28.2.20
19.2.20
16.2.20
~ 7º pedaço de mais um diário perdido ~
Desenho. Autor: J. A. M. - Anos 80 |
O agora, estanca, parte-se, abre-se como um fruto a seu tempo, para que o tempo seja outro e haja uma viagem à-volta.
Regressarei.
Entretanto: vivi com tribos e tribos, muitos nomes e culturas, deixei-me atravessar por N mundos diferentes, vi o geral e o particular nos pormenores e em nenhum lugar fui estrangeiro.
- Há em nós algo de tudo.
( África. Senegal.2019)
13.2.20
retrospetivas
Pintura: J. A. M. |
1
Por vezes, alguém põe 1 dedo na ferida.
Quero dizer - alguém acorda a sombra geral
dos seus nomes
e os nomes mergulham nos ritmos do sangue
e logo as mãos crescem para os lugares
e os lugares crescem com elas
e depois, fica tudo mais Alto.
Há quem passe, olhe de lado e continue a sua
vida.
Outros há que passam e se detêm
por um pormenor mais chamativo.
2
Claro que todos os lados, todos os nomes
são pretextos. E os lugares também.
Nascemos e morremos por uma graça indomável
perdida no tempo. Andamos às voltas disto tudo
enquanto por dentro acordam & adormecem
as sementes povoadas pelos estranhos frutos
de uma sede sem fim.
3
Vozes e vozes que cantam a Vida e
o exemplo de milhares de sóis
mesmo sabendo-se que para outros olhares
há um abismo memorial nas cabeças
uma outra idade outra boca menos cercada
pelos dons dos dias na transformação dos corpos.
- J. A. M. in, “A Primeira Imagem”, Ed. Sol XXI,
Lisboa, 1998 -
10.2.20
4.2.20
Comunicación general del site Arteinformada (España) 4-02-2020.
2.2.20
cem título(s)
Trabalho-visual. Autor: J. A. M. |
Sei como os universos estão cheios de estrelas
de ouro
breve nas suas viagens
e um
coração de ouro nunca tem preço
(eu sei)
como o teu sol também é o meu
também sei
que por onde caminhas
é o
(mesmo) lado só teu
do lado
que também é o meu.
Mindelo. Ilha de São Vicente. Cabo Verde. 11-12-2019
25.1.20
22.1.20
~ 6º pedaço de mais um diário perdido ~
da Ciência legalizada dos Quadrados. Obra de: J. A. M. |
Como se se tratasse de um curioso olho sem
alguma função à vista desarmada, ou o eventual início de uma espiral galáctica
ou qualquer outro inopinável círculo vulgar, como se houvesse algo
que pudesse ser vulgar nesta Vida...
Nestas vãs deambulações, encontro paredes
pedras real+mente duras & a minha picareta é sempre tão frágil tão frágeis
estas mãos sementes de asas, mas às vezes como que por acaso
surgem horizontes desamparados, e dou por mim
noutra linha do tempo, isto é, re/paro que o desamparo é apenas meu e digamos
assim, para finalizar por repentina preguiça este desabafo, creio bem que há
coisinhas inverbais. Como se a língua, se enrolasse para dentro em onda repentinamente
rebelde e ficasse ofuscada perante um inesperado diamante em visita, vindo
sabe-se lá de onde? Cada vez que o vislumbro fico tão deslumbrado que,,,isto é,
apago-me e demoro acender-me.
- Conhece as ciências
do fogo? Desse lamento do seu ser profundo, esse queixume pleno de liberdade, que
o convida a morrer-se e a procurar-se de novo?
(1) “(…) o mais conhecido
romance do escritor russo Ivan
Goncharov, publicado pela primeira vez em 1859.(…) Oblomov é um jovem e generoso
nobre incapaz de tomar decisões importantes ou empreender quaisquer ações
significativa(…)” - in, Wikipédia -
(…)
J.A.M.
Data:?
Rascunho Nº 59
19.1.20
MORABEZA (*)
+ uma vez aconteceram-me as estrelas
a descerem sobre algo que não sei em mim
mas sei que são os meus olhos
que as chamaram sem eu dar portal
pois o que sinto é sempre maior
daquilo que sou:
Gaiola aberta à luz.
Felizmente 1 dia, deixei voar toda a minha passarada
e hoje, eles lá de longe sei lá de onde
não esqueceram o meu gesto
que afinal não foi só meu.
Mindelo (Ilha de São Vicente. Cabo Verde)18-12-2019.
* Significa «amabilidade; afabilidade» [Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora].
O Dicionário Eletrônico Houaiss também regista morabeza e diz que este substantivo feminino é um regionalismo de Cabo Verde (ilha Brava), tratando-se de «qualidade ou característica de quem é amável, atencioso, delicado; afabilidade, gentileza», a exemplo de «m[orabeza] nas relações interpessoais».
Nota: Poema dedicado ao pintor Alex da Silva , falecido a 30-12-2019, Mindelo, Cabo Verde; Gedicht opgedragen aan de schilder Alex da Silva, die stierf op 30-12-2019, Mindelo (Cape Green).
18.1.20
~ 5º pedaço de mais um diário perdido ~
Obra visual. J. A.M. |
(…) aconteceu-me algures, num país distante, sem tempos nem espaços uma luz 1ª, e sem dar tempo ao tempo muitas luzes explodiram em uníssono e só não caí ali redondo talvez por um acaso que julgo agora ter sido fortuito.
Era a simples beleza de
um areal prateado sem fim, ao lado o mar evidentemente, e eu ou alguém na
altura por mim (dado que cada um de nós é sempre muitos), passeava sem qualquer
destino entre os despojos das ondas à frente dos olhos e o soletrar dos seus
sons quando se fingiam enfim de mortas. Deambulava por ali ciente da
íntima felicidade que vivia sem dar por
tal e a incerta altura, o sol que me acompanhava desde o início desbotou-se
pareceu retirar-se e eu senti-me sozinho sem
e foi então, regressando
aos milagres da luz (pois hoje sei que tudo é Luz), que
olhei mui convictamente para o céu no lugar onde o sol se tinha ausentado
e pedi convictamente que voltasse para a companhia que me
faltava. Repentinamente surgiu invadindo-me de calor, das raízes dos cabelos
até às plantas dos pés e … fiquei repentinamente surpreendido pelo meu próprio
espanto!
e foi a partir deste
momento que nunca mais duvidei de Deus. Um deus, muito longe de todas as cruéis
religiões que andam por aí a fazerem dos homens escravos.
Data = ?
Rascunho nº 58
16.1.20
13.1.20
Mundos Quânticos
Trabalho-Visual baseado no Experimento Científico da “ Dupla Fenda” ( partícula e onda), realizado por Thomas Young. 100X100 cm. Autor: J.
A. M. ( 2017)
~~~
|
12.1.20
~ 4º pedaço de mais um diário perdido ~
Trabalho visual. J. A. M. |
Olho-te
agora de longe. O teu rosto enaltece a luz que ainda cai entre os muitos ramos
das enormes árvores à-volta e ao mesmo tempo é uma luz que se procura saída de
dentro de ti. Com um sorriso, ao de leve apenas, como 1 pássaro suave que já
passou. Entre ti & o momento, entre ti e a tua discreta doação ao que no
fundo já sabes ser, reparei agora nesse momento fugaz entre o marulhar dos
peixes na água e os teus pés à-beira descalços e acesos no meio da fogueira que
por ora quero imaginar.
Por
detrás de ti havia plantas e flores despidas ao sol com aromas em brandas
chamas, havia borboletas amarillas lúcidas e loucas sem dono agrupadas às
voltas, e foi então que eu vi que eras uma pequena deusa ali descida, sem
testemunhas, e prometi voltar sem o saber.
( Rascunho Nº 38)
9.1.20
8.1.20
(Enxerto do livro inédito “Diário de 3 Gatos”)
Cartaz: J. A. M. |
(…) Então hoje ensinei os meus discípulos a plantar
1 carvalho (1). No novo quintal, que aluguei à Junta de Freguesia aqui da
zona, vá lá não foram alarves no negócio até não pareciam políticos (depois,
dá-nos umas flores para a festa cá da Terra. – Está bem!).
Não chamei as crianças (2) nem
lhes dei secas de aulas teóricas & essas outras tretas que por aí andam nos
ensinos oficiais deste ofuscado país, peguei na pequena haste da futura árvore, construí
um buraco a condizer e eles aconteceram ali a olhar para a circunstância.
Depois fui ao poço com um cântaro e despejei a água que julguei necessária à
firmeza da terra abraçada às raízes do novo hospede. Olhei para esta obra na
companhia de 4 olhos debruçados, atentos, até (julguei) admirados e pensativos,
quem o haveria de dizer? tratando-se de gatos.
Confirmado a facto em si, in loco,
1 dia destes haverá um pouco + de oxigénio para o Planeta, bem-precisa! há por
aí, pelo Mundo a fora, pessoal a fazer o mesmo, graças a Deus! nem tudo está
perdido, penso às vezes em momentos de um inesperado fervor & uma boa dose
de esperança.
Enquanto agora os meninos,
refastelados na almofada de flores exóticas, de onde várias cores se
desprendem, olham para mim como se eu fosse um ser estranho (…)
Francamente...
J.A.M.
(2018 ? - Rascunho Nº 17 )
(1) A
escolha da futura árvore, foi-me fácil. No geral, vivo em Portugal. “A
maioria das florestas autóctones do continente de Portugal (as que existiam
antes da destruição provocada pelas actividades de alguns humanos) eram carvalhais. Daí a
razão de existirem tantas terras com o nome de Carvalho(a), Carvalhal(ais),
Carvalhosa, Carvalhedo(a), Carvalheiro(a), Carvalhinho(a), Carvalhido, e mais
especificamente Cercal e Cerqueira que são arvoredos de Carvalhos-Cerquinhos (Quercus faginea subsp. broteroi). O seu epíteto
subespecífico é dedicado ao grande botânico português Félix de Avelar Brotero
(1744-1828), autor da Flora Lusitanica e, mais tarde, da Phitographia Lusitaniae.” ( tradução livre).
Em
celta significa quer + kuez " árvore nobre ".
5.1.20
( notícia do dia )
Na verdade, apesar de estar sentado numa cadeira neste
momento, está a “andar” a uma velocidade infernal.”
(P.S. utilize o seu cinto de segurança, + conveniente).
Cartaz. J. A. M. |
pplwqre: https://pplware.sapo.pt/ciencia/hoje-a-terra-atinge-a-sua-velocidade-maxima-110-700-km-h/
~ Encontros ao Deus-Dará ~
Trabalho dos Anos/ 80 . J. A. M. |
primeiro foi uma sensação a veludo nas mãos, a carne à flor da pele era macia de um modo tão suave e a pedir só mansidão e elas, as mãos, transcorriam bêbedas com todos os seus 10 dedos nas polpas sensíveis cada vez eram mais e eu lá no fundo, no final da sensação, deixava-me navegar com toda a preguiça esboçada do mundo, por este mar de novidades que aquele corpo me emprestava no silêncio ofegante da noite.
E ela estava deitada, enlevada no seu sonho de ser mulher para as minhas mãos e
eu sentia-a a crescer nos ritmos da respiração, e de um lado e do outro, ambos
éramos mais próximos, como se houvesse uma indeterminada luz pelo meio, que
tínhamos de possuir precisamente ao mesmo tempo.
Tudo ilusão. E, no entanto, não era. Eu estava ali, ela também, éramos 2 corpos com as portas escancaradas ao Mundo. A aragem das mãos esvoaçando sobre a pele de veludo, era o que sobrava do silêncio de chumbo, onde os nossos corpos jaziam. Havia entre nós, um nó inteiramente aceso por dentro, onde as línguas mais aprumadas já não dizem palavras. Os gestos criavam outros mundos, onde só nós cabíamos, onde só nós éramos perfeitos espera de o sermos.
Tudo ilusão. E, no entanto, não era. Eu estava ali, ela também, éramos 2 corpos com as portas escancaradas ao Mundo. A aragem das mãos esvoaçando sobre a pele de veludo, era o que sobrava do silêncio de chumbo, onde os nossos corpos jaziam. Havia entre nós, um nó inteiramente aceso por dentro, onde as línguas mais aprumadas já não dizem palavras. Os gestos criavam outros mundos, onde só nós cabíamos, onde só nós éramos perfeitos espera de o sermos.
José Alberto Mar. Brasil.
(in, " Gazeta de Poesia Inédita" 4-Jan-2020:
https://gazetadepoesiainedita.blogs.sapo.pt/jose-alberto-mar-encontros-ao-158263
~.~.~.~.~.~.~.~.~
~.~.~.~.~.~.~.~.~
Dakh Daughters - Love Must Die.: https://youtu.be/-OQUpq66LnU
3.1.20
2.1.20
~ 3º pedaço de mais um diário perdido ~
Série: pequenas sabedorias. Autor: J. A. M. |
Depois de viajar por muitos universos, as asas descem
mais cegas
mais frágeis
apenas dois olhos na luz possível.
Por aqui, neste mundo, à minha volta: 2 universos, apenas: o Universo do
Amor e o Universo do Medo. Cada um com inúmeras portas e janelas e nomes
encobertos e descobertos por onde se entra e sai e se volta a entrar e a sair. Quase eternamente. O círculo ou a espiral, a sobrevivência do macaco nas ilustrações da luz ou a
luz derramada em forma de cruz. Tudo inscrito, tudo escrito em todos os lados,
dentro das cabeças, na imensa água do interior do corpo, nas paredes levantadas, por
fora & por dentro, nas alegrias e na dor.
Talvez
a propósito, à dias, numa repentina surpresa com o seu quê de inopinada
iluminação, apercebi-me que a morte não acontece só aos outros. Eu também vou
morrer?
após N
deambulações entre vários registos de quem pensa que pensa e tudo neste regaço tem
1 tom incómodo e em vão, claro que não cheguei a lado algum, digamos Maior.
Mas, confesso, fiquei abalado. Eu já “sabia isto”, mas um outro de mim também
me disse que não era bem “isto” o que eu sabia. Era algo mais ao longe, uma
qualquer coisa esfumada entre os “ trabalhos e os dias ” (1) e o simples medo de tal,
digamos assim, efetiva constatação.
Regressei pois aos universos dos Amores e dos Medos. Lembrei-me das inúmeras cabeças metafóricas e mortas dos
jardins públicos do meu país (2) e coloquei a minha de lado, por simples resguardo.
De coração aberto revi o que sinto ter vivido ao longo da vida e encontrei
ilhas, memórias, abreviações, pedaços, momentos onde houve algo maior, outros
assim-assim e ainda outros, nem-por-isso.
Tenho
esta idade, varia todos os dias, 18, 25, 52, 68, 1000, 10.000 e todo o presente à minha frente. Vou
começar agora a cumprir realmente o meu destino.
(1) Poema épico de Hesíodo;
(2) representação evidente da sobrevalorização ocidental do "mundo da Razão ". E, por este caminho veja-se o "estado das coisas".
NOTA pessoal: tenho a ligeira impressão, que a maioria das pessoas, vivem o dia-à-dia como se fossem "eternas", isto é, não pensam - de vez em quando - naturalmente, que 1 dia irão morrer. Como o povo diz: "esta Vida são 2 dias". Talvez, algumas vezes 3.
Um estudo +/- recente, declarou que neste mundo, Um Milhão de pessoas deita-se e acorda morto.
NOTA pessoal: tenho a ligeira impressão, que a maioria das pessoas, vivem o dia-à-dia como se fossem "eternas", isto é, não pensam - de vez em quando - naturalmente, que 1 dia irão morrer. Como o povo diz: "esta Vida são 2 dias". Talvez, algumas vezes 3.
Um estudo +/- recente, declarou que neste mundo, Um Milhão de pessoas deita-se e acorda morto.
(data=?)
29.12.19
ainda: Cabo Verde
27.12.19
تحية بسيطة لشعوب العالم العربي ~ singela homenagem aos Povos do mundo Árabe.
Pintura: J. A. M. |
KHALED - EL ARBI (Sou árabe) com Tradução: https://www.youtube.com/watch?v=Yr-C4P8rkIQ&list=RDYr-C4P8rkIQ&start_radio=1
26.12.19
24.12.19
~ 2º pedaço de mais um diário perdido ~
Djeu ou o Ilhéu dos Pássaros. Mindelo. Cabo Verde. Foto: J. A. M. |
Alguém
disse já não recordo, pois foi num campo de batalha e o ribombar das bombas e
dos seus ecos na altura, faziam-nos surdos. A outros, faziam-nos cegos. A outros ainda, faziam-nos mortos.
Mas
a frase em questão, no meio daquele inferno encantou-me o lugar e por momentos
caí num silêncio sem tempo, que me trouxe a casa de meus pais, longe muito
longe, onde havia um jardim.
E
a frase era assim: não corras atrás das borboletas, cuida antes das tuas
flores que elas virão até ti (1).
Ainda
hoje, passados séculos, por vezes em dias ou noites em que tudo parece estranhamente
desolador, me acontecem as imagens bem nítidas que esta frase levanta à frente do meu olhar.
E
então, algo em mim se transforma e tudo à minha volta também. E, um sorriso leve
e doce aflora por dentro.
(1) frase atribuída, a D. Elhers, em tradução livre.
(raskunho
Nº 7)
Dez-2019
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
TABERNA À BEIRA-MAR
Uma luzinha distante
E um farol cuspindo luz
Na cara negra da noite
Tudo é salgado e saudoso
Ventos com ondas às costas
Fazem tremer a taberna
Que é um navio ancorado.
Amor intenso e brutal
Entre navalhas abertas
E o desleixo
De uma rameira entre os braços.
Andam no ar desesperos
Em densos rolos de fumo.
Garrafas, copos, garrafas...
- Ai! A sede do marinheiro…
Tatuagens picando a pele
Gritam a dor e a bravura
Das aventuras nos portos
Gente de todas as raças,
Gente sem pátria e sem nome
- Apenas gente do mar
Com voz de sal e de vento
E barcos nos olhos líquidos.
Entram o Tédio e a Saudade
Mordendo velhos cachimbos…
Entram e saem depois
Levando, aos tombos, um bêbedo.
Baralhos, mesas e bancos
Garrafas, copos, garrafas
E a cara do taberneiro
Instigam a velhas revoltas
E tudo cheio de vícios,
E tudo cheio de sono
E tudo cheio de mar!
Aguinaldo Fonseca.
( Mindelo, 22 de Setembro de 1922 - Lisboa, 24 de Janeiro de 2014)
Subscrever:
Mensagens (Atom)