Imagem transformada: J. A. M. |
Já há muito que terias derrubado os teus verdadeiros opressores se não tolerasses a opressão e não a apoiasses tu próprio.
Será que o teu "libertador" to disse?
textos poéticos e imagens & etc ~ José Alberto Mar ~
Imagem transformada: J. A. M. |
Autor: J. A. M. |
de
manhã, quando as aves ainda parecem sonhos
e já as claridades esvoaçam
abrindo as portas e as janelas
de encontro aos olhos de quem acorda
e os rios de ouro abrem as vozes
à procura dos mastros humanos
onde há gente viajada em nascentes
e a Beleza do mundo é 1 presente simples
e tudo se ampara nos muitos eus
que devagar se unem
enlaçando a infância, o futuro e o agora
de manhã quando algo estala o silêncio
instaurado e já ouço
o cantarolar aceso dos pássaros
Felizmente vivo
mais um dia.
( J.A.M.)
Autor: J. A. M. |
Pintura: J. A. M. |
Pintura: J. A. M. |
Pintura: J. A. M. |
Pintura: J. A. M. |
Palavras,
palavras, por vezes
Palavras,
palavras, por vezes cansado das palavras fico completamente à escuta, vazio por
dentro, parado, virado para fora. Como se o meu corpo fosse uma harpa aberta
aos sons que passam. E então há um outro sol a cobrir as formas do Mundo, o
grandioso coração do Universo começa a bater como um pêndulo maduro, a
água no corpo a murmurar lá no fundo como nos oceanos e a beleza epidérmica das
coisas à volta aparece sem nomes, a vida total continua a transformar-se sem
eira nem beira.
E
então, vejo que nada em mim é o que sei e sinto, nada em mim é apenas uma ilha
a desenhar horizontes de palavras, letras que se juntam para criarem um círculo
um entendimento, nada disto tudo faz sentido, sem a Luz e a vastidão da Terra
com sementes e as flores e as plantas e as árvores e os frutos e as aves e as
pessoas, as pessoas a encherem-nos os dias e as noites.
J.
A. M.
in,
“ O Ouro Breve dos Dias”. 2021.
( Livro
de contos, escritos em Portugal, Brasil e Cabo Verde )
MUNDOS PARALELOS( 105X105 cm). J. A. M. |
Pintura: J. A. M. |
Olho-te agora de longe. O teu
rosto enaltece a luz que cai entre os muitos ramos das enormes árvores à-volta
e ao mesmo tempo é uma luz saída de dentro de ti. Com um sorriso leve igual a 1
pássaro suave que vai passando. Entre ti e este momento, entre ti e a tua discreta
doação ao que no fundo já sentes ser, recordei agora esse instante fugaz entre
o marulhar dos pequenos peixes na água do rio e os teus pés à beira descalços e acesos
no meio da fogueira que agora me apetece imaginar.
Por detrás de ti havia plantas e
flores despidas pelo sol com aromas em brandas chamas, havia
borboletas amarillas(1) lúcidas e loucas sem dono agrupadas em
círculos, e foi então que eu vi que eras uma pequena deusa ali descida, sem
testemunhas, e prometi voltar sem o saber.
(1) amarelas (castelhano)
- Topes de
Collantes, Cuba -
"MostraMuseu". São Paulo. Br. Foto: Maria Eduarda Mota. |
" A TERRA é só Uma." Artista convidado: J. A. M. |
havia uma doença de sombras. Entranhadas no ar, nos
ritmos dos dias, nas pessoas que deambulavam entre estes.
Mas as sombras eram como todas as sombras: germinadas por uma luz. Esta luz era cega, distante, não se via. Apenas alguns a pressentiam. Por dentro, era por
dentro que novas sementes germinavam e quando cresciam o suficiente, toldavam
os olhares. E algumas pessoas começavam a ver novas flores que as outras não viam,
pois havia uma doença de sombras.
Entre a vida e estes dias sonâmbulos havia um
esquecido tempo sem nomes verdadeiros ou com demasiados nomes. Aparências. Muitas notícias em algazarra. Sinais
para as pessoas se ampararem.
Alguns mais desesperados matavam-se. Outros resignavam-se,
á espera. A morte, apesar de sempre presente, disfarçava-se de esquecimento.
Andava-se de um lado para outro, através de distrações perenes. No fundo, ninguém
se via nem via os outros, porque havia uma doença de sombras. No entanto,
alguns vislumbravam o que parecia ser natural. Falavam destes tempos de
mudanças, sem ninguém os escutar. Acomodavam-se num silêncio de ouro que crescia
somente para eles. Aparentemente. Outros ainda gritavam sem ecos. Aparentemente, pois tudo era
um vasto Mundo cada vez mais ligado.
Pintura: J. A. M. |
Foto de azulejos na Póvoa do Varzim ( transformada). J. A. M. |
Pintura: J. A. M. |
Algures em mim uma voz muito distante chamava-me. Não
havia nomes. Não havia palavras. E algo por dentro tinha a ideia de porta
fechada que a qualquer momento se podia abrir.
Pintura: J. A. M. |
todos
temos as mesmas raízes
entrelaçadas
no fundo da Terra
e
do Sol.
( J. A. M.)
Foto: J. A. M. |
Foto: J. A. M. |
à-volta era um lugar que, mal entrámos, se tornou ausente. Talvez houvesse um espaço, um tempo, quatro olhos duas pontes comunicantes sobre algo circular o tampo de mármore da mesa onde as palavras caiam redondas, finitas e havia miríadas de estrelas a rebentarem no desamparo das mãos quando se tocavam. Bailando, bailando os dedos finos de uma alma sensível no fim das hastes, re/parei.
As gaivotas vinham açoitadas pelo mar sem pescadores e abriam lá fora os espaços altos à procura. Eram sombras nos intervalos apanhadas pelos acasos, quando olhava de soslaio pelas vidraças húmidas do café. Enquanto ambos estávamos num fogo adormecido apesar de darmos por ele.
Agora vejo como fui vago nessa travessia. Luz dos teus olhos bebiam a minha sede. E, era uma sede viajada para dentro, ensaiada pelas danças do silêncio. Por onde perscrutava os teus altares aguardando vislumbrar o fino ouro do teu mistério.
(Porto)
- De onde cresce a tua luz?
(Auto-retrato) |
Pintura: J. A. M. |
Pintura: J. A. M. |
Pintura: J. A. M. |
Todos
parecemos ilhas
todos
temos as mesmas raízes
entrelaçadas
no fundo da Terra
e
do Sol.
( J. A. M.)
Foto: J. A. M. -2021 |
Sona Jobarteh está a entrar pelos lados onde as portas são mais negras. Para que as estrelas resplandeçam mais, nesta infindável noite.
Há na vocação das
vozes um halo universal redondo é este planeta onde agora vivemos.
Como no mar: altas
ondas outras nem tanto, a 7ª onda é sempre ouro nos sons alongados e por tal
sortilégio algo em nós se expande mais.
Tenho
evidentemente os pés nus onde elas esmorecem e eu cresço.
Falo do amor. Falo
sempre do amor.
Mergulhei por aqui
em noites de vãs esperanças. Cheguei a morrer: de encantamentos.
Regressei sempre 1
outro que não conhecia. Enquanto peixes translúcidos me trespassavam. E tudo
era a mesma matéria, tudo estava sempre ligado a uma luz que de longe clamava.
Os sons, as raízes dos sons de Sona Jobarteh, aproximavam tal mistério.
Era uma outra
colheita para a alma, oura voz desconhecida cujas cores não chegavam a ter nomes, aqui
neste mundo em que respiramos?
Cheio de tantas
perguntas, regressava á minha cabana onde acendia uma vela. Eu vivia numa ilha,
desconhecida dos mapas.
E tudo se tornava
claro como um anel de sol virado do avesso. Dentro e fora de mim.
( Rascunho Nº2)
Obra de : J. A. M. |
Portugal-21/02/2021
( Rascunho Nº 5)
Série: Pequenas sabedorias.Series: small wisdoms. J.A.M. |
facebook:
https://www.facebook.com/josealberto.mar
Livro de Contos, escritos em
vários locais de Portugal, Brasil e Cabo Verde.
~ ~ ~
Após um interregno de duas décadas, o
autor decidiu publicar o presente livro.
1ª Edição ( Ed. LeiaLivros). São Paulo.
Brasil -2020.
2ª Edição (do autor). Porto.
Portugal-2021.
(Poeta Sofia Moraes)
f.b. :https://www.facebook.com/josealberto.mar
Instagram: https://www.instagram.com/jose.alberto.mar/
" Deixo a Porta Entreaberta " ( 26 Junho ~15 Julho. Porto. Portugal) |
Tríptico às
Imagens Nuas
1.º
Por vezes, alguém põe um dedo na ferida. Quero dizer: alguém acorda a sombra geral dos seus nomes e os nomes mergulham nos ritmos do sangue e logo as mãos crescem para os lugares e os lugares crescem com elas e tudo fica mais Alto. Há quem passe, olhe de lado e continue a sua vida. Outros há que passam e se detêm por um pormenor mais chamativo.
2.º
Claro que todos os lados, todos os nomes são pretextos. E os lugares também. Nascemos e morremos por uma graça indomável perdida no tempo. Andamos às voltas disto tudo enquanto por dentro acordam e adormecem as sementes povoadas pelos estranhos frutos de uma sede sem fim.
3.º
Vozes e imagens que cantam a Vida e o exemplo dos milhares de sóis mesmo sabendo-se que para outros olhares, há um abismo memorial nas cabeças uma outra idade outra boca menos cercada pelos dons dos dias, na transformação dos corpos.
(in, “ A Primeira Imagem “ , J. A.
M. - 1998)