Foto original: Galícia. España.
Imagem: J. A. M.
O outro lado da loucura
Por Roberto Goldkorn
* Carl Gustav Jung, psicólogo suíço
(1875-1961)
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Pessoas
socialmente integradas
até podem
ser loukos varridos
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"(...)Quero falar aqui, no entanto dos milhões de afetados
pelo flagelo da doença mental, que nem de longe se consideram
"doentes". São empresários, executivos, profissionais liberais, donas
de casa, funcionários públicos, enfim são tudo que a sociedade enseja a todos.
Mas eles estão lá, muitas vezes até estimulados por certas culturas ou modismos
a expor suas neuroses e psicoses fazendo estragos à sua volta.
Infelizmente ou felizmente tive a oportunidade de ter
meus caminhos cruzados com vários desses exemplares de "loucos socialmente
integrados". Até pouco tempo atrás não tinha consciência do porquê certas
pessoas me afetavam tanto, inclusive algumas dentro de minha própria família.
Ingenuamente acreditava que o meu problema era com
essa ou aquela pessoa, seja pelos vínculos familiares, profissionais ou
sociais. Mas a evolução do meu pensamento está chegando a um ponto muito
interessante, onde percebo que não são ou não foram as pessoas que me afetaram
(ainda afetam) tanto.
Ao perceber em todo o mundo os estragos que a loucura,
seja ela maquiada de fé, fanatismo, ou ideologia, causa, saquei que a minha
diferença é com esse flagelo, e não com os indivíduos que lhes servem de
"médiuns".
Recentemente vi um episódio acontecer em família, onde
uma onda de destruição sem sentido por pouco não causa uma tragédia. Mas mesmo
sem ter tido desfecho sinistro, já teve um desfecho sinistro.
Ao roubar desses familiares a possibilidade de um
convívio amoroso, e de uma associação para o progresso profissional, a maldita
demência seja ela qual a classificação tenha, é uma praga perniciosa.
Tenho tentado um distanciamento suficiente para
analisar os componentes, origens e possibilidades de tratamento dessas
manifestações de desequilíbrio mental e porque não dizer espiritual.
Não posso dizer que tenho o diagnóstico dessas tantas
"loucuras", e nem de longe atino com uma solução. Mas tenho observado
o que os grandes mestres da mente apuraram ao longo de suas vidas e procuro
somar com as minhas observações.
Uma constatação interessante, é que há um amplo
terreno comum para essas manifestações ( e quase todas podem ser detectadas por
uma observação isenta) a não ser pelos próprias "vítimas".
Por exemplo, essa "doença" os integrados
sociais, leva ao comportamento extremamente EGOCÊNTRICO. Isso significa que
essas pessoas não conseguem pensar ou sentir nada além de suas próprias
emoções, dores, alegrias, e desejos.
Quando vocês estiverem diante de alguém capaz de
disputar quem teve a maior Desgraça, a maior Dor, a pior Doença pode ser que
esteja diante de um desses exemplares. O egocentrismo também os leva a
identificação "coisal".Isso significa que eles
ou elas são capazes de se ofender, de se magoarem profundamente (ou se
engrandecerem) se o seu carro for desvalorizado, ou se a marca do sapato que usam for considerada de reles qualidade.
O egocentrismo exacerbado dessa doença faz com que
vejam como extensões de si mesmo suas posses, ou itens que apenas
momentaneamente estão nas suas vidas.
Outro fator desse egocentrismo doentio, é a
incapacidade total de ouvirem! Duplamente eles não se ouvem - não são capazes
de analisar e extrair significado daquilo que dizem. E também não sabem extrair
significado do que os outros dizem, a não ser que seja uma ratificação absoluta
(sem trocar vírgulas) daquilo que pensam pensar.
Esse mesmo egocentrismo coloca-os em situações
N esquizóides, mas eles não conseguem perceber ou tirar dessa observação uma luz
que indique que o seu rumo se perdeu. Por exemplo, é muito comum observarmos uma
dissociação gritante da Vida do doente com aquilo que ele diz ou pensa. Em geral
a vidinha dessa pessoa - como não poderia deixar de ser - costuma apresentar-se como
uma sucessão de desditas. Caos familiar, caos na saúde, caos na vida
profissional, eteceteras. Para não deixar que essas situações atinjam o âmago da
doença obrigando-os a buscar ajuda, eles lançam mãos de mais recursos
malabarísticos retóricos para resolverem o que os psicólogos chamam de
"dissociação cognitiva" - abismo existente entre o que pensam, dizem e
fazem. "
" Contorcionismo demencial "
" Recentemente ouvi uma dessas pérolas do contorcionismo
demencial: um desses afetados que foi posto fora de casa pela mulher & pelos filhos depois de um longo período em que aprontou barbaridades, no auge de uma
discussão com outra pessoa berrou: "Eu vivo para a minha família!"
Um outro cuja vida é uma sucessão de atos perversos,
chantagens, truculência contra a própria família, manipulação (são loucos, mas
não são burros, ou : são burros até demais), afirmou no clímax de uma discussão que percebeu que não
poderia vencer: "O que todos precisamos é colocar Deus no coração. A
Humanidade precisa de Deus, de perdão, de reconciliação." A principal
característica da "doença" é justamente essa enorme cratera entre o
que se diz e & o que a vida dele apresenta.
A minha reação sempre ruim, sempre de grande
sensibilidade a estas pessoas na verdade é de Revolta contra essa doença
invisível que estraga tantas vidas, que corrompe tantos futuros promissores,
tantos projetos de felicidade.
Mas não sei se a idade, o cansaço..., mas hoje não
fico tão sensível assim à presença desses seres, por que renunciei a qualquer
ilusão de poder combater esse solerte inimigo, esse caruncho que lesa a
Humanidade, que fratura famílias, que estupra sensibilidades e destrói empresas
& empreendimentos.
Para quem ainda não foi afetado, que fiquemos de olho
vivo. Se alguém disser que a marca do seu carro não é lá essas coisas, e você
ficar irado, ou com raiva do "acusador" como se ele tivesse ofendido
a senhora sua progenitora, talvez seja hora de buscar ajuda. Se achar que isso
não é motivo para tanto, aí por favor, não esqueça de que fui eu quem avisei.
* Jung era 1 médico. Teve uma formação como psiquiatra, mas atuou toda a vida toda como
"psicanalista" ( terminilogias... ) , mas como a psicanálise foi uma criação do Freud (?) ele criou a sua própria
Escola e intitulou-a de : “ psicologia analítica”. "