23.5.22
Obras em Exposição: “ SMILE & WAVE ”. Porto ( Portugal)
16.5.22
Dentro e Fora tudo é igual
Imagem Digital. J. A. M. |
Sona Jobarteh está a entrar pelos lados onde as portas são mais negras. Para que as estrelas resplandeçam mais, nesta infindável noite.
Há na vocação das vozes um halo universal redondo é este planeta onde agora vivemos.
Como no mar: altas ondas outras nem tanto, a 7ª onda é sempre ouro nos sons alongados e por tal sortilégio algo em nós se expande mais. Tenho agora os pés nus onde elas esmorecem e eu cresço. Falo do amor. Falo sempre do amor.
Entretanto no mar alto e no seu fundo, tudo parece sereno, adormecido, indiferente. Mergulhei por aqui em noites de imprudentes êxtases. Cheguei a morrer: de encantamento. Regressei sempre 1 outro que demorava a reconhecer. Enquanto peixes translúcidos me trespassavam. Enquanto o sal da água resplandecia como minúsculos cometas afogados pelo brilho. E tudo era a mesma matéria, tudo estava sempre ligado a uma luz que de longe clamava.
Os sons, as raízes dos sons de Sona Jobarteh, aproximam tal mistério. É uma outra colheita para a alma, outra voz incógnita cujos sons chegam a ter cores. Pleno de tudo, regresso á minha cabana onde acendo uma vela. Vivo numa ilha, desconhecida pelos mapas.
E tudo se torna claro como um anel de sol virado do avesso. Dentro e fora tudo é igual.
6.5.22
Porto noturno
Jardim de João Chagas ou Jardim da Cordoaria |
Depois, atravessei a escuridão do jardim da Cordoaria, onde revi de soslaio, mas com natural atenção, as estátuas do Juan Muñoz. com aquela parca luz geral a gentinha do nosso hermano ganhava um ar mais severo e bizarro.
Mas porque é que não estavam parados?
(J. A. M.)
- Porto. Portugal. 2007 -
5.5.22
3.5.22
deslizando sobre as águas do Mundo
Maranhão. Br. ( Foto: J. A. M. ) |
Havia
1 marinheiro que tinha um barco.
Havia
1 barco que tinha um marinheiro.
Ambos
não tinham nada, a não ser o mar
e
os horizontes.
Eram
muito felizes naquela cumplicidade silente
com
o marulhar sempre tão presente
que,
quase sempre, parecia ausente.
( J. A. M. )
30.4.22
de passagem
Autor: J. A. M. |
no rosto, ou no olhar ou
nas inesperadas surpresas
que nos acontecem.
Olho á volta como se tudo estivesse
em mim, como realmente está
e sou a árvore, a brisa, as nuvens
eis as quimeras
que logo esqueço para ser 1 outro
que se enlaça à vida
um travo a mais é sempre
bem vindo.
( J. A. M. - 14-04- 2022)
24.4.22
Porque é que cresce a mão para a palavra?
Pintura: J. A. M. |
dentro do sangue nos corpos
há os dias e as noites recolhidas,
submersas até aos dedos
e ainda há o Mundo e as pessoas
os animais, as árvores, a Natureza
e a vastidão da respiração
que vem do coração da vida
seio de idades invadidas por tantos rostos
e há instantes imprecisos em que somos quase
inteiros
no útero de tudo onde as vozes se instalam
mas só às portas soltam as suas âncoras:
as palavras, as sombras que agora vos escrevo.
ao sabor das luzes que giram
na alta nudez sem nome.
20.4.22
"ESCUTA, ZÉ NINGUÉM !" (Wilhelm Reich, 1946)
Imagem transformada: J. A. M. |
Já há muito que terias derrubado os teus verdadeiros opressores se não tolerasses a opressão e não a apoiasses tu próprio.
Será que o teu "libertador" to disse?
10.4.22
Felizmente vivo
Autor: J. A. M. |
de
manhã, quando as aves ainda parecem sonhos
e já as claridades esvoaçam
abrindo as portas e as janelas
de encontro aos olhos de quem acorda
e os rios de ouro abrem as vozes
à procura dos mastros humanos
onde há gente viajada em nascentes
e a Beleza do mundo é 1 presente simples
e tudo se ampara nos muitos eus
que devagar se unem
enlaçando a infância, o futuro e o agora
de manhã quando algo estala o silêncio
instaurado e já ouço
o cantarolar aceso dos pássaros
Felizmente vivo
mais um dia.
( J.A.M.)
5.4.22
3.4.22
esta vida é um sopro
Autor: J. A. M. |
os pássaros
20.3.22
já não recordo, pois foi num campo de batalha ...
Pintura: J. A. M. |
Mas a frase em questão, no meio daquele inferno encantou-me o lugar e por momentos caí num silêncio sem tempo, que me trouxe a casa de meus pais, longe muito longe, onde havia um jardim. E a frase era assim: não corras atrás das borboletas, cuida antes das tuas flores que elas virão até ti (1).
E então, algo em mim se transforma e tudo à minha volta também. E uma flor leve e doce aflora por dentro.
(1) frase atribuída, a D. Elhers, em tradução livre.
18.3.22
Pintura: J. A. M. |
4.3.22
Onda
Pintura: J. A. M. |
1.3.22
Abraço.
Pintura: J. A. M. |
Palavras,
palavras, por vezes
Palavras,
palavras, por vezes cansado das palavras fico completamente à escuta, vazio por
dentro, parado, virado para fora. Como se o meu corpo fosse uma harpa aberta
aos sons que passam. E então há um outro sol a cobrir as formas do Mundo, o
grandioso coração do Universo começa a bater como um pêndulo maduro, a
água no corpo a murmurar lá no fundo como nos oceanos e a beleza epidérmica das
coisas à volta aparece sem nomes, a vida total continua a transformar-se sem
eira nem beira.
E
então, vejo que nada em mim é o que sei e sinto, nada em mim é apenas uma ilha
a desenhar horizontes de palavras, letras que se juntam para criarem um círculo
um entendimento, nada disto tudo faz sentido, sem a Luz e a vastidão da Terra
com sementes e as flores e as plantas e as árvores e os frutos e as aves e as
pessoas, as pessoas a encherem-nos os dias e as noites.
J.
A. M.
in,
“ O Ouro Breve dos Dias”. 2021.
( Livro
de contos, escritos em Portugal, Brasil e Cabo Verde )
25.2.22
(Guerra na Ucrânia). Entre os dois lados, eu apoio a PAZ.
Autor: J. A. M.
24.2.22
15.2.22
~ 18ª folha de 1 diário perdido ~
MUNDOS PARALELOS( 105X105 cm). J. A. M. |
Por vezes, levanta-se um farol. Às vezes, é metáfora outras vezes é mesmo visão ou alucinação. A distância do momento faz um laço entre o que em mim há de vivo e está acordado e o que me trespassa. Fica um resíduo de luz que permanece e aos poucos se esvai.
Nestas margens os nomes são difíceis. Os nomes praticamente não existem. Tornam-se as sombras por onde a minha viagem me acompanha.
Há pontes por estes caminhos. E rios que desaguam para dentro das vozes. Abundantes águas há neste planeta.
Mas só em silêncio vejo o meu rosto multiplicado por 1001 rostos que acabo por saber serem meus.
10.2.22
A Ilha Encarnada
Pintura: J. A. M. |
Olho-te agora de longe. O teu
rosto enaltece a luz que cai entre os muitos ramos das enormes árvores à-volta
e ao mesmo tempo é uma luz saída de dentro de ti. Com um sorriso leve igual a 1
pássaro suave que vai passando. Entre ti e este momento, entre ti e a tua discreta
doação ao que no fundo já sentes ser, recordei agora esse instante fugaz entre
o marulhar dos pequenos peixes na água do rio e os teus pés à beira descalços e acesos
no meio da fogueira que agora me apetece imaginar.
Por detrás de ti havia plantas e
flores despidas pelo sol com aromas em brandas chamas, havia
borboletas amarillas(1) lúcidas e loucas sem dono agrupadas em
círculos, e foi então que eu vi que eras uma pequena deusa ali descida, sem
testemunhas, e prometi voltar sem o saber.
(1) amarelas (castelhano)
- Topes de
Collantes, Cuba -
3.2.22
28.1.22
Os Poderes do Coração
LINK: https://youtu.be/tc4FDU4OIKc
20.1.22
Earth is just One ~ A TERRA é só Uma.
"MostraMuseu". São Paulo. Br. Foto: Maria Eduarda Mota. |
" A TERRA é só Uma." Artista convidado: J. A. M. |
havia uma doença de sombras. Entranhadas no ar, nos
ritmos dos dias, nas pessoas que deambulavam entre estes.
Mas as sombras eram como todas as sombras: germinadas por uma luz. Esta luz era cega, distante, não se via. Apenas alguns a pressentiam. Por dentro, era por
dentro que novas sementes germinavam e quando cresciam o suficiente, toldavam
os olhares. E algumas pessoas começavam a ver novas flores que as outras não viam,
pois havia uma doença de sombras.
Entre a vida e estes dias sonâmbulos havia um
esquecido tempo sem nomes verdadeiros ou com demasiados nomes. Aparências. Muitas notícias em algazarra. Sinais
para as pessoas se ampararem.
Alguns mais desesperados matavam-se. Outros resignavam-se,
á espera. A morte, apesar de sempre presente, disfarçava-se de esquecimento.
Andava-se de um lado para outro, através de distrações perenes. No fundo, ninguém
se via nem via os outros, porque havia uma doença de sombras. No entanto,
alguns vislumbravam o que parecia ser natural. Falavam destes tempos de
mudanças, sem ninguém os escutar. Acomodavam-se num silêncio de ouro que crescia
somente para eles. Aparentemente. Outros ainda gritavam sem ecos. Aparentemente, pois tudo era
um vasto Mundo cada vez mais ligado.
13.1.22
um mar, onde todos os rios se esquecem
Pintura: J. A. M. |
Este, era desconhecido sem barcos nem barqueiros, apenas as duas margens amparavam o meu olhar.
Havia pássaros no ar a deslizarem as sombras sobre as águas que, apenas por isso, se moviam.
Imaginei um mar, onde todos os rios se esquecem.
Imaginei muitas metáforas que já esqueci.
4.1.22
Sei como os universos estão cheios
de ouro breve nas suas viagens
e um coração de ouro nunca tem preço
(eu sei) como o teu sol também é o meu
também sei que por onde caminhas
é o (mesmo) lado só teu
do lado que também é o meu.
1.1.22
27.12.21
Estrelas apagadas
Foto de azulejos na Póvoa do Varzim ( transformada). J. A. M. |
Entretanto as nuvens de um lado para o outro, fragmentariamente orquestradas pelo seu próprio destino, lá iam impavidamente diferentes. Nada se cruzava e tudo estava ligado.
Os barcos continuavam a baloiçar o cais. O mar sempre estivera ali como se fosse eterno. Como um eco longínquo que ainda perdura pelo poder dos olhares de muitas gerações.
E os pescadores aguardavam como quem espera e também não, a hora da partida. Em casa os filhotes mais novatos choramingavam por comidas diferentes e as mães afagavam-lhes os cabelos, com um sorriso esboçado junto ao aconchego do útero.
23.12.21
15.12.21
"Portal"
Pintura: J. A. M. |
Algures em mim uma voz muito distante chamava-me. Não
havia nomes. Não havia palavras. E algo por dentro tinha a ideia de porta
fechada que a qualquer momento se podia abrir.
10.12.21
Todos parecemos ilhas
Pintura: J. A. M. |
todos
temos as mesmas raízes
entrelaçadas
no fundo da Terra
e
do Sol.
( J. A. M.)
3.12.21
Vivemos tempos de União
Foto: J. A. M. |
O silêncio serpenteia-se nas ondas do ar, a boca
da noite abre as flores do coração curva
os sons que tem sempre à mão e o tempo
habita-nos mais ao sabermos nos olhos
as sombras que se despedem das árvores
onde os pássaros acolhem os primeiros
tons do dia sob o lençol verde às tantas
da manhã pelas cinco e tal ou quase
assim começam a sinfonar uma visão
acesa para quem esmorece ainda é cedo
ainda há o segredo de haver um mundo
com tudo sagrado.
28.11.21
会议
Foto: J. A. M. |
à-volta era um lugar que, mal entrámos, se tornou ausente. Talvez houvesse um espaço, um tempo, quatro olhos duas pontes comunicantes sobre algo circular o tampo de mármore da mesa onde as palavras caiam redondas, finitas e havia miríadas de estrelas a rebentarem no desamparo das mãos quando se tocavam. Bailando, bailando os dedos finos de uma alma sensível no fim das hastes, re/parei.
As gaivotas vinham açoitadas pelo mar sem pescadores e abriam lá fora os espaços altos à procura. Eram sombras nos intervalos apanhadas pelos acasos, quando olhava de soslaio pelas vidraças húmidas do café. Enquanto ambos estávamos num fogo adormecido apesar de darmos por ele.
Agora vejo como fui vago nessa travessia. Luz dos teus olhos bebiam a minha sede. E, era uma sede viajada para dentro, ensaiada pelas danças do silêncio. Por onde perscrutava os teus altares aguardando vislumbrar o fino ouro do teu mistério.
(Porto)
13.11.21
- De onde cresce a tua luz?
27.10.21
Outono
com o peso do Outono
castanhas, amarelas, verdes, vermelhas
às vezes
um adeus de sombras a voarem.
Mudas as árvores abraçam o frio.
17.10.21
Não sei se volto a voltar
(Auto-retrato) |
10.10.21
Portas para os dias.
Pintura: J. A. M. |
19.9.21
~ 17ª folha de 1 diário perdido ~
Pintura: J. A. M. |
É necessário deslaçar o emaranhado que em nós nos ergue ao fazê-lo. A dor também nos faz crescer. E, nesta procura para cada 1 o seu caminho. Tudo se inicia e cresce por dentro. Os muros, as fronteiras, as asas e os voos. Só os monstros aparecem por fora. Só há monstros quando existe o medo. Ou, para quem escuta só com um ouvido e depois se esquece de si, levando consigo as sombras da sua idade.
Mas é na alma que fala.
23.8.21
todos parecemos ilhas
Pintura: J. A. M. |
Todos
parecemos ilhas
todos
temos as mesmas raízes
entrelaçadas
no fundo da Terra
e
do Sol.
( J. A. M.)
18.8.21
~ 16ª folha de 1 diário perdido ~
Foto: J. A. M. -2021 |
Sona Jobarteh está a entrar pelos lados onde as portas são mais negras. Para que as estrelas resplandeçam mais, nesta infindável noite.
Há na vocação das
vozes um halo universal redondo é este planeta onde agora vivemos.
Como no mar: altas
ondas outras nem tanto, a 7ª onda é sempre ouro nos sons alongados e por tal
sortilégio algo em nós se expande mais.
Tenho
evidentemente os pés nus onde elas esmorecem e eu cresço.
Falo do amor. Falo
sempre do amor.
Mergulhei por aqui
em noites de vãs esperanças. Cheguei a morrer: de encantamentos.
Regressei sempre 1
outro que não conhecia. Enquanto peixes translúcidos me trespassavam. E tudo
era a mesma matéria, tudo estava sempre ligado a uma luz que de longe clamava.
Os sons, as raízes dos sons de Sona Jobarteh, aproximavam tal mistério.
Era uma outra
colheita para a alma, oura voz desconhecida cujas cores não chegavam a ter nomes, aqui
neste mundo em que respiramos?
Cheio de tantas
perguntas, regressava á minha cabana onde acendia uma vela. Eu vivia numa ilha,
desconhecida dos mapas.
E tudo se tornava
claro como um anel de sol virado do avesso. Dentro e fora de mim.
( Rascunho Nº2)