Os lençóis negros da noite desciam tombavam adormeciam colados uns aos outros, como folhas outonais que se voltam a juntar.
Depois de várias voltas por N ruas obscuras da cidade pareceu-me que era por ali que a festa começava a fervilhar. No passeio de uma rua desamparada, encontrei um banco á minha espera e pedi ali á Sr.ª da rolote uma cerveja bem gelada. Recostei-me, costas com parede e vice-versa, e pus-me a pastar vacarosamente o olhar à volta.
Havia de tudo o que era gente, jovens em grupos soltos e felizmente assim, pessoas solitárias, alguns com ar de quem procura desespiradamente libertarem-se dakilo, outros já mais ancorados nas suas derradeiras sortes, havia casais apaixonados que nem pássaros azurumbados, havia também mulheres de todas as cores e as mais belas prendiam-me o olhar por mais tempo e depois,
desapareciam pelas demasiadas portas dos vários bares de onde se soltavam canções às molhadas e, de quando em vez, tudo aquilo fundia-se no fundo mais fundo de mim próprio e dava-me sede para mais uma cerveja.
Por cima : a Grandiosa escuridão universal, salpicada de estrelas e uma clara sensação de vastidão completamente alheada de tudo.
A incerta altura, uma menina sozinha, por dentro e por fora, aproximou-se de mim, de cerveja na mão e sentou-se a meu lado. Depois continuou calada, ancorada e eu também não de cerveja na mão. Encostou a sua tristeza desarmada ao meu ombro abrigada e eu comecei a cantar. As minhas canções eram peixes criados ali, para o seu mar. Sem darmos por isso, pusemos os olhos nos olhos e começámo-nos a amar. O seu fundo sereno já tinha outro olhar. E uma paixão qualquer desceu naquele lugar.
Claro que o dia nasceu
sem nos avisar.
Claro que o dia nasceu
sem nos avisar.
( Brasil. Fortaleza. 2003 ? )