Casa do Sr. Embaixador de S. Tomé e Príncipe. Foto: Cantor Arnaldo |
Algures no Brasil cheguei a estar num Paraíso. E regressei.
Agora encontrei outro Paraíso. Não sei se volto a voltar.
Começo por um dos lados: o mar sem fundo, no compasso di roncu di mar (1) a chegar
claraMente até mim. Depois há coqueiros esguios, altaneiros nas suas tranquilas
danças com a aragem muito ao de leve, afinal quem sopra por lá? E há as
tamarineiras com os fortes braços
erguidos para os céus e os seus frutos tombados doados à espera de quem lá
chegue. Palmeiras com as suas folhas dobradas em devoção às 7 portas que
iniciam as noites. Balançam-se também aos sons do mar, da lua que começa a ser
maior no céu indefinito do meu olhar.
Estou nu, sentado com os pés apoiados na varanda azulzíssima e tomara eu estar assim tão nu por dentro. Agora vou colher uma cana de açúcar aqui do meu quintal e depois talvez vá soprá-la numa flauta vazia por aí adiante
Olhando, escutando, aprendendo a ser mais.
O pássaro que me visita todos os dias merece agora toda a
minha atenção. E ele já está ali, na sua árvore de eleição, misturado com as
flores vivas cor-de-laranjas-acesas, pelo meio da folhagem verde escura porque
efetivamente já é noite e tudo está demasiado claro para mim.
(Sidády Vêlha. Ilha de Santiago. Cabo Verde)
(1) “nos sons compassados das ondas do mar”.(crioulo do Sotavento).
(J. A. M.)
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