pelo chão e acontece-lhe curvar-se de repente, por algo que o chama sem dar por isso e há um diamante entre as mãos, o olhar turva-se pelo brilho demasiado que o sol lhe oferece no mesmo instante e depois?
Há quem veja logo um diamante , há quem não dê conta do vislumbre que lhe aconteceu e continue a sua vida apegado aos seus hábitos, atirando o pequeno seixo para as águas de 1 rio que desliza por ali no seu ocaso indiferente a tudo isto.
Os hábitos escravizam-nos, tornam-nos cegos, todos os dias acontecem coisas assim, parecem banais porque são diárias mas não o são, não.
Amparamo-nos nisto e naquilo ao sabor dos gostos e desgostos que a vida nos dá, ao deixarmos bater o coração contra o peito do mundo.
Alguém passeia-se algures por caminhos e paisagens, onde há pedras pelo chão e acontece-lhe curvar-se de repente, por algo que o chama sem dar por isso e há um diamante entre as mãos, o olhar turva-se pelo brilho demasiado que o sol lhe oferece no mesmo instante e depois?
Há quem veja logo um diamante , há quem não dê conta do vislumbre que lhe aconteceu e continue a sua vida apegado aos seus hábitos, atirando o pequeno seixo para as águas de 1 rio que desliza por ali no seu ocaso indiferente a tudo isto.
Os hábitos escravizam-nos, tornam-nos cegos, todos os dias acontecem coisas assim, parecem banais porque são diárias mas não o são, não.
( J.A.M.)
9.4.15
Ponta d’Areia
À minha volta, o
povo espraia-se finalmente no seu sábado.
As crianças vivem à
solta por aqui, onde o mar deslaça dia-e-noite as suas ondas e elas, as
crianças, dão cambalhotas e correm chapinhando a água dócil, entre pequenos
saltos de quem está mesmo felizmente feliz. Há gazelas morenas, umas a seguir
às outras, é difícil acompanhar com a devida atenção tantos ritmos ondulantes e
belos, sob este sol de deus.
Passa alguém com uma
caixa transparente pelo braço e leva ovos de codorniz, camarão cozido, umas
comidas que outros comerão, com certeza.
Olhando para trás,
vejo 2 candeeiros públicos ainda acesos a despontarem entre os verdes das
árvores sossegadas e claramente alheadas do assunto. É de lá – dessas bandas,
que chega até aqui aquela música popular, sempre a tocar as esferas do coração.
Muitas pessoas cantam-nas em grupos e alegram-se simplesmente assim.
1 papagaio caiu,
tombou mesmo agora a meus pés e reparo que é feito de plástico, que já foi saco
de super-mercado + uns pauzinhos de coqueiro aliados e ainda mais agora, o
menino já o ergueu no ar e aquela coisinha frágil como Tudo, dá curvas sozinho
com a cauda louca sem tino esburacando o
espaço, rodopia veloz e depois,,, cai outra vez no chão sólido do mundo e a
criança continua a ser criança a brincar e já é muito, tomara eu.
A menina do bar,
mini-saia de ganga boa perna, camiseta desabotoada, bandeja prateada na mão
esquerda, já aviou mais umas cervejas Sol*a uns jovens que estão prá-li num
forrobodó evidente e regressa ao balcão, esvoaçando um olhar geral pelas mesas
dos seus clientes.
Um bandozinho de
pardais passa à frente do meu olhar a rasarem o grande areal, com cadeiras
& mesas azuis, vermelhas, brancas e cinzentas
e
desaparecem numa
curva uníssona do tempo, o que é feito
deles? pensei, enquanto uma outra parte de mim ainda se regala a fazer
jogos infindáveis com as cores do cenário.
Lá adiante, lá mesmo ao fundo, uma
tira horizontal de água mais cintilante no brilho, faz-me lembrar que amanhã
irei a St.º António de
Alcântara, por onde um touro passeia a sua
estrela de cinco pontas na testa carimbada.
* marca de cerveja brasileira.
Brasil. Estado do Maranhão - 2007
27.3.15
Já não me lembro se era uma luz exterior ou de dentro de mim
Já não me lembro se era
uma luz exterior ou de dentro de mim, mas tudo estava incandescente de uma
forma natural e o Mundo tinha um
amplo sentido exato em todas as coisas.
A certa altura, olhei-me de longe e com o passar do tempo aprendi a esquecer-me de mim.
A certa altura, olhei-me de longe e com o passar do tempo aprendi a esquecer-me de mim.
No entanto, sou cada vez
mais
esse vaso de luzonde a luz me ensina.
18.2.15
17.2.15
REENCONTRO
às vezes, de um modo inesperado, levanta-se um lençol qualquer
da memória e aparece-nos um lugar com luz e alguém lá dentro, como se tudo
acontecesse de novo.
Aconteceu-me hoje, com algo que foi a primeira vez há dois anos,
num local deste planeta agora distante, estava eu a olhar um pôr-do-sol e a
pensar na redondez do mundo e ao mesmo tempo, na sua vastidão sem medida e
todas as circunferências e espirais de tudo isto estavam a levar-me para longe.
Entretanto, alguém apareceu por ali, com os pés descalços e
apenas o manso som surdo de uma presença e eu demorei a desviar o olhar.(Estava
por lá, de onde é difícil, os regressos repentinos. Tinha que deslocar-me até
ao centro, voltar ao núcleo aceso do que eu julgo ser eu, e depois repetir-me
nos gestos, por aí…).
Mas, quando já estava em mim, deparei-me com alguém muito
sereno, distante até, com o olhar atirado ao deus-dará e pensei como há seres
humanos a sentirem as coisas mais simples e essenciais da vida. E no entanto,
são silenciosos ao largo dos seus horizontes, não são notícia nas T.V.s deste
mundo ruidoso demais, nem escurecem os dias dos outros.
Depois, acho que trocámos meia-dúzia de palavras, nem tanto, com
os 2 pares de olhos em pontes abertas entre si.
Despedimo-nos como dois bons amigos, e cada um foi para o seu
mundo continuar a cumprir o seu destino.
2-Out-2007
7.10.14
É preciso escoar a coisa
O
sino do relógio dá 6 badaladas bem compassadas ao ritmo do calor hoje abafado,
será que vai chover?
Passam
mulheres e mulherzinhas agrupadas, com as bundas arrebitadas todas janotas em
direção à igreja já apinhada de crentes para a missa domingueira. Espreito
discretamente e parece-me haver ali um fervor amornecido, uma entrega
naturalmente física à devoção, neste caso católica, mas a fé lá no fundo terá
algum nº de porta?
No
jardim, um casalinho namora espreguiçadamente num outro banco de cimento que já
não tem cor. Ela deitada sobre o colo ali à mão de semear e ele com as mãos
dedilhadas no corpo da paixão. No chão quente do dia as suas sombras estremecem
quase sem darmos por isso, evolam-se no ar em formas de carne & paixão e
até encantam as flores sonolentas à volta.
Volto
a dar 1 longo passeio pelo Plateau sem deixar de passar pelo mercado. E volto
ao lugar. A meu lado está alguém com ar de quem já não espera nada e também não
se rala com isso. Talvez esteja em plena divagação do seu ser, talvez seja o
seu modo de estar, talvez a luz do seu olhar esteja toda estancada no pequeno
sol de dentro, mas o que é que eu terei a ver com isto?
Passam
mais meia-dúzia de moços todos coloridos, todos alegres, entretidos com eles
próprios, em direção aos finais da missa. Ouço o barulho de uma moto bastante
na estrada ao lado, e leva atrás um indígena de patins a deslizar por ali como
gente grande, lá vai ele a espalhar o seu imenso sorriso branco pela cidade
adiante, adiante que é sempre cedo para se ser feliz.
12.9.14
18.7.14
Sentimentos Ilhados
O céu cheio de
manchas cinzentas umas mais outras menos escuras sobre um fundo que se
pressente azul. O Monte Cara pousado na sua lonjura pensativa e sempre tão
presente na alma de cada mindelense. O aroma nostálgico do Ser de uma ilha com
as raízes mergulhadas no oceano Atlântico, os sons de uma morna abrindo a noite
como quem pede licença para entrar, mas já se instalou suave e inteira abrindo
os braços a quem quiser estar, a menina de camisa encarnada e mini-saia-azul
abertamente com as coxas de ébano demoradamente nuas e brilhantes até um
determinado ponto inexacto, os 2 amigos calados & unidos a uma garrafa de
grogue, a criança ainda de colo de camisa cor-de-rosa e 4 totós verde-alface no
cabelo encarapinhado a chupar uma manga pela boca adentro e uma gota docemente
a cair-lhe pelo queixo até à mão naturalmente aberta da mãe absorta aos sons do
cantor, unindo-nos a todos num só lugar e depois lá fora os ruídos dos ilhéus
que vão e vêem dos seus destinos circulares, e ali fora na estrada alguém vai
sentado de lado sobre uma bicicleta que desliza sorrateiramente pelas azáguas*
a fora sem darmos por isso
(Texto de J.A.M., inédito.Cabo
Verde.Mindelo.2005)
17.7.14
bilhete aceso
1º
....colher
dos teus olhos a voz que me chama sei lá para onde eu olhe o teu corpo está nu
e eu vejo-me despedido pela natureza e já não é a carne, nem os cabelos, nem a
púbis, é outro o espanto que me afronta, talvez volte aos teus olhos e ao fundo
dessa luz irei a caminho de quem me cativa assim, sem mais nenhuma palavra
embalo a noite que me leva...e já nada tem haver contigo.. é outra a chama que
me
2º
...regressa..debruça-te
sobre os teus primeiros sonhos enquanto eras criança era a água metafórica a
respirar para cima, o teu corpo aberto ao sol e às perguntas que amadureciam
com as folhas das árvores, verdes, verdes eram as emoções impressas dentro das
noites que acordavas, a infância é sempre tão vasta e desprendida, não era?..
3º
.. no
entanto, ainda há os dias que virão, as velas acesas dentro dos corações
animados para cima dos sonhos e estes como gritos acordados a chamarem o corpo
para o equilíbrio das vozes inspiradas e tudo o que realmente é desconhecido
como um desenho esboçado à felicidade do Homem - quanto tardas?
..e do animal às asas nos símbolos ocidentais da brancura, as imagens nos tempos que correm já ultrapassam as visões dos homens de génio, ainda espero desesperado uma espécie de justiça entre os homens, porque é que a ganância nunca mais sabe encontrar a sua morte?..
..e do animal às asas nos símbolos ocidentais da brancura, as imagens nos tempos que correm já ultrapassam as visões dos homens de génio, ainda espero desesperado uma espécie de justiça entre os homens, porque é que a ganância nunca mais sabe encontrar a sua morte?..
- 25-Out.- 2009 -
4.7.14
10.6.14
Visão
São 5 H. da manhã e
por aqui é noite fechada
e um nó de silêncio ampara a visão
um astro ancorado nos olhos
diz "não"
a este Mundo medonho
das europas no estertor da doença
mais funda: a do espírito
que está a secar, sem
sem mais nada a dizer.
Não me venham com mais imagens
das glórias que se apagam
sobre os corações de pedra(s)
já sem vida.
Todos os Impérios desaparecem
em cada gesto hediondo, todos
os dias são assim-assim,
sem vocês, já darem por disso.
E a História, não está : Viva
nos livros, nos museus, por aí..
bem guardada em baús de cimento dourado
A História, quando está, prolonga-se
nos actos de quem sente
o dever & o direito
de lhe dar : outras Novas Luzes.
Estais a morrer, aos poucos
muitos de vocês já morreram, mas ainda
não o sabeis
é que, a questão, a verdadeira Questão é que
os nossos filhos talvez não tenham tempo
de resgatar tantas mortes erguidas como glórias.
A juventude ofusca-se ( vocês lembram-se?)
com as 1ªs luzes,
e não têm tempo para o tempo
que irão ter mais tarde.
Só Vocês, OH! Sr.s deste antigo & carcomido
lugar do Mundo
só alguns de vocês ainda
poderão reparar nas brechas
do Novo Sol, que já chegou.
Estejam atentos, pois o Tumulto já começou.
Não é tarde nem é cedo,
mas, nenhum mal se compadece
com tanta vã loucura, e
há 1 ponto nesta viajem
em que o mal se desmorona
e tudo já não poderá ter regresso
algum
8.6.14
2.6.14
18.4.14
17.3.14
Grupo Dourado ( da Série-Exposição: "O Ouro Breve das Imagens")
( meia dúzia de palavras )
Meia dúzia de palavras
podem iluminar uma alma que esteja atravessar a ponte entre a escuridão e as
riquezas da luz.
Por vezes, 1 alento bem dito e bem escutado, basta. Como uma brisa não impede uma abelha de colher o seu pólen, antes lhe alivia o peso depois para o voo.
Por vezes, 1 alento bem dito e bem escutado, basta. Como uma brisa não impede uma abelha de colher o seu pólen, antes lhe alivia o peso depois para o voo.
15.3.14
1.3.14
MESTRES DA IGNORÂNCIA
Há rostos que tornam as coisas mais simples.
São como pedras vivas
mergulhadas a prumo
no sábio esquecimento
das suas formas
onde a sós
os olhos dizem
o ouro breve
das imagens
28.2.14
Silêncio Inssureto
O
silêncio serpenteia-se nas ondas do ar a boca da noite
abre
as flores do coração curva os sons que tem sempre à
mão
e o tempo habita-nos mais ao sabermos nos olhos
as
sombras que se despedem das árvore onde os pássaros
acolhem
os primeiros tons do dia sob o lençol verde às
antas
da manhã pelas cinco e tal ou quase assim começam
a
sinfonar uma visão acesa para quem esmorece ainda é
cedo
ainda há o segredo de haver um mundo contudo sagrado.
21.2.14
14.1.14
A Gente Vai Sabendo As Coisas Para Depois Esquecer
Amparamo-nos nisto e naquilo ao sabor dos gostos e desgostos que a vida nos dá, ao batermos o coração contra o peito do mundo.
Alguém passeia-se algures por caminhos e paisagens, onde há pedras pelo chão e acontece-lhe curvar-se de repente, por algo que o chama sem dar por isso e há um diamante entre as mãos, o olhar turva-se pelo brilho demasiado que o sol lhe oferece no mesmo instante e depois?
Há quem veja logo um diamante, há quem não dê conta do vislumbre que lhe aconteceu e continue a sua vida apegado aos seus hábitos, atirando o pequeno seixo para as águas de 1 rio que desliza por ali no seu ocaso indiferente a tudo isto.
Os hábitos escravizam-nos, tornam-nos cegos, todos os dias acontecem coisas assim, parecem banais porque são diárias mas não o são, não.
3.1.14
23.12.13
11.11.13
(homenagem)
E
ela estava deitada, absorta no seu sonho de ser mulher para as minhas mãos e eu
sentia-a a crescer nos ritmos da respiração, e de um lado e do outro, ambos
éramos mais próximos, como se houvesse uma indeterminada luz pelo meio, que
tínhamos de possuir precisamente ao mesmo tempo.
Tudo
ilusão. E, no entanto não era. Eu estava ali, ela também, éramos dois corpos
com as portas escancaradas de todo. A aragem das mãos esvoaçando sobre a pele
de veludo, era o que sobrava do silêncio de chumbo, onde os nossos corpos
jaziam. Havia entre nós, um nó inteiramente aceso por dentro, onde as línguas
mais aprumadas já não dizem palavras. Os gestos criavam outros mundos, onde só
nós cabíamos, onde só nós éramos quase perfeitos espera de o sermos.
16.7.13
já não me lembro
Já não me lembro se era
uma luz exterior ou de dentro de mim, mas tudo estava incandescente de uma
forma natural e o Mundo tinha um
amplo sentido exato em todas as coisas.
A certa altura, olhei-me de longe e com o passar do tempo aprendi a esquecer-me de mim.
A certa altura, olhei-me de longe e com o passar do tempo aprendi a esquecer-me de mim.
No entanto, sou cada vez
mais
esse vaso de luzonde a luz me ensina.
2.Julho.2009
10.7.13
EXPOSIÇÃO DE PINTURA & DESENHO. Galeria QuadraSoltas,Rua Miguel Bombarda, 529, Porto. 13 Julho a 17 Agosto.
24.6.13
OLHANDO PARA O MONTE CARA
Os
ramos das palmeiras ao sabor da leve brisa
e os sons frescos encaminham-me para o mar
onde vejo um pensativo rosto de pedra.
e os sons frescos encaminham-me para o mar
onde vejo um pensativo rosto de pedra.
Feliz escureço, o olhar à procura
onde uma das luas se deita
e então eu sou, a sombra pousada
dessa luz alheada.
( Cabo Verde. Mindelo )
13.6.13
A Lei e a Liberdade
Não entendo essa ausência de rigor
dissipando a morte
no fundo insípido dos dias.
Seja o que for que haja pelo menos uma vez
um olhar grandioso
sobre o grandioso mundo
que uma mão se liberte libertando a imagem
e seja pássaro, ideia ou nuvem
ou apenas
um íntimo segredo abraçado à vida.
4
Cai sobre um rosto toda a luz de um dia.
E o rosto é um templo de máscaras
com a idade do mundo.
Nenhuma memória ou esquecimento separa o desejo
dessa luz primeira
que por dentro transforma os olhos
e é para estes que nos voltamos conquistados
sabendo que das máscaras inventadas
todas as sombras nos cativam
todas as sombras nos desmentem.
6.
Há lugares onde os silêncios são
outras palavras
mais perto dos simples segredos
do mundo. São lugares como rostos
suspensos por uma leveza nos olhares
e unidos ao sangue universal das vozes
distraidamente esquecidos no fim dos dicionários
por um talento feito de procura e êxtase.
José Alberto Mar, As Mãos e as Margens, Porto: Limiar, 1991, p.17, 38, 40
(Publicado no blogue Tulisses)
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