José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

8.4.25

PAISAGENS ABERTAS

Foto trabalhada. Autor: J. A. M.

 

Estamos numa viagem aparentemente  longa, “ um homem com pressa é um homem morto “ , eis um ditado destas pessoas apaziguadas entre si deambulando pelo deserto (1) nos seus ritmos naturalmente certos por aqui há tempo para tudo pois tudo é tudo no natural  silêncio cheio de ecos no céu amplo e espaçoso nos horizontes eternamente demorados no presente o tal tempo que foi expulso dos dias e das noites daquelas bandas ocidentais por onde desandam  tantos desalmados inocentes & os seus senhores mais desalmados todos  a correrem sozinhos cada um com a sua meta e o descalabro dos seus desígnios impostos e aceites como únicos.

 

 – Mas, quem os convenceu de que sozinhos vão a algum lado?

 

 

(1)   Deserto do Sáara. الصحراء الكبرى


* https://youtu.be/eetjwcRph-w?si=AUYL1wjpPpR1ZyqX


(J. A. M. )

7.4.25

“Diário de 3 Gatos”

INSTALAÇÃO ARTÍSTICA. Ourique.Santana da Serra. Autor e Foto: J. A. M.

 (folha Nº 13)

(…) Então, hoje ensinei os meus discípulos a plantar 1 carvalho (1 e 2). No novo quintal, que aluguei à Junta de Freguesia aqui da zona, vá lá não foram alarves no negócio até não pareciam políticos (depois, dá-nos umas flores para a festa cá da Terra.  Está bem!).

Não chamei as crianças nem lhes dei secas de aulas teóricas e essas outras tretas que por aí andam nos ensinos oficiais deste ofuscado e bem~dito país, peguei na pequena haste da futura árvoreconstruí um buraco a condizer e eles aconteceram ali a olhar para a circunstância. Depois, fui ao poço com um cântaro e despejei a água que julguei necessária à firmeza da terra abraçada às raízes do novo hospede. Olhei para esta obra na companhia de 4 olhos debruçados, atentos, até vislumbrei como admirados e pensativos, quem o haveria de dizer, tratando-se de gatos.

Confirmado a facto em si, in loco, um dia destes haverá um pouco mais de oxigénio para o Planeta, que bem-precisa! há por aí, pelo Mundo a fora, pessoal a fazer o mesmo, graças a Deus! nem tudo está perdido, penso às vezes em momentos de um inesperado fervor e uma boa dose de subitânea esperança.

Enquanto agora os meninos, refastelados na almofada de flores exóticas, de onde várias cores se desprendem, olham para mim como se eu fosse um ser estranho (…)

 

Francamente... 

 

 

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(1 e 2) A escolha da futura árvore, aconteceu-me facilmente.  No geral, vivo em Portugal.  “A maioria das florestas autóctones do continente de Portugal eram carvalhais. Daí a razão de existirem tantas terras com o nome de Carvalho(a), Carvalhal(ais), Carvalhosa, Carvalhedo(a), Carvalheiro(a), Carvalhinho(a), Carvalhido, e mais especificamente Cercal e Cerqueira que são arvoredos de Carvalhos-Cerquinhos (Quercus faginea subsp. broteroi)." (tradução livre)

Flora Lusitanica é um livro de Félix de Avelar Brotero, com descrições sobre a flora portuguesa, escrito em latim. Obra, publicada em 1804. Tratou-se da primeira obra acerca da flora portuguesa sendo descritas 1885 espécies, muitas delas desconhecidas até então pela ciência, tendo também sido a 1ª que  formulou  uma nomenclatura da  botânica portuguesa.

Nota:. Para os Celtas, especialmente para os druidas tratava-se de uma árvore “sagrada” e há muito a dizer acerca deste assunto, mas por hoje  fico por aqui.

 


( in, Livro inédito do autor:J. A. M.)

4.4.25

OLHANDO PARA O MONTE CARA

MONTE CARA. Mindelo. Cabo Verde. Foto: J. A. M.

 

Os ramos das palmeiras ao sabor da leve brisa
e os sons frescos encaminham-me para o mar
onde vejo um pensativo rosto de pedra.

Feliz escureço o olhar à procura
da lua, esse vaso de luz
onde uma das luas se deita
e então eu sou, a sombra pousada
dessa luz alheada.



P.S. Inesperadamente acorda-me o eco da frase:
Que o céu nos caia sobre a cabeça!


( J. A. M. , São Vicente. Mindelo. Cabo Verde)


 

 

3.4.25

MERCADO DE SUCUPIRA

 

Camionete/Restaurante. Mercado de Sucupira. Foto: J. A. M.


     6 horas e tal, as mãos e as moscas e às vezes uma delas está a poisar AGORA…Zás!…apanhei-te…  e depois olho, olho e não vejo nada

     e então, depois de uma noitada em que atravessei vários mundos na Praia (1), já estou no interior de uma antiga camioneta amarela torrada pelo sol transformada em restaurante. Depois de ter aviado uma catxupa(2) num prato de lata redOndo mesmo, sentado numa mesa à porta da dita a colher imagens da gente que vende coisas, que compra algumas dessas coisas e das pessoas que passam de um lado para o outro abrindo naturalmente o ar que as ampara.
    No geral “a coisa está preta”. Depois, levanta-se nas cores das roupas. Dá-me a impressão, ainda sujeita a posterior confirmação, que o vermelho é o eleito. Impõe-se só por si, a seguir há os amarelos e os verdes em N tons. O verde-alface é bem considerado por aqui. O branco, obviamente.
     Uma jovem mulher expõe com 1 só braço suspenso exatamente uma garrafa grande de água gelada e espera alguém que a leve. Tem uma bunda maravilhosa e sei lá porque é que olhei para este caso. Alguém transporta carne de um animal já muito morto numa bacia de plástico cor-de-rosa em cima da cabeça, mas o que eu vejo com estes 2 olhos que a terra há de comer, é uma chusma de moscas tresloucadas com o manjar. Irão pesar as moscas também aquando do negócio ou serão o brinde, com certeza.
Lá ao longe o céu está assim-assim-escurecido, sei lá o que vai acontecer por aqui nunca se sabe e já transpiro bastante, ponho-me nu, da cintura até à cabeça exponho o peito a alma, tudo.
      Passa mesmo à frente do meu nariz uma menina toda sirigaita, vai retocando os cabelos com uma mão distraída e a treinar o gingar das ancas que ainda se estão a abrir às sementes que um dia virão, e lá vai ela muito compenetrada no seu papel de ser gente grande também, à espera de ser amada quando acontecer e será para breve, vê-se. Ali vai um gajo todo inclinado para o rádio aos berros na mão esquerda junto ao ouvido do mesmo lado e é música que não tenho tempo de saber, mas com aquele ar tão feliz é boa de certeza.
     Ainda
 
as eternas mangas, as bananas ao lado juntas ao quilo, maçarocas de milho tenro, galinhas aos saltos, compotas, bolsas de coco e outros objetos decorativos feitos de conchas e dádivas do mar, cestos de folhas de tamareira, sapatos sapatilhas e chinelos para todos os gostos, mandioca, queijos da ilha de Maio, ervas medicinais, garrafas de manecom (3), licores, Tudo… e a evidente e dura realidade da sobrevivência. São as mulheres, sempre rodeadas de bandos de filhos espalhados em brincadeiras por ali, que erguem toda esta trabalheira. Cumprem-na devotadas e depois, ao fim do dia no silêncio pesado da noite instalada, desenlaçam-se, encostam ao de leve a cabeça a uma esperança qualquer que nunca vislumbrei e ficam assim desimportadas engolidas pela escuridão, até que o sono as recolha.
     O papel dos homens por estas bandas, parece-me que é atirarem-se a elas esporradicamente e depois bazam logo na primeira curva do tempo d´encontro às luzinhas do grogu (4) ou desenrascam mais um poiso temporário algures numa outra ilha deste arco verde, por onde vão cumprindo os seus ancestrais ofícios de marinheiros vagabundos.
 

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 [1]   Cidade da Praia, capital de Cabo Verde.

[2]   Prato típico da gastronomia de Cabo Verde confecionado à base de milho, feijão, carne e/ou peixe.

[3]   Vinho produzido nas terras vulcânicas da Ilha do Fogo.

[4]   Aguardente feita a partir da cana do açúcar (crioulo do Sotavento).


( in, O OURO BREVE DIAS, @jose.alberto.mar-2021)


2.4.25

outras portas

 https://www.instagram.com/p/DH6mM9UsxGb/


P.S. Postagem do link, após uma certa reflexão baseada no 
"Politics and the English Language".1946 ( George Orwell).

 

31.3.25

postais

Foto: J. A. M. ~ ALCÂNTARA. MARANHÃO. BR.


 Meu amigo Pedro ( Raul Seixas):


 @Dr. zé kalunga 

28.3.25

CONVITE



 CENTRO NACIONAL DE CULTURA:

 

                                                    HORÁRIO:

Segunda a sexta feira – 9,30h.-12.00h. e  14.30 h.- 17.00 h.
Sábado – 14.30h. - 17.30h.
Domingo e feriados – encerrado

O Sopro

PINTURA " SOPRO". J. A. M.

 

Já não me recordo se era uma luz exterior 
ou vinda de dentro de mim, mas
tudo estava incandescente
de uma forma natural e o Mundo
tinha um amplo sentido exato
em todas as coisas.
 
A certa altura, olhei-me de longe
e com o passar dos anos aprendi
a esquecer-me de mim.
 
No entanto, sou cada vez mais
esse vaso de luz
onde a luz me ensina.


( J. A. M.)

 

20.3.25

) eu falo para ti (

Pintura. J. A. M.

 

      Alguém passeia-se algures por caminhos e paisagens onde há pedras pelo chão e acontece-lhe curvar-se de repente, por algo que o chama sem dar-bem-por-isso e há um diamante entre as suas mãos, o olhar turva-se pelo brilho que o sol, atento a tudo onde há vida, lhe oferece no mesmo instante e depois há quem veja logo ali um presente, ou há quem não dê conta do vislumbre que lhe aconteceu e continue apegado aos seus hábitos, atirando o pequeno seixo para as águas de 1 rio que desliza por perto no seu ocaso indiferente a tudo isto.
      Os hábitos escravizam, tornam-nos cegos.
     Todos os dias acontecem coisas assim, parecem banais porque são diárias, mas não o são, não.

      Nada é banal nesta vida que nos está acontecendo.

     E por aqui os diamantes não têm quaisquer preços, são iluminadas fontes metafóricas, criadas pela infindável sede que habita os profundos lençóis da Terra. E das pessoas, também.


  - Quanto demora uma idade a ser luz?


 

 (J. A. M. , Ourique. Alentejo. Portugal)

 

16.3.25

Ecos de Cabo Verde

Pintura. J. A. M.

     

               (dá tchuva na tchón áoje, foi milagre d`Deus(1)

     O céu cheio de manchas acinzentadas umas mais outras menos escuras sobre um fundo que se pressente azul. O “Monte Cara” sempre pousado na sua lonjura pensativa e sempre tão presente no caroço da alma de cada mindelense. Os aromas nostálgicos do ser de uma ilha com as raízes mergulhadas nas águas demoradas do eternamente mágico oceano(2), os sons de uma morna abrindo a noite como quem pede licença para entrar mas já se instalou suave e inteira, abrindo os braços a quem quiser estar, a menina de camisa encarnada e mini-saia-abertamenteazul com as duas coxas de ébano polido demoradamente nuas e brilhantes até um determinado ponto inexato, os 2 amigos calados & unidos a uma garrafa de grogue, a criança ainda de colo de camisa cor-de-rosa  e 4 totós verde-alface  no cabelo encarapinhado a chupar uma manga pela boca adentro e uma gota a cair-lhe doucement pelo queixo até à mão naturalmente aberta da mãe absorta aos sons do Paulino Vieira(3), unindo-nos a todos num só abraço  unânime e depois lá fora vislumbro através do feixe de luz da porta com uma nesga aberta, os ruídos dos ilhéus que vão e vêm dos seus destinos circulares e ali na estrada, agora mesmo, alguém vai sentado ao contrário , numa bicicleta que desliza sorrateiramente pelas azáguas(4) afora, mas que arte será aquela?

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[1]   “hoje choveu, foi milagre” (crioulo do Barlavento).
[2]   Atlântico.
[3]   Cantor cabo-verdiano (1956).
[4]   Poças de água da chuva (crioulo do Barlavento).



( J. A. M. ~ Cabo Verde)


9.3.25

eu vim de longe

Imagem trabalhada. J. A. M.

eu vim de longe, de muito longe
do pó das estrelas, do vazio dos astros
do silêncio infinito
da longínqua aliança da Fonte.

eu vim de longe
da cegueira das pedras, do fogo
colorido das flores
das cavernas escuras
onde desenhei o queixume da ausência
desse misterioso Ser abismado em mim.



(J. A. M. - 09/03/25)


7.3.25

Mauro, o poeta da Ilha

Foto trabalhada. J. A. M.

     

     Arrastava mais um pé do que outro e eu reparei no seu ar luminoso abrir airosamente a noite. Ia a passar perto do meu lugar e eu senti logo que podíamos trocar algumas luzes. Convidei-o a sentar-se ali, por baixo da grande árvore noturna. Vi o seu olhar inclinado para o meu copo ainda cheio de Brahma (1) e perguntei-lhe o que bebia. Não tardou a abrirem-se as nossas portas, uma de cada vez e cada uma no seu lugar mais claro e mais íntimo.
      Era um poeta e eu disse-lhe que também era um aprendiz de poeta. Ele lembrou-se deste pormenor mais tarde, durante uma noite em que amizade, alegria e o mistério do “bumba-meuboi”(2)se entrelaçaram com ambos no fim iscados (3de todo, tombámos e acordámos na Praia da Guia e ao mesmo tempo num silêncio cúmplice fomos mergulhar no mar para acender o dia.
      Ele arrastava uma perna quando andava, mas falava sem arrastar nenhuma das suas asas. Aí, ele crescia em voos cheios de altura e distância e, às vezes, descia um pouco, para recitar um poema seu, que parecia ler no meu rosto. Eram sempre longos, feitos de simplicidade e lonjura e eu ficava mais pequeno a escutá-lo e a olhá-lo com todo o orgulho do mundo, pois já éramos amigos.
 
     Hoje, imagino-o a levantar a noite da sua ilha, livre como sempre, feliz e a cantar alegremente toda a escuridão que há na sua vida de poeta.

   

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[1]   Marca de cerveja brasileira.

[1]  Existem várias versões acerca desta lenda nordestina. A história mais comum refere a escrava Catirina ou Catarina, grávida, que pede ao marido Chico ou Pai Francisco para comer língua de boi. O escravo atende ao desejo da esposa, matando o boi de estimação do patrão. O crime de Pai Francisco é descoberto e por isso ele é perseguido pelos vaqueiros da fazenda. Quando preso, são infligidos excruciantes castigos e, para não morrer, Pai Francisco, com a ajuda de pagés, ressuscitam o animal. Todos, então, cantam e dançam comemorando o milagre. Esta lenda tornou-se motivo das maiores celebrações culturais e festivas em todo o Estado do Maranhão. O “bumba-meuboi” maranhense recebeu do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) o título de Patrimônio Cultural do Brasil.

[1]   Embriagados, bêbedos (dialeto maranhense).




(J. A. M. em São Luís do Maranhão. BRASIL)


5.3.25

Encontro

Pintura. J. A. M.

 

Foi um olhar, foi um abraço, foi um beijo
demorados gestos que se prolongam até hoje.
 
A leveza e o peso da vida quando
inesperadamente a memória se desenlaça
e surge no fundo de nós um halo colorido
que nos levanta.


( J. A. M.)

28.2.25

Ecos do Brasil

Pintura. J. A. M.

    


    Estou na Ponta d’Areia([1]). Deitado ou sentado à sombra, aí uns 30 e tal graus. O guarda-sol é cor de mangas maduras e eis à minha frente o mar vivo e aceso. Do céu vários azuis luminosos descem naturalmente sobre tudo o que é vida.
     À minha volta, o povo espraia-se finalmente no seu domingo. As crianças vivem à solta por aqui, onde o mar deslaça dia e noite as suas ondas e elas, as crianças, dão cambalhotas e correm chapinhando a água dócil, entre pequenos sal/tos de quem está mesmo felizmente feliz e quer continuar assim, sem precisar de o querer. Há gazelas morenas, umas a seguir às outras, é difícil acompanhar com a merecida atenção tantos ritmos ondulantes e belos, sob este sol de Deus. Passa uma caipira([2]) com o peso dos anos no rosto grudado pelo sal que vagueia pela aragem e com uma caixa transparente no braço leva ovos de codorniz, camarão cozido, umas comidas que outros irão comprar, com certeza.
     Olhando para trás, vejo 2 candeeiros públicos ainda acesos, o que não me espanta (pois em Portugal também acontecem estes descuidos) a despontarem entre as cabeleiras verdes das árvores sossegadas e claramente alheadas do assunto. É de lá dessas bandas - que chegam até aqui aquelas músicas populares, sempre a tocarem as esferas do coração. Muitas pessoas cantam-nas em grupos e alegram-se simplesmente assim.
     Um papagaio caiu, tombou mesmo agora a meus pés e re/ paro que é feito de plástico, que já foi saco de supermercado + uns pauzinhos de coqueiro aliados, e ainda mais agora, o menino já o ergueu no ar e aquela coisinha frágil como Tudo, dá curvaS sozinho com a cauda louca sem tino e esburaca o espaço, rodopia veloz e depois ,,, cai outra vez no chão aparentemente sólido do mundo e a criança continua a ser criança a brincar e já é muito, tomara eu.
     A menina do bar, mini-saia de ganga boa perna, camiseta vermelha desabotoada, bandeja prateada na mão esquerda, já aviou mais umas garrafas de Sol([3]) a uns jovens que estão pr’ali num forrobodó evidente e regressa ao balcão, esvoaçando um olhar geral pelas mesas dos seus clientes.
     Um bandozinho de sabiás-da-praia passa à frente do meu olhar a rasarem o grande areal, com cadeiras e mesas azuis, vermelhas e brancas e desaparecem numa curva uníssona do tempo, o que é feito deles? pensei, enquanto uma outra parte de mim se regala a misturar as cores do cenário em jogos infindáveis.
     Lá adiante, lá mesmo ao fundo, onde o céu se afunda numa tira horizontal de água mais cintilante no brilho, faz-me lembrar que amanhã irei a Stº António de Alcântara, por onde um touro ([4]) passeia a sua estrela de cinco pontas na testa carimbada, em noites de lua cheia.


(São Luís. Estado do Maranhão. Brasil)


[1]   Praia localizada a cerca de 4 km do centro da cidade de São Luís, muito movimentada principalmente aos fins de semana, pela população local.
[2]   Pessoa humilde do campo, da roça, do interior do Estado.
[3]   Marca de cerveja mexicana, bastante consumida por estas bandas.
[4]   Segundo uma interpretação livre de lendas populares brasileiras, na Ilha dos Lençóis, D. Sebastião mora num palácio de cristal que se ergue no fundo do mar próximo à ilha considerada encantada. Consta que o rei vagueia pela praia, durante a noite, na forma de um touro com uma estrela de ouro (ou de prata), na testa. Se alguém conseguir atingir a estrela e ferir o touro, o seu reino será desencantado e D. Sebastião poderá regressar a Portugal.
- Há quem relacione estas lendas, com a possibilidade do “5º Império”.


( J. A. M.)

 

25.2.25

Foto. J.A. M.

 

Vê-se como a noite transfigura
o olhar
e tudo à volta enaltece
um outro mundo
onde os nossos olhos se inclinam
para dentro
desenhando as formas que chegam
com uma luz alheia, uma luz cheia
de novos horizontes
onde somos os mesmos sendo outros.


( J. A. M.)

21.2.25

Não corras atrás das borboletas...

Foto. J. A. M.

 

Alguém disse já não me recordo, pois foi num campo de batalha e o ribombar das bombas e dos seus ecos na altura, faziam-nos surdos. A outros, faziam-nos cegos. A outros ainda, faziam-nos mortos.
Mas a frase em questão, no meio daquele inferno encantou-me o lugar e por momentos caí num silêncio sem tempo, que me trouxe a casa da minha infância, longe muito longe, onde havia um jardim. E a frase era assim: não corras atrás das borboletas, cuida antes das tuas flores que elas virão até ti *.
 
Ainda hoje, passados séculos, por vezes em dias ou noites em que tudo parece estranhamente desolador, me acontecem as imagens bem nítidas que esta frase levanta à frente do meu olhar.
E então, algo em mim se transforma e tudo à minha volta também.
E, uma flor expectante e incógnita aflora por dentro.


* frase atribuída, a D. Elhers, em tradução livre.


(J.A.M.)

11.2.25

Foto. J. A. M.


Escuta

como o ar brilha em silêncio nas nossas veias lavradas

e os cometas dos sonhos transportam minuciosas luzes

para dentro da nossa escuridão, é um corpo sempre com

um lado esquecido, o ouro, dizes, navega pelo sangue

entra e sai pelos poros e o olhar torna-se o lugar das aparições,

inaugura o tempo que volta escondido sob os primeiros sinais

das madrugadas.


(J. A. M.)




8.2.25

Últimas Notícias

Pintura. AUTO~RETRATO. J. A. M.


O grande Mistério assola
a nossa atual tempestade. Ou seja
quer libertar-nos. 
Para quem (se) encontra.

Duvidar para quê?
se o teu brilho
é fogo ou frio
e danças entre os espelhos dos deuses.



P.S. "a imensa rede de 86 bilhões de neurônios do cérebro humano"
e apenas um coração.

 



( J.A.M.)

 

28.1.25

Caminhos Peregrinos


Pintura  ( J. A. M. )


Os dias acordam as várias faces
da luz.
O poder inexorável do Mundo
vem das raízes
do sol.

Dias absolutos
nos seus fulgores errantes
impelidos para além
de todos os gestos dos mortais.
Todos os tempos da memória
são espasmos próximos à madeira
quando aumenta os anéis
nos troncos das árvores. Todos
os segredos da Terra
são gerados em silêncio
em geométricas formas moleculares.

E o jeito dos olhares...o enredo
toca o centro
e o dia despede-se
para todos os lados
em luzes aliadas com as sombras.

Olhamos, respiramos toda a vida
toda a arte
é transparente. E depois apaga-se
o lugar repentino
que mal se vê
e já não se encontra. 
Nem o caos. Nem a ordem
ou a lembrança.


( J. A. M. - in, A Primeira Imagem.1998)



22.1.25

Os Dias Breves Visões

Pintura. J. A. M.

Enquanto todos os instantes de uma vida desenham a
superfície do rosto e o olhar aprende a ser uma porta
para a eternidade cada dia é uma entrada uma saída e
no fundo do corpo fica um halo de imagens cercadas
pela surpresa calada do Mundo.


( J. A. M.)


18.1.25

Para quem é mendigo à frente do prodígios do Mundo

Pintura. J. A. M. 

De folha em folha os horizontes alongam-se para os olhos de quem 
é mendigo à frente do prodígios do Mundo. Há um nada absoluto em
cada gesto uma idade e um peso de estrela a cair na sua luz até nós.

Olho à volta, agora esquecido de tudo e de súbito vejo-te, como uma
frágil papoila, a deambular pelos seus íntimos sonhos coloridos.
Enquanto a minha voz se perde no meio da luz que me dás.


( J. A. M.)